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Mortalidade materna duplicou em 20 anos nos Estados Unidos

Os Estados Unidos investem mais do que qualquer outro na prevenção da mortalidade materna, mas cada vez mais mulheres perdem a vida. A morbidade já supera a maioria dos países industrializados.

Por William Fisher, para a agência IPS

O estudo da Anistia Internacional que divulgou os dados coincide com outros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). A pesquisa “Maternidade: perigo de morte” indica que a mortalidade durante a gravidez e o parto duplicou nos Estados Unidos nos últimos 20 anos. De 6,6 para cada cem mil nascidos vivos em 1987, passou para 13,3 em 2006. Dos quatro milhões de mulheres que dão à luz por ano no país, morrem duas em cada três por dia em razão de complicações vinculadas à gravidez.

Parte do aumento pode ser atribuída à melhor forma de realizar os registros, mas o estudo sugere que é mais provável que, de fato, os números subestimem o problema porque não há requisitos federais para medir a mortalidade materna. As norte-americanas têm mais risco de morrer por causas ligadas à gravidez do que as mulheres de outros 40 países, cinco vezes mais do que as gregas, por exemplo, e quatro vezes mais do que as alemãs. Além disso, outro 1,7 milhão de mulheres, um terço de todas as norte-americanas grávidas, sofrem algum tipo de complicação na gestação que deixa sequelas. As complicações graves, em que a mulher corre risco de vida, aumentaram 25% desde 1998, segundo a Anistia.

“Nenhuma norte-americana deveria ter morrido no parto em 2009, definitivamente poderíamos estar muito melhor”, disse Michael Lu, professor-adjunto de Obstetrícia da Universidade da Califórnia (Los Angeles). As razões pelas quais as norte-americanas têm maior probabilidade de morrer no parto do que as mulheres de outras nações industrializadas são complexas e seguem uma variedade de fatores. Quando ficam grávidas, têm sobrepeso. Os últimos dados de mortalidade materna indicam que uma em cada quatro, ou uma em cada cinco, morrem de doenças cardíacas ou dos vasos sanguíneos, segundo um porta-voz dos Centros de Controle e Prevenção de Enfermidades (CDC).

Também há dificuldades financeiras e físicas para receber cuidados médicos, como a falta de profissionais nas áreas rurais e o abuso de intervenções de risco, com indução do parto e cesariana. Cerca da metade das mortes maternas nos Estados Unidos pode ser evitada. As grávidas e as que acabam de dar à luz perdem a vida por “falhas sistemáticas” do sistema de saúde, segundo dados do CDC que constam do estudo da Anistia. Os indicadores sobre mortalidade materna das afronorte-americanas são ainda mais impactantes. Têm entre três e quatro vezes mais probabilidades de morrer durante o parto do que suas compatriotas brancas, inclusive, se ambas forem saudáveis.

Uma das causas pode ser a pressão alta. As afro-descendentes tendem a ter pressão mais alta do que o restante da população. Porém, não devem ser descartados outros fatores como pobreza e racismo. “Sabemos que o racismo e a pobreza geram muito estresse”, afirmou JoAnne Fischer, diretora-executiva da Coalizão de Atenção Materna. “Sabemos que é uma das causas da hipertensão e que esta, a obesidade e a diabetes estão vinculadas. Temos de garantir que as mulheres estejam saudáveis no começo da gravidez”, acrescentou. O aumento da mortalidade materna chama a atenção em comparação com a redução contínua que era registrada no século passado. A mortalidade era muito elevada nas maternidades no século XIX, às vezes chegando a 40% das parturientes. No começo do século XX, morria uma mulher em cada cem nascidos vivos.

Em 2005, morreram 11 mulheres para cem mil nascidos vivos. Mas o número começou a aumentar nos últimos três anos e quase triplicou na última década na Califórnia. A redução da mortalidade materna seguiu-se às melhorias nas condições de assepsia, transfusões de sangue e melhor atenção pré-natal. As recomendações para reduzir a mortalidade materna incluem acesso a cuidados médicos, existência de atendimento a emergências obstétricas, financiamento e atenção intraparto. Além disso, o apoio e a vontade política têm um papel importante. Sem eles não será possível avançar nessa área.

O risco de morrer durante a gravidez, o parto ou o puerpério varia de forma significativa segundo a situação econômica. Uma em cada 26 mulheres perde a vida na África, ao contrário das nações industrializadas, onde isso acontece com uma em cada 7.300. Dentro de cada país há diferenças notórias no acesso a pessoal médico capacitado, uma intervenção fundamental para melhorar a saúde materna. Pode chegar a se multiplicar por seis a diferença entre a mais pobre e a mais rica. A proporção de mulheres que fazem planejamento familiar está claramente vinculada à riqueza, as mais pobres ficam atrasadas com relação às mais ricas em todas as regiões.

Uma mulher morre por minuto no parto no mundo, apesar de quase todas as causas serem passíveis de prevenção. A Organização das Nações Unidas se propôs, em 2000, a reduzir a mortalidade materna em 75% até 2015, mas está muito longe de alcançar a meta. Na Cúpula do Milênio, nome da Assembleia Geral da ONU daquele ano, 189 governantes acordaram oito grandes objetivos de desenvolvimento, entre eles a redução da mortalidade materna.

As metas têm o objetivo de reduzir pela metade a proporção de pessoas indigentes e que sofrem fome, atingir educação primária universal, promover a igualdade de gênero, reduzir a mortalidade infantil em dois terços, lutar contra a expansão da malária, do vírus da deficiência imunológica humana (HIV), causador da aids, e de outras doenças, assegurar a sustentabilidade ambiental e gerar uma sociedade global para o desenvolvimento entre o Norte e o Sul.

Fonte: Envolverde