Esporte para formar a cidadania e lutar pela paz

Na última parte da entrevista ao Portal Vermelho, Orlando Silva Jr. explica a importância que sua pasta terá com a realização dos maiores eventos esportivos da Terra no Brasil e fala também do papel do esporte como uma das ferramentas a favor da luta pela paz, além de falar de seu futuro político após o término do seu mandato.

Por José Reinaldo Carvalho e Humberto Alencar

Vermelho — O Ministério do Esporte, com a realização da Copa e da Olimpíada, terá um destaque muito maior do que já tem e teve e o orçamento do Ministério é muito pequeno, diante do que precisa e poderia fazer. Você acha que o Ministério do Esporte terá um destaque — e orçamento — muito maior dentro do governo atual e do futuro governo?

Orlando Silva Jr.: Não existe a menor dúvida de que o orçamento é muito aquém do que deveria ser. Alguns profissionais e pesquisadores universitários falam que esse é o verdadeiro Ministério da Saúde, porque ele não cuida de doença, ele faz a profilaxia, faz atividade que ajuda a promover a saúde, ajuda a qualificar a educação.

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O esporte, a vivência esportiva, ajuda muito na formação para a cidadania. O jovem que entra em uma equipe aprende a seguir as regras do jogo, aprende a disciplina, aprende que ninguém ganha nada sozinho, que é preciso ser companheiro, trabalhar de forma coletiva, aprende que é preciso buscar o resultado até o último minuto. O esporte ensina a disciplina, o trabalho coletivo, o trabalho em grupo, a persistência, a perseverança, então é uma escola para a cidadania.

O esporte integra socialmente. Muitas vezes você vai a um bairro de periferia e a única forma de congregação ali é a igreja ou o futebol, naquele campinho de várzea, muitas vezes é o que existe para você se integrar àquela comunidade, ou torcer junto para o seu time.

O esporte tem uma dimensão social muito forte. O presidente Lula entendeu isso, quando criou um ministério especificamente para cuidar desse tema.

Vermelho — Uma das marcas do governo do presidente Lula foi e é a solidariedade internacional e a luta, o esforço pela integração latino-americana. Em que o Ministério do Esporte contribuiu para esse esforço de integração e de solidariedade?

Orlando Silva Jr.: Primeiro, nós temos uma presença, uma participação, nos eventos internacionais muito forte e damos suporte a esses países, países que precisam de ajuda. Eu vou dar um exemplo: Em 2007 o Brasil realizou os Jogos Pan-americanos. Vieram para cá 41 países. Todos participaram.

Pela primeira vez um país que sediou os Jogos Pan-Americanos ofereceu, de moto próprio, de vontade própria, material esportivo para todas as delegações. A nossa delegação tinha um kit de material, e os países que não tinham condição de ter material em um padrão de excelência, receberam um material igual ao nosso, com o emblema de seu país, seus símbolos, suas cores, etc. Essa é uma forma de dar um suporte.

Segundo, temos recebido e apoiado equipes e atletas, sobretudo daqui, da nossa região e da África, ajudado tecnicamente quando podemos. Vou dar um exemplo: o Nélio Moura, que é treinador de salto triplo, treinador da Maureen Maggi, atleta que ganhou uma medalha de ouro, é também o treinador de Ives Saladino, o panamenho que ganhou medalha de ouro. Pela primeira vez o Panamá ganhou uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Um treinador brasileiro com apoio do Brasil conseguiu realizar esse tipo de iniciativa.

Algumas equipes da América Latina, sobretudo, vêm pra cá e nós cooperamos tecnicamente, tem acontecido muitas iniciativas. Essa integração latino-americana, que se dá no plano político e no plano econômico com muita força, tem feito crescer a cooperação também no plano esportivo.

Um compromisso que o Brasil assumiu com a candidatura olímpica é colocar todo o parque olímpico brasileiro à disposição dos países africanos e da América Latina, para que eles treinem aqui os seus atletas que vão participar dos jogos de 2016. O esporte é uma forma maravilhosa de fazer pontes entre os vários povos.

Vermelho — Certamente aí existe a luta pela paz, contra as políticas de guerra…

Orlando Silva Jr.: Claro, a cultura de paz é uma marca importante para a atividade esportiva. O esporte soma, aproxima, e a valorização da paz é um tema permanente de todos aqueles que querem o progresso da humanidade. Parte da carta olímpica, uma parte importante dela, prega a defesa da paz no mundo, e o Brasil vai ter uma oportunidade em 2016 de mostrar uma tradição importante, de amizade com seus vizinhos. Veja, esse esforço que o presidente Lula faz na defesa da soberania do estado palestino, que é uma causa absolutamente necessária para a construção da paz no Oriente Médio, é revelador. O Brasil tem uma compreensão positiva sobre isso e a Copa e a Olimpíada vão ajudar muito nesse sentido.

Vermelho — Orlando, sem querer ser indiscreto, você encerra a sua gestão vitoriosamente, e obviamente que essa gestão o projetou como uma liderança política importante do nosso país. Representante do Partido Comunista nesse concerto de lideranças que compõem a cúpula do governo do presidente Lula, como você projeta essa liderança para o futuro imediato do chamado "pós-Lula"? Você, que é um jovem quadro e que tem muita perspectiva, como você projeta o futuro, uma vez que você não vai concorrer a nenhum cargo eletivo e vai ficar no governo até o final, até 31 de dezembro?

Orlando Silva Jr.: Na cultura brasileira, que é muito personalista, o próprio sistema eleitoral brasileiro estimula o personalismo. O meu partido é um partido de tipo diferente.

Fala de coletivo, de um projeto coletivo, digo isso porque diferentemente do tradicional na cultura brasileira, nós somos muito ligados a esse esforço coletivo, à elaboração coletiva. O certo é que, portanto, a inteligência coletiva do nosso partido vai, digamos assim, apontar caminhos.

Eu sou baiano de nascimento, mas tenho uma militância política em São Paulo. Eu pretendo ajudar a construir o partido em São Paulo. Tem uma agenda no Rio, no esporte, muito forte, eu pretendo a ajudar a construir o partido no Rio de Janeiro.

A experiência de participar do governo é uma experiência muito importante para nós. Eu tenho uma experiência de movimento social, de luta política de massa e essa experiência que nós vivemos de gestão pública é muito importante.

Eu espero que essa experiência que acumulei sirva para que o partido alcance outras posições. Se eu falasse pessoalmente, eu desejava disputar um cargo majoritário, porque é onde vejo que podemos intervir na vida das pessoas e creio que o partido, mais cedo ou mais tarde, vai entrar nessa seara, porque nós temos a visão política de equilibrar a luta política institucional com a luta social, com a luta teórica, política, ideológica. Porque não estamos aqui apenas para ganhar eleição, nem no sindicato nem eleição para prefeito, nós estamos aqui para lutar pelo socialismo, para fazer a revolução.

Nós já conseguimos um ponto de equilíbrio nessas várias frentes de luta, e talvez em campanhas de eleições majoritárias o partido tenha de alçar voos mais altos, disputar mais, porque essa luta, do ponto de vista político tradicional do Brasil, dá mais visibilidade aos programas, às posições. Se me perguntassem qual é o meu desejo, era o de ajudar o partido num desafio desses, porque também a gente acaba ganhando um pouco mais de visibilidade, fica sendo mais conhecido, tem de colocar isso a serviço de algum projeto estratégico do partido.