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Brasil adverte sobre perigo de já reconhecer governo de Honduras

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, alertou hoje na Cúpula Extraordinária da Unasul sobre o perigo de apressar o reingresso de Honduras, sem ter avançado satisfatoriamente no processo de reconciliação nacional. O encontro da Unasul reúne na capital argentina, Buenos Aires, lideranças da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.

Em conferência de imprensa a respeito, o porta-voz presidencial, Marcelo Baumbach, apontou que Lula considera que tal precipitação criaria um precedente perigoso para eventuais futuros regimes de exceção, com impacto regional negativo.

O porta-voz destacou que Lula segue esse assunto com muito cuidado e é da opinião que, sobretudo, não se deve apressar a aprovação de um governo proveniente de um golpe de Estado. No dia 28 de junho de 2009, um golpe militar não só retirou Zelaya da presidência, como até do país.

Baumbach agregou que o dignatário brasileiro está a favor da reconciliação nacional em Honduras. Ademais, prosseguiu, Lula acha que um passo importante nesse processo seria a volta do ex-presidente José Manuel Zelaya em perfeitas condições de segurança e com a garantia de que lhe serão respeitados seus direitos como cidadão.

Segundo o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, a posição do Brasil em relação ao retorno de Zelaya a Honduras é compartilhada por praticamente todos os países da América Latina e também pelos Estados Unidos, que estão se mostrando mais flexíveis em relação ao país. “Eu soube que os Estados Unidos afirmaram que o retorno de Honduras à Organização dos Estados Americanos depende apenas de uma decisão unânime dos demais países do órgão.”

Garcia afirmou que o ex-presidente Zelaya é uma referência política em Honduras “e nós achamos que ele pode ser muito útil à democracia em seu país”.

Sem espaço para rupturas

Desde o primeiro momento, o Brasil expressou sua rejeição ao golpe hondurenho e até agora se nega a reconhecer um governo surgido de eleições realizadas em um estado dominado por golpistas.

Em um discurso em Ponta Porã, no estado do Mato Grosso do Sul, onde se reunirá com seu homólogo paraguaio, Fernando Lugo, o presidente brasileiro afirmou que na região não há espaço para rupturas institucionais e golpes militares.

Recordou que a colaboração da Unasul para a estabilidade da Bolívia em 2008 é uma prova do compromisso inequívoco de toda a região com a preservação e o aprofundamento da democracia.

A posição firme do Paraguai e do Brasil em relação ao golpe em Honduras deixa claro que não contemporizamos mais com golpes militares explícitos ou mal disfarçados contra os representantes escolhidos legitimamente pelo voto popular.

Unasul não chega a consenso

Refletindo a preocupação do governo brasileiro, os presidentes da Unasul, que se reuniram hoje na Argentina, não conseguiram chegar a um consenso sobre o reconhecimento ou não do grupo ao governo hondurenho de Porfirio Lobo.

Os líderes dos países-membros da Unasul estenderam por mais de duas horas a reunião extraordinária, iniciada às 10h30 locais [mesmo horário de Brasília]. "Não houve um acordo sobre Honduras", disse o chanceler uruguaio, Luis Almagro, após as deliberações.

Enquanto Brasil liderou o grupo de nações contrários ao reconhecimento imediato do governo hondurenho, Peru e Colômbia, dois países cujos governos são mais afinados com a Casa Branca, anunciaram que respaldariam o novo chefe de Governo de Honduras. Na reunião de hoje, esses países foram representados por seus chanceleres, o peruano José Antonio García Belaúnde e o colombiano Jaime Bermúdez.

Segundo fontes consultadas pela ANSA, o debate era intenso, mas ocorria em um clima calmo e sereno. Ontem, na reunião de chanceleres, também houve uma grande discussão e não se chegou a nenhum acordo em relação ao tema.

Com informações da Ansa e Prensa Latina