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Argentina: Cristina cancela viagem por não confiar no vice

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, adiou uma viagem que faria à China por dez dias para evitar que o vice-presidente, Julio Cobos, assuma o cargo em sua ausência. “O vice-presidente não cumpre o papel que a Constituição lhe atribuiu. Decidi postergar essa viagem porque acredito que se os outros não exercem suas funções com responsabilidade, eu, sim, tenho que fazer”, declarou Cristina nesta terça (19) em coletiva de imprensa.

Cobos rompeu com a presidente há 18 meses, quando votou contra o aumento das taxas a exportadores de soja. Gradualmente, o vice passou às fileiras da oposição, da qual atualmente é o presidenciável melhor cotado. Ex-governador de Mendoza pela UCR (União Cívica Radical), a principal legenda de oposição, ele quase foi expulso do partido por ter aderido à chapa de Cristina nas eleições de 2007.

Cobos se defendeu ontem e disse que Cristina não deveria adiar a viagem. “Cada vez que estive no comando do Poder Executivo, no lugar da presidente, não assinei nenhum decreto – com a exceção da homenagem ao falecimento do ex-presidente [Raúl Ricardo] Alfonsín com seu consentimento –, não realizei ações contra as políticas do Poder Executivo e não tomei decisões administrativas de nenhum tipo”.

Banco Central

Caso Cobos assumisse a presidência, poderia convocar sessões extraordinárias do Congresso, atualmente em recesso, para discutir a crise gerada com a tentativa de demissão do presidente do Banco Central, Martín Redrado, e de usar reservas internacionais. "Se é vice-presidente, não pode ser opositor. Uma pessoa não pode estar na arquibancada do Boca e gritar gol do River”, disse Cristina.

O governo decidiu consultar uma comissão bicameral do Congresso sobre o decreto de demissão de Redrado. Cristina pediu a indicação de integrantes para formar a comissão, mas rejeitou a hipótese de interromper o recesso parlamentar. Com isso, o tema só será tratada a partir de março. De qualquer forma, ela ressaltou que a análise legislativa do decreto não tem "caráter vinculante" e o governo poderá rejeitá-la. Redrado se sustenta no cargo com base em uma liminar judicial, que o governo tenta cassar em segunda instância.

A viagem a Pequim aconteceria entre os dias 25 e 28 de janeiro, e, por enquanto, não foram divulgadas novas datas.