Forrozeiros tradicionais lançam a Associação Cearense de Forró
O lançamento será marcado por uma tocata com mais de 30 sanfoneiros, zabumbeiros e tocadores de triângulo, segunda-feira (24/05), na Praça do Ferreira, a partir das 11h.
Publicado 19/05/2010 20:58 | Editado 04/03/2020 16:33
O momento é histórico para o forró no Ceará. Dia 24, a partir das 11h, na Praça do Ferreira, será lançada a Associação Cearense de Forró – ACF, um canal de diálogo entre artistas do forró, produtores musicais e público. Cerca de 30 sanfoneiros, zabumbeiros e tocadores de triângulo, integrantes do velho e bom trio pé-de-serra, vão fazer uma espécie de ‘sanfonia’, abraçando a Praça com os diversos ritmos que compõem o forró. Na ocasião, a ACF vai distribuir 200 discos – um tira-gosto do trabalho da Associação.
A ACF é um fórum criado pelos forrozeiros pé-de-serra para apreciação conjunta de propostas, projetos e ações públicas referentes à divulgação e fortalecimento do forró tradicional no Ceará e surge no cenário cultural do Estado demarcando um importante território: criar, fomentar e produzir eventos ligados e direcionados ao forró pé-de-serra, articulando, através de pesquisas, estudos, projetos culturais, sociais e educacionais, ações que contribuam com a valorização do forró no Ceará.
Músicos como Adelson Viana, Ítalo Almeida, Renno Saraiva, Neo Pinel e Messias Holanda, lendário forrozeiro, integram a Associação; um símbolo da polifonia de vozes, diversidade de timbres, estilos e formações musicais que compõem a ACF.
Para Adelson Viana, a ACF fortalece o forró, gênero autenticamente nordestino, contribuindo para a cultura cearense. “Estamos prestando um serviço social e educacional à cultura local e ao País. O que é genuíno e verdadeiro tem que ser preservado; é a nossa identidade enquanto povo”. “Nunca houve uma reunião de forrozeiros cearenses, de músicos que estão nesse nicho do forró tradicional, popular. A ACF possibilita uma troca de ideias entre várias gerações, fortalecendo, solidarizando um trabalho que, se fosse individual, não teria tanta força”, acredita Ítalo Almeida.
A partir da ACF, a classe artística discute ampla e democraticamente todo o processo de consolidação do forró tradicional, numa busca coletiva por consensos. Todas as decisões de artistas ligados à ACF acerca de shows, por exemplo, são discutidas na associação.
A ACF se reúne semanalmente, todas as terças-feiras, no Kukukaya, espaço cultural que assume um compromisso declarado com a cultura tradicional popular do Ceará – casa de shows que semanalmente apresenta shows do forró de qualidade em Fortaleza. As reuniões começam às 19h.
Por um forró de qualidade – A Associação Cearense de Forró surge num mercado dominado pelo chamado “forró eletrônico”, recorte do gênero tradicional lançado em 1980 no Estado que executa um forró alambado, com base nos teclados, e que coloca dançarinos no palco executando uma coreografia lasciva.
Nessa esteira, várias bandas do estilo surgiram; tantas que, por parecerem tão iguais, incorporaram o termo “forró” – ao ponto de fazerem os forrozeiros tradicionais autodenominarem-se de “pé-de-serra” – e passaram a anunciar o nome em meio a uma música. Resultado: o forró nunca mais foi o mesmo. Dos anos 80 para cá, a situação declinou tanto que as letras dessas músicas passaram a incitar ao sexo, lançar mão de palavrões, depreciar a imagem feminina e tratar as relações humanas como descartáveis.
Para fazer um contraponto a essa realidade local, A ACF surge com vistas a valorizar e qualificar o forró tradicional que, para os integrantes da ACF, é o gênero tipicamente nordestino, que compreende os ritmos baião, xote, arrasta-pé, coco e xaxado, tanto dançados quanto tocados. “Uns dizem que o forró surgiu do termo ‘for all’ (para todos), afixados na entrada do baile de inauguração, ao som de sanfona e zabumba, da primeira estada de ferro construída em Pernambuco, por volta de 1942. Mas em 1937, a palavra forró já aparecia registrada na música “Forró na roça”, de Manoel Queirós e Xerém. Antes disso, em 1912, Chiquinha Gonzaga compôs “Forrobodó”, que lhe valeu o Prêmio Mambembe, em 1915”, atesta o forrozeiro Neo Pinel. “O certo é que o forró é o local, a dança, o gênero musical e o ritmo democrático de influências indígenas, africanas e europeias”, finaliza.
Fonte: Assessoria de Imprensa Kukukaya