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Estamos quebrando o mito do militante padrão, diz Fabiana Costa

Governar o partido pela política de quadros, formar uma nova geração dirigente e garantir uma militância ampla e estável. Com essas bases, o PCdoB vai fazer uma revolução em sua maneira de gerir a militância. Quer investir nos comunistas que ocupam funções estratégicas em variadas frentes de atuação, respeitando suas peculiaridades e, ao mesmo tempo, fazer com que a base esteja em permanente ligação com as direções. “Estamos quebrando o mito do militante padrão”, diz Fabiana Costa, da CNO.

Fabiana Costa

A jovem, eleita no 12º Congresso do PCdoB para ocupar uma das vagas do Comitê Central será uma das responsáveis por essa nova política de quadros. Ela está trabalhando, junto com Walter Sorrentino, na Comissão Nacional de Organização, para implantar o Departamento Nacional de Quadros (DNQ), o que deverá acontecer oficialmente após a reunião do Comitê Central neste fim de semana.

Na bagagem, Bia, como é conhecida, traz a experiência de atuação no movimento juvenil ao longo dos últimos 18 anos. De 1991, quando começou no movimento secundarista no Espírito Santo até sua última passagem pela direção da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União da Juventude Socialista – onde esteve até 2008 –, Bia acumulou conhecimento tanto no âmbito institucional quanto no de mobilização.

Reflexo de um novo momento em que o PCdoB busca valorizar lideranças de frentes estratégicas – como a de mulheres e de juventude – Bia encarna o novo espírito que pauta as ações do novo departamento. “De fato, é um grande desafio participar dessa nova empreitada”. Para Walter Sorrentino, Bia tem todas as condições de coordenar o DNQ, além de estar entusiasmada com a possibilidade. “Espero poder contribuir para essa nova e importante tarefa”, coloca ela.

A tarefa

O trabalho não é simples. Embora seja um partido que cresceu, respeitado nacionalmente e atuante tanto no governo federal quanto nos legislativos e executivos das três esferas públicas, o PCdoB ainda é um partido de porte pequeno e que tem gargalos a serem enfrentados para pôr em prática seus objetivos táticos e estratégicos.

Por isso, para dar curso às principais proposições estabelecidas no Programa Socialista aprovado no 12º Congresso – que coloca como objetivo mais imediato a luta pela continuidade do atual governo e por um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento como caminho para o socialismo – o PCdoB aprovou uma nova Política de Quadros. “Esta é uma questão discutida desde a época de Diógenes Arruda e, cada vez mais o partido se certifica de que a formação de quadros é crucial”, explica Bia. “Mas agora o desafio foi dar contemporaneidade a isso”.

Pôr em prática essas metas exige planejamento de longo prazo. “Não é à toa que se fala na formação de uma nova geração dirigente do partido para implantar esse ousado projeto. E isso precisa ser começado desde já”. Ela reforça que “é preciso preparar essa nova geração de dirigentes e, paralelamente, alcançar uma militância mais estável, estruturada em organizações definidas, para impedir essa oscilação que acontece hoje com os membros do partido”.

Bia se refere ao fato de que atualmente muitos militantes somente são acionados e participam da vida partidária em momentos específicos de mobilização, como em anos de conferências, congresso ou eleições. “Temos um patrimônio riquíssimo que requer mais cuidado, atenção e acompanhamento com respeito às singularidades de cada um. Os quadros são os responsáveis pela aplicação da política do PCdoB nas bases; são os liames entre as direções e os militantes”, esclarece.

Além disso, ela coloca que “o momento atual vivido pelo PCdoB, em que ele participa mais diretamente da vida política do país, nos traz quadros muitas vezes forjados em outras dimensões que não apenas as da luta social, e outras concepções partidárias, os quais precisam ser acolhidos e formados. Mas, também temos quadros mais antigos – que, muitas vezes, dedicaram sua vida inteira ao partido – os jovens, as mulheres, aqueles que militam no campo da luta de ideias”.
A dirigente lembra ainda que o partido teve 263 candidaturas ao Comitê Central no último congresso, quadros aptos a compor a direção nacional; é uma riqueza grande, considerando mesmo aqueles que, por uma questão de estrutura do CC, não figuraram entre seus membros”.

Novo departamento

Quadros, conforme coloca o Estatuto do PCdoB, “são os principais responsáveis pela unidade do Partido em torno de seus princípios e de sua orientação, bem como pela permanente construção política, ideológica e orgânica do Partido. São os cumpridores exemplares dos deveres dos militantes”.

E, para organizar a nova política para esse conjunto de comunistas, foram estabelecidos três níveis de quadros: superior, intermediário (dividido em estratos médio-superior, médio-médio e médio-inferior) e de base.

A gestão dessa política estará a cargo do novo Departamento Nacional de Quadros que ficará diretamente vinculado à Secretaria de Organização. “Ele nasce da necessidade de termos um acompanhamento permanente porque hoje isso é feito de forma muito incipiente e voluntarista. Temos 251 mil filiados e estimamos que destes cerca de dez mil se encaixem na categoria de quadros”.

Bia conta que, imeidatamente o objetivo é saber quantos quadros são, de fato, e qual o seu perfil. “Assim, podemos dar a devida atenção a cada tipo e trabalhar de forma específica. É um projeto complexo porque precisamos aplicar uma política generalizada lidando com as individualidades e com as particularidades de cada frente. Às vezes, um quadro mulher precisa se afastar para ser mãe ou um quadro da luta de ideias reduz sua atuação para fazer uma pós-graduação e precisamos respeitar esses momentos. Ou seja, os quadros têm exigências diferentes e não dá para estabelecer um padrão único de quadros ou de militantes do PCdoB. É a justeza da política, e não a uniformização de perfis, que norteará a atuação do partido”.

O Departamento Nacional de Quadros ficará responsável pelo acompanhamento dos quadros superiores; os departamentos estaduais – sob orientação nacional – cuidarão dos quadros médios e os municipais, dos médios-intermediários e dos de base. Essa interligação formará a Rede Quadros, um sistema de informática que reunirá informações sobre o perfil e atuação desses militantes, nos modelos do Currículo Lattes e que poderá ser atualizada por eles mesmos. Ela funcionará através do portal da Organização – que será inaugurado em breve. Neste espaço virtual, haverá também ferramentas de interação, como chats, ouvidoria e troca de mensagens específicas com esses quadros, estreitando os laços e facilitando o contato no dia a dia.

Primeiras ações

O primeiro passo para a viabilização do departamento será a implantação da Rede Quadros. O segundo será priorizar a implementação das estruturas locais nos dez maiores estados (Acre, Amazonas, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul). Paralelamente, serão colocados em práticas projetos específicos para as áreas de luta de ideias, mulheres, trabalhadores e juventude, focos principais da política de quadros. “Também vamos priorizar o PQ30, projeto para quadros com mais de 30 anos de partido. Pensamos, inclusive, numa publicação que possa relatar sua experiência, que é extremamente rica e, muitas vezes, desconhecida”.

Animada com as novas perspectivas, Bia diz que “a política de quadros tem maior centralidade hoje não apenas por sua inovação e ousadia, mas também porque ela representa uma mudança de paradigmas no que diz respeito à direção partidária porque dirigir o partido através da política de quadros é um grande desafio”.

O tema será um dos principais a ser tratados no Encontro Nacional de Organização que está convocado para início de março, em Brasília.

De São Paulo,
Priscila Lobregatte

Saiba mais sobre a Política de Quadros do PCdoB