Renato Rabelo: oposição apela porque não tem o que dizer

Em entrevista publicada na edição deste domingo do jornal Folha de Pernambuco, o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, comenta o quadro político e diz que os oito anos do governo Lula superaram as expectativas. Ele defendeu a construção de um novo projeto nacional de desenvolvimento para aprofundar as políticas atuais e tornar o país uma economia avançada e critica a falta de projeto da oposição. Confira. 

Renato Rabelo - Maurício Moraes

Folha de Pernambuco: O PCdoB chega aos 88 anos após uma série de transformações políticas e sociais no mundo. Qual a sua avaliação?
Renato Rabelo: O partido faz um grande esforço de manter a sua identidade e os seus princípios, mas se voltando a responder às exigências da época atual. Um partido que se volta para a contemporaneidade. O programa e as lições que tiramos dos episódios no século passado, na construção do socialismo na União Soviética, no Leste Europeu, China, Vietnã… Tudo isso serve de ensinamento para que o PCdoB tenha novas formas de como ver o próprio processo político e definições programáticas que levem em conta essas experiências.

Folha de Pernambuco: O que é ser comunista nos dias de hoje?
RR: É sempre aquele grande objetivo de ter uma sociedade sempre superior a atual. Uma sociedade solidária, moderna e igualitária que é o nosso grande objetivo, uma sociedade socialista. Agora pra se chegar lá é todo um processo político, de transições, de aproximações. Hoje nós defendemos para o Brasil a construção de um novo projeto nacional de desenvolvimento para que o País se coloque à altura desses novos desafios e deixe de ser uma grande fazenda, um grande minério e uma montadora de porte médio. Tem que ser uma economia moderna e avançada e se transforme num grande celeiro e produtor de cereais e de energia. Além disso, ter um nicho de inovação tecnológica para dar margem de uma economia mais avançada e moderna. Isso é ser comunista hoje: conseguir ter uma produtividade maior do trabalho para chegar a uma sociedade mais avançada.

Folha de Pernambuco: No próximo dia 8 de abril o PCdoB declara oficialmente apoio à pré-candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República. Qual a identificação de vocês com a ministra?
RR: Primeiro que o PCdoB para apoiar uma candidatura ou compor uma frente política tem que ter clareza e nitidez do programa do candidato. O programa que deve ser traduzido num projeto é o que interessa ao nosso partido. Tivemos conversações com a ministra Dilma de oito meses para cá e isso nos mostrou convergências de opiniões e ponto de vista na construção de um projeto de desenvolvimento nacional, sobretudo levando em conta o desenvolvimento do projeto atual. Como aprofundar isso e ir adiante levando adiante a necessidade de algumas reformas democráticas. Por exemplo, uma reforma tributária mais progressiva e não regressiva, que tribute mais a renda e não o consumo. São apenas algumas questões que estamos tratando com a ministra.


Folha de Pernambuco: Quais os pontos onde o Governo Lula não conseguiu avançar nesses oito anos?
RR: Até superou a nossa expectativa esses oito anos do governo, sobretudo no segundo mandato. O que se alcançou é muita coisa. Foi pouco tempo e fazer grandes mudanças em praticamente oito anos não é fácil. O Brasil é muito desigual. Temos muita desigualdade regional e social. É um processo que se leva tempo requer um aprofundamento das políticas atuais. São essas as questões que o PCdoB acha que ainda precisa realizar.


Folha de Pernambuco:
Qual a sua avaliação do quadro político do PCdoB no Brasil?
RR: Somos um partido em crescimento. Praticamente ficamos 15 anos participando parcialmente do processo eleitoral em eleições proporcionais com poucas lideranças. De 2004 para cá estamos com uma participação mais ampla sobretudo investindo nas eleições municipais. Na última do Senado fomos o quinto partido mais votado. Fizemos um investimento grande e o nosso objetivo para 2010 eleger o sucessor de Lula e impedir a interrupção desse projeto.

Folha de Pernambuco: E o que impede o PCdoB ampliar mais as candidaturas majoritárias?
RR: As candidaturas majoritárias partem de lideranças que têm densidade eleitoral. O Brasil tem um sistema de representação que você vota mais nas pessoas e não no partido. Nós temos feito uma luta no Congresso Nacional em termos de reforma política para mudar isso. São raros os países do mundo que têm um sistema como o nosso, pois na maioria as pessoas votam no partido e no programa de um partido. Aqui se vota nas pessoas. Chegou ao ponto de uma pessoa se eleger por um partido e no outro dia mudar de sigla como se muda de camisa. Precisou o Superior Tribunal Eleitoral (TSE) dizer que o mandato não é da pessoa e sim do partido. O partido num sistema como esse tem que mostrar sempre lideranças, lideranças, lideranças… A gente quer que o partido apareça com o seu programa. Isso é o PCdoB, mas esse sistema dificulta. Desde 2004 temos apresentado lideranças em nível de uma candidatura ao governo. Pouco a pouco estamos participando do processo decisório das eleições majoritárias. Um exemplo é no Maranhão, onde temos um candidato ao governo estadual, o deputado federal Flávio Dino.

Em Pernambuco, o partido lançou o vereador Luciano Siqueira para a Prefeitura do Recife em 2008, mas acabou vencido pela pressão dos aliados. Com isso, teve que integrar um bloco de 15 partidos que apoiava o então candidato do PT, João da Costa…

Veja esse exemplo do Luciano Siqueira. Nós projetamos uma liderança para o nível da disputa majoritária, mas infelizmente não foi possível. Chegamos a ter a liderança que não tínhamos e que disputaria com condições. O Luciano é uma liderança respeitada e que as pessoas têm muita estima por ele, sobretudo no Recife. Conhece a realidade da cidade e do Estado. Portanto, é uma liderança que se impõe.

Folha de Pernambuco: É um nome a ser pensado novamente para a disputa municipal em 2012?
RR: Sim. Evidente. Se não foi da última vez, que seja na próxima. Temos casos como esse em muitas capitais. Projetamos muitas lideranças nas eleições municipais passadas: a Manuela (D’Ávila), em Porto Alegre; o Flávio Dino, em São Luiz; a Jandira Feghali, no Rio de Janeiro; Jô Moraes, em Belo Horizonte… Ou seja, não dá num ano, dá no outro.

Folha de Pernambuco: Como o partido tem acompanhado as possíveis candidaturas nos Estados, especificamente aqui em Pernambuco?
RR: Nós temos hoje um Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE), que eu presido, onde acompanhamos o processo eleitoral e a formação de frente política em todos os Estados. Em Pernambuco, por exemplo, temos a Luciana Santos (secretária estadual de Ciência e Tecnologia) com a dimensão de ser candidata ao Senado. Mas, evidente que no conjunto da realidade política do Estado tem que ter meios e condições de apresentar essa candidatura e essa candidatura vingar. O PCdoB não é daqueles que quer forçar a todo custo e a qualquer preço uma candidatura. No caso de Luciana, as condições para ela sair para o Senado vai depender da evolução política no Estado que ainda é indefinida. Nós podemos participar do círculo da disputa majoritária, mas não vamos impor nomes. Apresentamos o nome dela e vai depender dos acordos políticos a ser feito.

Folha de Pernambuco: Pelo menos uns quatro nomes já estão na disputa pelo Senado aqui em Pernambuco. O que falta para o PCdoB entrar nessa briga?
RR: Olha, tudo isso que você falou ainda é um processo em decantação. Quando tem muito nome é porque não tem nome nenhum ainda. Quando se tem múltiplos nomes é porque a coisa ainda não está madura. Veja bem que tem quatro aí disputando duas vagas.

Folha de Pernambuco: Como o senhor avalia o papel da oposição? Falta realmente um discurso?
RR: O êxito do Governo Lula em dois sentidos: o projeto que vem sendo aplicado e a grande liderança de projeção nacional e internacional, deixou a oposição sem discurso. O que a oposição vai dizer? Que tem um projeto melhor que o de Lula? Quem pode fazer melhor é quem está construindo o projeto e não quem está fora. Tudo isso leva a oposição a não ter o que dizer e apela para saídas não convencionais. Tentativas de desmoralizar e buscar improbidades administrativas. Um terreno marginal e não no terreno do debate de idéias. A própria candidatura da oposição não está muito clara. É uma situação muito complicada e favorável para as forças do campo liderado por Lula. Fica claro que uma parcela da população ainda não assimilou que Dilma é a candidata de Lula, mas isso tende a mudar com o tempo e já está começando. Ela vai crescendo e Serra vai caindo.

Folha de Pernambuco: Qual a sua análise para a postura do governo brasileiro diante da situação dos presos políticos em Cuba?
RR: O problema de Cuba a gente não pode dizer dentro de um contexto isolado. É uma ilha cercada por uma grande potência (os EUA) que faz um bloqueio econômico há mais de 40 anos. É claro que o PCdoB defende os direitos humanos. Acho que cada país tem o direito de ter o detento que ele acha que é nocivo ao seu regime desde que se respeite o direitos humanos. Que não haja tortura, maus tratos e que a pessoa seja tratada com dignidade. Ninguém fala de Israel que tem mais de mil presos políticos.

Folha de Pernambuco: Então os fins justificam os meios em Cuba?
RR: Ser preso é problema dos direitos humanos? Eu não condeno ter preso político. Condeno a tortura e o mau trato. Acredito que Cuba trata bem os seus presos. Não creio que torture. Trata com certa dignidade.

Fonte: Folha de Pernambuco


Atualizada em 30/03 às 19h