Gigantes do futebol esquecidos pelos deuses da bola
O francês Michel Platini, os holandeses Johan Cruyff e Marco Van Basten, o italiano Paolo Maldini e os brasileiros Zico, Falcão e Sócrates são gigantes do futebol que tiveram algo em comum em suas carreiras: pararam de jogar sem ter o gosto de conquistar a cobiçada Copa do Mundo.
Publicado 20/05/2010 01:21
Na memória de muitos brasileiros está a Seleção do Mundial da Espanha, de 1982. Zico era um dos craques daquela equipe e disputava sua segunda Copa do Mundo, após jogar a da Argentina em 1978, na qual teve uma participação mediana.
Sócrates era um dos líderes da equipe. Um craque que foi um dos mentores da famosa Democracia Corinthiana, um movimento político dentro do futebol que marcou época no final do regime militar brasileiro.
Era um dos pilares de sustentação do meio campo do time mágico de 1982. O outro pilar era Falcão, meio campo do Internacional de Porto Alegre, que tinha personalidade forte e uma técnica apuradíssima.
Os três jogadores são elementos chaves do que ficou conhecido na história dos mundiais como "A Tragédia do Sarriá". Nome do acanhado estádio do Español (clube que na época ainda tinha um nome castelhano e não catalão, como hoje) que recebeu o último jogo do grupo 3 na segunda fase. Brasil e Itália jogavam por uma vaga na semifinal do torneio. Bastava um empate ao Brasil.
No seu primeiro jogo da segunda fase, o Brasil derrota a Argentina por 3 a 1 eliminando os rivais sulamericanos. O resultado lhe dá a vantagem de empatar o jogo contra a Itália para passar às semi-finais da competição. Os italianos haviam vencido a Argentina por 2 a 1.
Logo aos cinco minutos Paolo Rossi inaugura o placar. Em seguida, Zico é agarrado na área por um defensor italiano, tem sua camisa rasgada, mas o árbitro não vê o pênalti. Com um passe de Zico, Sócrates empata aos 12 minutos.
Desentrosado, Cerezo faz um passe trágico para o meio do campo, aproveitado por Paolo Rossi, que dispara livre rumo ao gol de Waldir Perez para acertar uma bomba e fazer 2 a 1 aos 25 minutos.
No segundo tempo brilha a estrela de Falcão. O astro catarinense é um dos raçudos com técnica e talentos de sobra. É dele que sai o petardo que quase fura a rede do pequenino estádio aos 23 minutos do segundo tempo.
Empate em dois gols classificaria o Brasil, mas o gostinho da calssificação só durou mais seis minutos. Paolo Rossi faz mais um, aproveitando um escanteio.
Oscar, um heroi de segundo escalão do panteão de craques brasileiros, desfere aos 42 minutos uma cabeçada à queima roupa que o veterano arqueiro Dino Zoff coloca para escanteio. A tragédia do Sarriá termina com um amargo 3 a 2 para a Itália.
Zico, Sócrates e Falcão tiveram mais uma oportunidade na Copa do México de 1986, mas o futebol mágico já não era tão mágico assim e os três estavam não muito bem fisicamente. Na eliminação do Brasil, Careca fez o gol inaugural contra a França aos 18 minutos. Platini empatou aos 40 minutos do primeiro tempo. Era o primeiro e último gol que Carlos, o arqueiro brasileiro, levava na Copa.
Zico, se recuperando de lesão, entra no jogo, toca na área para Branco, que sofre pênalti ao ser derrubado pelo goleiro Bats. Ainda frio, Zico perde o pênalti que classificaria o Brasil e ainda manteria a chama da conquista acesa para esses três gigantes.
Nas disputa de pênaltis, Júlio César bate para fora e o goleiro Bats defende o chute de Sócrates. Platini erra sua cobrança mas a França desintegra o sonho de Zico, Sócrates e Falcão, vencendo por 4 a 3..
Johan Cruyff
Um dos casos mais cruéis de desdém dos "deuses da bola" para com esses gigantes foi o do holandês Johan Cruyff, astro mais brilhante da Laranja Mecânica, como ficou conhecida a equipe holandesa, que maravilhou o mundo na Copa da Alemanha de 1974.
A desilusão para Cruyff foi perder por 2 a 1 a final da Copa para o mediano mas forte time alemão, depois de ter eliminado em Dortmund os brasileiros tricampeões mundiais com um clássico 2 a 0.
O ex-jogador do Ajax e do Barcelona se recusou a participar do Mundial da Argentina em 1978, porque o país estava sob uma cruel ditadura militar. Sua seleção voltou a disputar o título e voltou a perder.
"Cruyff era melhor jogador, mas eu fui campeão do mundo", disse o alemão Franz Beckenbauer, referindo-se aos comentários sobre a injustiça do título de sua Alemanha sobre a Holanda no campeonato de 1974.
Michel Platini
Michel Platini e Marco Van Basten tampouco venceram um Mundial, mas tiveram um pequeno prêmio de consolo vencendo os Campeonatos Europeus de Seleções de 1984 e 1988, respectivamente.
Hoje presidente da federação europeia, a UEFA, Platini liderou uma fantástica seleção francesa, que chegou às semifinais dos mundiais da Espanha em 1982 e do México em 1986, mas que em ambas as ocasiões se deparou com um o moedor de carne alemão.
Muitos especialistas afirmam que as equipes francesas dessas duas copas do mundo eram muito superiores à que foi vitoriosa na Copa de 1998, na França.
Em 1982, na cidade de Sevilha, a França de Platini vencia a Alemanha por 3 a 1 na prorrogação, mas a Alemanha acabou empatando e vencendo a disputa nos penais.
"Se o Mundial fosse disputado de dois em dois anos, entre 1982 e 1986 a França o teria vencido duas ou três vezes", lamentou tempos depois o astro francês.
A França venceu a Eurocopa de 1984, em Paris, derrotando na final a Espanha por 2 a 0, com gols de Platini e Bruno Bellone. O astro francês marcou nove tentos naquele torneio.
Marco Van Basten
Van Basten, por sua vez, venceu a Eurocopa de 1988 na Alemanha, marcando um total de cinco gols, sendo que três deles foram contra a Inglaterra. Fez um gol nas semifinais e um outro na final contra a União Soviética.
Entretanto, no Mundial da Itália, em 1990, a pálida seleção laranja caiu diante da Alemanha, futura campeã, na segunda fase.
Paolo Maldini
Paolo Maldini jogou quatro mundiais pela Itália, entre 1990 e 2002, sem obter nenhum título, apesar do vice na copa dos Estados Unidos, perdendo para o Brasil nos pênaltis e sendo eliminado nas semifinais na Copa realizada em seu país. Em 1990, a Itália foi eliminada em Nápoli pela Argentina de Maradona, nos pênaltis. Maradona, na época, era jogador do time local e muitos napolitanos disseram ter torcido para os argentinos.
Em 1998 a Itália de Maldini também foi eliminada nos pênaltis, dessa vez para a dona da casa, a França, nas quartas de final. Em 2002, com a estranha e caótica arbitragem do equatoriano Byron Moreno, Maldini viu seu sonho de erguer a taça desfeito de vez, caindo diante da anfitriã Coreia do Sul, por causa de um controvertido pênalti.
Outros gigantes que deixaram o futebol sem um título mundial foram o goleiro espanhol Ricardo Zamora, que nada pode fazer diante da Itália de Benito Mussolini em 1934, o soviético Lev Iáchin, considerado o maior goleiro de todos os tempos, o húngaro Ferenc Puskas, que perdeu a final de 1954 para a Alemanha Ocidental e os espanhois Paco Gento, em 1962 e Luis Suárez, em 1966.
Capítulo especial merece o hispano-argentino Alfredo Di Stéfano, que sequer disputou um Mundial. O então jogador do Real Madrid disputaria a Copa do Chile, de 1962, mas uma lesão às vésperas do torneio o impediu de trajar a camiseta vermelha da Fúria espanhola.
De São Paulo,
Humberto Alencar