George Câmara: Todas as Mães, todos os dias

Quero iniciar estas rápidas palavras saudando as Mães. De todos os lugares, de todos os tempos. Da “Mama África”, cantada por Chico César, à Mãe do romance de Máximo Gorki. Das Mães argentinas da Praça de Maio às Mães indígenas, nossas ancestrais e verdadeiras donas dessa terra chamada Brasil.

Às Mães operárias, camponesas, desempregadas, assalariadas, grávidas, solteiras, biológicas ou adotivas, genitoras de todas as etnias, a todas elas nossos cumprimentos. Ao abraçar a minha Mãe, nas primeiras horas do dia de hoje, o sentimento que me veio foi o de desejar esse privilégio a todas as pessoas do mundo.

Neste segundo domingo de maio, é impossível dar conta da variedade de agendas de inúmeras Mães. Tão diferentes e tão iguais. Situações diversas, sentimentos semelhantes. Das que amanheceram no batente, logo cedo, pelas feiras da vida, ou em visita a algum presídio, ou cuidando de alguém doente, ou mesmo rezando, Das que iniciaram o dia cicatrizando as feridas da violência doméstica ou chorando as perdas da vida e da morte. Para elas, tiramos o chapéu.

Àquelas Mães que estão a festejar as conquistas alcançadas, muito mais para seus entes queridos do que para si próprias, nossos parabéns. Pelas vitórias, pela solidariedade e pelo desprendimento com que encaram a vida.

Trabalhadoras do campo e da cidade, tecendo as manhãs e o amanhã. Não sozinhas, mas em coletividade, nas palavras de João Cabral de Melo Neto. Em suas tetas, amamentando o futuro. Junto com outras mulheres e ombro a ombro com os homens, na luta pela sobrevivência e pela dignidade. É a essas Mães que queremos abraçar.

Impossível descrever o significado dessa mágica relação que abriga em um dos pólos a figura materna. Às Mães presentes em nossa vida cotidiana e às que já não mais se encontram entre nós, a combinação do calor daquelas com a saudade destas últimas. Reverenciamos todas elas.

Lamentavelmente, nas relações sociais de hoje, subordinadas à lógica do capital, chegamos a tal ponto que o Dia das Mães se tornou uma peça publicitária a serviço do mercado, numa demonstração de que o fetiche da mercadoria não poupa sequer essa data tão nobre. Como na parábola do Rei Midas, no capitalismo até mesmo a nossa afetividade é transformada em atrativo comercial.

Aquecimento das vendas, filas intermináveis nas lojas e shopping centers, lucro certo. O Dia das Mães é hoje data obrigatória no calendário comercial, tendo se incorporado ao planejamento estratégico das empresas e governos no contexto das medidas para superação de crises na economia de cada país no chamado mundo ocidental.

Mas como em tudo na vida está presente a dialética, o deus mercado não consegue apagar a chama que envolve e aproxima as pessoas pelos laços da fraternidade, sendo esta uma marca inerente ao ser humano. Como afirma o poeta, “eles podem esmagar nossas flores e até destruir nosso jardim, mas não poderão jamais impedir a chegada da primavera”.

Movidas pelos mesmos sentimentos de amor tão peculiares às Mães, muitas pessoas revolucionárias deram a própria vida em defesa de uma causa, em prol de toda a coletividade. Foi assim no combate à escravidão e a outras injustiças do gênero. No combate às desigualdades sociais, na luta pela liberdade do povo e pela afirmação do Brasil enquanto nação soberana.

Com seu exemplo de vida, essas pessoas foram parteiras do futuro. Em sua memória, homenageamos todas as Mães. Todos os dias.

George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB
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