Indústria naval do Brasil ressurge quase do nada

– O que você está fazendo aí em Pernambuco?
– Vim chefiar a área industrial do Estaleiro Atlântico Sul (EAS), no Porto de Suape. E você, por onde anda?
– Continuo no sítio, em Itaperuna, cuidando da
produção de leite.

A conversa telefônica reproduzida aqui, entre o diretor industrial do EAS, Reique Abe, e o engenheiro eletricista fluminense Odilon Macedo Parente, aconteceu no final de fevereiro de 2008. Uma semana depois de desligar aquela ligação, o veterano da indústria naval deixava a vida de pecuarista no Rio de Janeiro para voltar a construir navios.

Dessa vez, em Pernambuco. A história de Odilon simboliza o atual momento de reconstrução da indústria naval brasileira. Ele e outros contemporâneos estão retornando ao setor depois de terem assistido ao naufrágio da atividade.

O setor emerge, após um longo período de estagnação, apoiado no Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), da Transpetro, e nas encomendas bilionárias da Petrobras para explorar petróleo em águas ultraprofundas na camada do pré-sal. Só a Transpetro demandou um pacote de 49 navios aos estaleiros nacionais, nas duas primeiras etapas do Promef e promete lançar uma terceira fase ainda este ano.

O presidente da estatal, Sérgio Machado, destaca que o Promef não é apenas um programa de construção de navios. “Ele tem uma importância muito maior. Criamos as condições para a construção de novos estaleiros e a modernização dos já existentes. Isso vai garantir que tenhamos um setor competitivo, que fale a língua do mundo. Também estamos envolvendo a academia e as indústrias fornecedoras para desenvolver a atividade”, ressalta.

O Promef também vai permitir que o Brasil tenha maior soberania sobre o comércio de seus produtos. Atualmente, a frota de petroleiros da Transpetroé de 52 embarcações. Com o Promef esse número vai saltar para 101 até 2014. Sem uma frota adequada às necessidades do País, a Petrobras é obrigada a desembolsar US$ 2 bilhões por ano em afretamento. Apenas 16% do petróleo e dos derivados seguem em embarcações de bandeira brasileira.

A meta do Promef é atender a Petrobras em 100% na cabotagem (navegação dentro do Brasil) e em 50% no longo curso. O professor de Engenharia Naval da Universidade Federal do Rio de Janeiro Floriano Pires Júnior avalia que o próximo desafio para o Brasil será aumentar a eficiência dessa indústria naval que ressurge.

Temos que garantir velocidade na produção, reduzir custos e melhorar a logística de atendimento aos estaleiros”, defende. Hoje, o tempo
médio de construção de um navio no país é de 12 meses, contra sete na Coreia do Sul, por exemplo.

Fonte: Conexão Desenvolvimento / JC Online