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Netinho de Paula: PCdoB quer "construir o comunismo brasileiro"

O vereador paulistano Netinho de Paula teve sua candidatura ao Senado lançada nesta semana pela direção do PCdoB-SP. Em entrevista ao repórter Diego Salmen, do site Terra Magazine, Netinho declarou que espera ir além dos prédios da Cohab de Carapicuíba “pra ficar legal” nas próximas eleições.

Netinho

“Quem acompanha a minha carreira sabe que tem uma contribuição social que me credencia, sim, para opinar no processo político”, afirma o ex-líder do grupo de pagode Negritude Junior e atual apresentador do programa Show da Gente, exibido aos sábados pelo SBT. Sobre seu ingresso no PCdoB, Netinho diz que foi aceito nas fileiras comunistas “para aprender os ideais e construir um comunismo brasileiro”.

Confira abaixo trechos da entrevista

Terra Magazine – Como foi o processo de lançamento da sua candidatura ao Senado?
Netinho de Paula – Foi um processo interno normal em todos os partidos. Eles apuram por meio de pesquisas e acabam indicando aos cargos que interessam. E isso sempre foi um desejo meu desde que eu entrei no partido e fui eleito vereador. Sabia que estar na Câmara de São Paulo seria um grande aprendizado para o futuro, e em função do que eu venho fazendo nos últimos três anos na Câmara, o partido achou por bem indicar meu nome a essa vaga.

Terra Magazine – Por que o Senado?
NP – Porque eu acho que o Senado é uma Casa que tem questões primordiais para o país, mas eu acho que o Senado carece de um olhar mais "social". Ele é composto por uma elite política e por pensadores muito tradicionais e, ao meu ver, está carente de renovação. É uma grande oportunidade para contribuir através da minha visão social e da minha experiência de vida.

Terra Magazine – Acredita que, ao dar esse salto, tenha chances de ser eleito de fato já nesta eleição? Ou será uma candidatura para somar forças?
NP – Na minha trajetória, na minha vida, eu nunca brinquei com nada. Tudo que eu faço eu busco fazer com seridade e eu acho que tenho muitas chances, sim, tendo em vista que esta será uma disputa para duas vagas (no Senado). E eu tô muito feliz e empolgado, tanto pela pesquisa Ibope quanto pela do Datafolha, que, sem me ter como candidato, apontou 22% de intenção de voto (em Netinho).

Isso insipirou o PCdoB a não encarar o meu desejo como um devaneio, tendo em vista que eu sou recém-chegado à política. Ter três, quatro anos na política e disputar um cargo majoritário é realmente uma responsabilidade muito grande.

Terra Magazine – Como você encara as críticas de que não tem experiência para se lançar a um cargo como esse? Ou então de que você "não é comunista" e está "usando" o partido?
NP – Eu acho que todos podem se manifestar. É normal. Eu nunca tive base comunista, nem na minha família. Eu fui aceito no partido para aprender os ideais e construir um comunismo brasileiro. Nós estamos tentando tratar os comuns através do que o Estado tem possibilidade de dispor a esses comuns.

Essas análises de que "nunca foi comunista"… (risos). Tem alguns comentários que são mais levianos; tem gente que gosta, que não gosta. Isso é natural, pessoa pública está exposta a isso.

Terra Magazine – E como pretende trabalhar sua biografia pra chegar ao Senado? Existe uma imagem sua já associada ao Negritude Júnior… para alguns eleitores essa imagem não pode ser contraditória com o cargo de senador?
NP – Eu não acho, o Negritude foi o primeiro grupo musical dos anos 80 e 90 que defendia uma bandeira social. O nome Negritude foi para a TV, nas nossas músicas a gente falava de questões sociais, e não só de amor. Nós fomos o primeiro grupo em São Paulo a presidir uma ONG, na época em que ONG não era moda. Montamos o projeto Negritude na Cohab, que atendia mais de 1,5 mil crianças.

Fui para um programa de TV e tratei de questões sociais abertamente na televisão, dando voz a essas pessoas. Quem acompanha a minha carreira sabe que tem uma contribuição social que me credencia, sim, para participar, opinar no processo político.

Terra Magazine – E...
NP –
Claro, vai ter gente falando "esse cara é um pagodeiro!", muitos não sabem (o que eu fazia). Mas a grande maioria sabe do meu compromisso, dos meus planos. Tinha a TV da Gente, que era uma tentativa de provocar as demais TVs com a questão social. Então se quiserem me tratar como um "pagodeiro"…

Terra Magazine – Como se fosse algo pejorativo…
NP – É, mas as pessoas elitistas têm por princípio rotular, e no Senado, que acaba lidando com questões das mais altas esferas, isso acaba mexendo com todo tipo de gente.

Terra Magazine – Ainda em relação a sua imagem pública, acredita que episódios como a briga com sua mulher e a briga com o repórter do Programa Pânico podem afetar na campanha?
NP – (risos) Podem sim, mas você tem que colocar também aí que quando eu tinha 7 anos eu briguei com um menino na escola porque ele beliscou minha bunda. Eu sou uma pessoa normal, nunca tive a pretensão de ser perfeito. Tenho defeitos, tenho virtudes e espero que desses dois episódios da minha vida, outros dez tenham sido superiores a eles.

Terra Magazine – E você ainda tem o pessoal da Cohab pra te ajudar…
NP – (risos) Não é só da Cohab, não. As pessoas entendem que, se a gente quer dar melhor qualidadade de vida para os mais pobres, os ricos também irão se beneficiar disso. Política tem que servir para isso: melhorar a qualidade de vida dos mais necessitados, e é por isso que eu entrei na política.

Se o pessoal da Cohab achar que eu sou uma pessoa que pode discutir essas questões, vou ficar muito feliz. Se a audiência do meu programa — que tem 24% de telespectadores de classe A e B — achar que sou essa pessoa, eu também vou ficar muito feliz.