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Hillary visita o Brasil sob forte crítica

A motivação da visita da secretária de Estado estadunidense, Hillary Clinton, ao Brasil, é avaliada como “absolutamente descabida”. Parlamentares e representantes dos movimentos sociais criticam o fato dos Estados Unidos quererem pressionar o Brasil para adotar uma posição de retaliação contra o Irã. Hillary encontrou-se, nesta quarta-feira (3) pela manhã, com os presidentes do Senado e da Câmara e parlamentares. Foi uma visita de cortesia, a portas fechadas, sem declarações à imprensa.

Em sua primeira visita ao Brasil após assumir o cargo, Hillary trouxe assuntos espinhosos na agenda, como o pedido para que o Brasil se oponha formalmente ao programa nuclear do Irã e a licitação para a venda de caças à Força Aérea Brasileira (FAB). Os assuntos serão discutidos diretamente com o Presidente Lula em aduiência à tarde.

O presidente Lula já rechaçou qualquer possibilidade de enquadramento do Brasil pelos Estados Unidos no que se refere a sanções contra o Irã. E adiantou que vai retribuir a visita de presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em maio desta ano, acrescentando que ele não deve prestar contas "a ninguém, a não ser ao povo brasileiro".

O Brasil ocupa atualmente um assento não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Os Estados Unidos querem convencer os integrantes do órgão a ampliar as sanções contra o Irã, alegando que o seu programa nuclear tem finalidade militar.

Na questão da venda dos caças à FAB, os Estados Unidos não desistiram de emplacar os Super Hornet F/A-18 da Boeing, apesar da divulgação de que o presidente Lula já teria feito a escolha pelos caças Rafale, fabricados pela França. A FAB vai adquirir 36 caças, num negócio que pode movimentar US$8 bilhões.

A secretária de Estado também deve incluir na conversa a relação dos Estados Unidos com países da América Latina que consideram "conflituosos", como Bolívia, Cuba, Venezuela e Honduras. A expectativa é de que o Presidente Lula cobre dos Estados Unidos a suspensão do embargo econômico imposto a Cuba há 48 anos.

Antes de se reunir com Lula, Hillary vai se encontrar com o chanceler Celso Amorim. E antes de deixar o País, faz uma escala em São Paulo, onde visitará a Universidade Zumbi dos Palmares.

Sem interferências

Na reunião com os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP) e outros parlamentares, foram assinados memorandos de entendimento sobre questões de gênero e mudanças climáticas entre a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e a United States Agency for International Development (Usaid).

O deputado Chico Lopes (PCdoB-CE) disse que o Brasil recebe a Secretária de Estado dos Estados Unidos com a mesma cordialidade com que recepciona todas as autoridades que visitam o País, mas que os Estados Unidos devem respeitar a soberania do Brasil e não tentar interferir em sua política externa.

O deputado Nilson Mourão (PT-AC) também reafirmou a necessidade de manter relações cordiais com os Estados Unidos, que é importante parceiro comercial do Brasil há muitas décadas, mas que o governo brasileiro não deve ceder as tentativas do governo dos Estados Unidos de demovê-lo demovê-lo da sua viagem ao Irã e convencê-lo de retaliar o Irão com sanções pesadas tendo como base o Conselho de Segurança da ONU.

Ele disse que o Brasil tem muitas divergências com os Estados Unidos e citou o caso de Honduras, as bases militares na Colômbia, o bloqueio econômico a Cuba, as demandas na Organização Mundial do Comércio (OMC) e a crise econômica mundial, que foi deflagrada pelos Estados Unidos, mas que o Brasil nunca procurou se intrometer nas decisões adotada pelo País. “A lista de temas que temos divergência com os Estados Unidos é grande, disse, acrescentando a questão palestina e a questão ambiental.

“Mas eles precisam compreender que os países são independentes e soberanos e deve adotar a política externa que considerar mais adequada para seu país”, dizendo que o Presidente Lula deve receber Hillary Clinton do mesmo jeito que recebeu o presidente de Israel, da Palestina, do Irã ou qualquer chefe de estado.

A favor do diálogo

“Nós estamos dialogando com governo iraniano, não impondo condições. Somos a favor da conversa e contra qualquer imposição. Ela não pode vir aqui para querer que o Presidente Lula peça licença a ela para ir visitar o Irã. Eles não pedem licença a ninguém, nem ao Conselho de Segurança da ONU, a quem deveria, para invadir o Iraque, para fazer guerra no Afeganistão, para instalar bases militares na Colômbia, porque pedir licença a alguém?”

Para Leandro Cerqueira, presidente da União da Juventude Socialista (UJS), entidade que tem tradição em manifestar-se contra a política armamentista dos Estados Unidos, a preocupação de Hillary deveria ser com a política de desarmamento mundial, coisa com a qual não estão comprometidos.

“A agenda tem que ser a agenda do desarmamento. Antes de querer cobrar de qualquer país a não-proliferação de armas nucleares, os Estados Unidos, que detém o maior número de armas nucleares, deveria repensar sua política de guerra para o mundo”, afirmou, acrescentando que se o critério para impedir a visita de Lula ao irã for o da violência, Lula não pode visitar os Estados unidos que foi quem mais promoveu guerras nos últimos anos.

Da sucursal de Brasília
Com agências