Marco Albertin é entrevistado no Blog Literário

Nosso entrevistado é uma das grandes revelações literárias do Nordeste, farto de ótimos escritores de ficção, aliás seguindo a tradição de grandes ficcionistas da região, como José Lins do Rego, Jorge Amado, José Américo de Almeida, Graciliano Ramos e Raquel de Queiroz, entre tantos e tantos e tantos outros, desde o nascimento de uma autêntica Literatura Brasileira, em meados do século XV.

marcos albertin

Poderíamos preencher páginas e mais páginas com nomes de contistas, novelistas e romancistas nordestinos de escol. A exemplo de escritores magníficos, aos quais, aliás, não fica nada a dever, é, porém, um dos tantos talentos injustamente marginalizados do conhecimento do grande público, por razões que só Deus sabe.

Seu estilo é maduro, elaborado, direto e fluente, o de quem realmente entende do riscado. Referimo-nos a Marco Albertim, jornalista de profissão e escritor por inequívoca vocação. Quem lê seus contos, publicados em vários espaços da internet (e aqui no Literário, onde, para nossa satisfação, é colunista fixo há já bom tempo), não entende, como nós não entendemos, a razão dele ainda permanecer inédito. É caso para se duvidar dos critérios de seleção (e do gosto liteno rário, por consequência) dos responsáveis pelas nossas principais editoras. Fica uma indagação no ar: como um talento como este ainda não teve livros publicados, quando se sabe que não há tanta abundâncias (como serias desejável) de bons escritores no País? Quem acompanha o panorama literário brasileiro, por força da profissão ou por paixão pelas letras, sabe disso de sobejo.

Como jornalista, Albertim já trabalhou no Jornal do Commércio e no Diário de Pernambuco, dois dos principais jornais de Recife (e do País). Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. E, no entanto, não tem livro publicado. Por que? Para conhecer um pouco mais da sua criatividade e competência narrativa, recomendamos ao leitor que acesse o site “Garganta da Serpente” (www.gargantadaserpente.com) e comprove que não há nenhum exagero na nossa avaliação deste excelente ficcionista. Se exageramos, foi para menos e não para mais Conheçam-no, pois, um pouco mais.

Literário – Trace um perfil resumido seu, destacando onde e quando nasceu, o que faz (além de literatura) e destaque as obras que já publicou (se já o fez, claro).

Marco Albertim – Gosto de caminhar, sentar numa praça com muitas árvores e aves. Nasci em Goiana, uma cidade com mais de 400 anos, a 70 Km de Recife, com uma história de insurreições porretas. Há 59 anos. Sou repórter cobrindo movimentos sociais e a vida cultural de Pernambuco. Dou assessoria ao vereador Luciano Siqueira, com quem convivo há 39 anos, quando lutávamos contra a ditadura. Enviei livro de contos e um romance a duas editoras, mas não me responderam. Fui publicado em coletânea de contos, por conta de classificação em concurso. A convite, integro mais duas coletâneas: Panorâmica do conto em Pernambuco, lançado na Fliporto; e Recife conta o natal, da Fundação de Cultura do Recife. Recebi menção honrosa por um livro de contos. Enviei-o a duas editoras e não obtive retorno. Devo ter vocação para ser um autor póstumo.

L – Você tem algum livro novo com perspectivas de publicação? Se a resposta for afirmativa, qual? Há alguma previsão para seu lançamento? Se a resposta for negativa, explique a razão de ainda não ter produzido um livro.

MA – Tenho livros de contos e um romance. Mas ainda não fui publicado porque sou um autor desconhecido. Vivo catando concursos literários

L – Há quanto tempo você é colunista do Literário? Está satisfeito com este espaço? O que você entende que deva melhorar? Por que?

MA – Colaboro com o Literário desde a sua criação. Acho-o bom porque se pode conciliar fotografia com texto, porquanto também fotografo.

L – Trace um breve perfil das suas preferências, como, por exemplo, qual o gênero musical que gosta, que livros já leu, quais ainda pretende ler (dos que se lembra), qual seu filme preferido, enfim, do que você gosta (e do que detesta, claro) em termos de artes.

MA – Gosto de ouvir cirandas, cocos de roda, caboclinhos e maracatus. Na minha terra há os Caboclinhos Caetés, de l904. Não consigo evitar uma ou duas lágrimas de emoção quando os vejo fazendo evoluções na rua. Li Dostoiévsky, Balzac, Gorki, Gógol, Tolstoi. Os russos me encantam. Por Machado de Assis tenho paixão telúrica. Não tenho filme preferido, mas quero rever “Ladrão de bicicleta”, de Vittorio de Sica; é como se estivesse lendo um conto de Tchekhov. O que não suporto mesmo é ouvir locutor de rádio FM.

L – Você gosta de teatro? Por que?

MA – Gosto de teatro porque na encenação a palavra é valorizada.

L – Você já esteve no exterior? Onde? Se não esteve, para onde gostaria de viajar e por que?

MA – Nunca viajei para fora. Quero ir para Cuba para fotografar as “chicas” no casario velho de Havana.

L – Você tem predileção por algum gênero literário? Qual? Por que?

MA – Prefiro os contos porque são precisos; são flagrantes de uma objetiva apontando para o povo. A hora e vez de Augusto Matraga é um conto tão preciso quan to uma faca quicé amolada.

L – Qual dos seus amigos vive mais longe? Onde?

MA – Tenho um amigo morando em Fortaleza. Mas só doze horas de viagem nos separam.

L– Qual é, no seu entender, o pior sentimento do mundo? Por que? E qual é o melhor? Por que?

MA – O pior sentimento é o da derrota; o derrotado esconde-se. O mais nutriente é o amor por uma mulher; ajuda a distinguir qualidades nos outros.

L – Se pudesse eleger um único escritor estrangeiro como o melhor de todos os tempos, quem você escolheria? E o brasile iro?

MA – Tchekhov e Machado de Assis.

L – O que você está produzindo atualmente?

MA – Estou escrevendo crítica literária dos livros que são lançados em Recife. Sugestão do chefe…

L – Qual livro, ou quais livros, está lendo no momento?

MA – Estou relendo Conan Doyle – “Um estudo em vermelho”.

L – Fale de alguma pessoa que você considere exemplar. Por que?

MA – Luciano Siqueira me influenciou muito. Passou dos 60. Vez ou outra flagro-o em conversa autobiográfica. Mas é um exemplo de talento porque sabe dar, com as palavras, o necessário peso às coisas e às pessoas.

L – Em quais localidades do País você já esteve e gostaria de voltar? Por que?

MA – Morei em Maceió, Fortaleza e Rio de Janeiro. Fui a São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Salvador. Tenho vontade de tomar uma pinga com tutu à mineira, no mercado público de Belo Horizonte.

L – Qual a sua maior decepção literária? E a maior alegria?

MA – Não tenho decepção literária. A maior alegria foi ter descoberto a beleza na simplicidade de Machado, na tristeza das narrativas de Gorki, de Tchekhov, n’O nariz, de Gógol.

L – O que você acha que deveria ser feito para estimular a leitura no País?

MA – Interpretação dos clássicos, por atores, nas ruas.

L – Você tem algum apelido? Qual? Fica irritado quando o chamam assim?

MA – Nasci meio gordinho. Um tio, irmão da minha mãe, olhou para o berço e disse: “Parece uma albacorinha…” Ainda hoje me chamam de albacora.

L – Fale um pouco dos seus planos imediatos. E quais são os de longo prazo?

MA – Fiz a crítica literária de um livro escrito por um advogado de sindicatos rurais. Há muitos capítulos dos quais se pode pinçar contos, vez que refletem a saga camponesa para se livrar da exploração fundiária. Não tenho planos de longo prazo.

L – Há alguma pergunta que não foi feita e que você gostaria que houvesse sido? Qual?

MA – Prefiro não sugerir perguntas.

L – Por favor, faça suas considerações finais, enviando sua mensagem pessoal aos participantes do Literário.

MA – Vou usar o lugar-comum de quem se evade de perguntas embaraçosas: Feliz ano novo.

Fonte: site do Vereador Luciano Siqueira