Sem categoria

A guerra ao terror inventada por Bush

Pode ser que a denúncia não tenha a mesma força que teria se feita no início de 2003, quando o exército norte-americano invadiu o Iraque com uma das ações militares mais importantes depois do atentado de 11 de Setembro, mas é inegável o poder de fogo do thriller de guerra Zona verde (Green zone, 2010).

Por Ernesto Barros, em Jornal do Commercio

Como quem soma dois mais dois, o cineasta inglês Paul Greengrass, de Voo United 93 e da série Bourne, aponta sua câmera implacável para a ferida aberta mais sangrenta da política externa dos Estados Unidos desde a Guerra do Vietnã: a administração do presidente George Bush e o pentágono mentiram ao povo americano ao invadir o Iraque com base na suposta existência de armas de destruição em massa no país.

Quem já conhece Paul Greengrass sabe que o estilo dele é de imersão total no cenário onde a ação se passa. Ou seja: o espectador é obrigado a sentir sensorial e fisicamente o que está vendo na tela. Para muitos, a experiência é das mais desnorteadoras.

Em Zona verde, ele nos transporta para o barril de pólvora chamado Bagdá, com Saddam Hussein foragido e o país desgovernado. Neste caos, testemunhamos o Pentágono e a CIA atuando em sentidos contrários.

Um dos lados é representado pelo subtenente Roy Miller (Matt Damon, excelente, mais uma vez ao lado de Greengrass), que comanda uma força tarefa em Bagdá à procura de armas e não encontra nada, a não ser tomar conhecimento do comportamento vergonhoso dos líderes do seu país. Do outro lado, reina absoluto o burocrata Clark Poundstone (Greg Kinnear), que é acusado de plantar, com a conivência de uma jornalista do Wall Street Journal (Amy Ryan), a história sobre a existência de armas no Iraque.

Zona verde tem como base o livro Imperial life in the emerald city: Inside Iraq’s green zone, do jornalista Rajiv Chandrasekaran, que chefiou o escritório do Washington Post no período da invasão norte-americana.

Coube ao experiente diretor-roteirista Brian Helgeland transformar a complexa rede de informações coletada pelo autor numa história com alta carga de emoção e adrenalina.

A metade final de Zona verde, que consiste numa caçada a um ex-general de Saddam Hussein, é magistral. Na verdade, o filme oferece uma visão crítica sobre a política americana, mas não abdica do melhor do cinema de ação. A cada filme que realiza, Paul Greengrass aprimora uma técnica eficiente, vigorosa e muito pessoal.