Roberto Jefferson anuncia apoio parcial do PTB a Serra
O presidenciável José Serra (PSDB), saiu nesta terça-feira da sabatina na Confederação Nacional da Indústria (CNI) e foi para a sede do PSDB se reunir com Roberto Jefferson, presidente do PTB. Jefferson anunciou que a convenção nacional será realizada nos dias 18 e 19, em São Paulo, quando supostamente formaliza o acordo fechado nesta terça-feira com Serra para compor a coligação com o tucano.
Publicado 25/05/2010 19:35

A coligação garante ao candidato tucano cerca de 1 minuto a mais no tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV. Mas também agrega à campanha de Serra um apoiador incômodo, já que o deputado cassado Roberto Jefferson é um dos personagens mais identificados com o chamado "escândalo do mensalão".
Apesar da promessa de apoio formal, Jefferson alertou Serra que será um apoio parcial, já que as principais lideranças do partido no Congresso Nacional preferem apoiar a candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff (PT). "Vamos respeitar os colegas pró-Dilma. Somos um partido pequeno, com 22 deputados e sete senadores, para que quebrar?", disse Jefferson.
Para justificar o apoio a Serra, o presidente do PTB lançou mão de uma tese no mínimo estranha: Segundo Jefferson Serra é um candidato "fortíssimo" pois "está há dois anos com 37% (nas pesquisas) sem dizer que é candidato. "Agora ele vai falar ao país", afirmou o ex-deputado.
Ao mesmo tempo, Roberto Jefferson também fez críticas à postura de Serra, nas últimas semanas. "As manchetes têm sido azedas para o Serra desde que ele peitou o Deus mercado. O [Fernando] Collor acabou quando enfrentou. O Ciro [Gomes] foi engolido. Não é o Serra que vai se salvar. Ele não está acima disso. Ele errou desde que teve aquela colocação com Miriam Leitão, contra o Deus mercado", disse Jefferson, defendendo a idéia de que o candidato tucano deve ser coerente com o ideário neoliberal de seu partido.
O presidente do PTB referiu-se à entrevista à rádio CBN no dia 10 de maio. Na ocasição, durante resposta à jornalista Míriam Leitão, Serra disse que o “Banco Central não é a Santa Sé”. “Depois disso, as manchetes nacionais passaram a ser a favorável à Dilma e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, comentou, ao explicar o crescimento da petista nas últimas pesquisas.
Mas parece que o conselho do presidente do PTB veio tarde demais. Pois nesta terça-feira (25), em debate promovido pela CNI com os presidenciáveis, Serra voltou a repetir a frase que desagradou o tal "Deus mercado". "O Banco Central não é a Santa Sé. Diz uma coisa e está resolvido. Não é assim", disse Serra no debate de hoje.
São Paulo
A convenção do PTB, que deveria ocorrer em Brasília, foi marcada para acontecer em São Paulo por dois motivos: para não constranger o senador Gim Argello (DF), líder do PTB no Senado e defensor do apoio do partido a Dilma; e porque é em São Paulo que o PTB tem maior identidade com os tucanos. Há quase 20 anos que os petebistas paulistas, liderados pelo eterno deputado estadual Campos Machado, funcionam como linha auxiliar do tucanato.
Apesar dessa fidelidade a toda prova, a coligação paulista liderada pelos tucanos fechou as portas para a principal liderança do PTB no Estado, o senador Romeu Tuma, que pretende disputar a reeleição mas não encontrou vaga na coligação formada por PSDB, PMDB, DEM e PPS. A aliança direitista terá o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) como candidato ao Palácio dos Bandeirantes, o também ex-governador Orestes Quércia (PMDB) e o tucano Aloysio Nunes Ferreira como candidatos ao Senado. O vice será o empresário Guilherme Afif Domingos, do DEM. Nesta composição, não sobrou nada para o PTB na coligação da direita paulista.
Racha pacífico
De lados opostos na disputa nacional, senadores e deputados do PTB que apoiam Dilma já fecharam um acordo para não ter disputa na convenção. A parte burocrática do PTB apoiará Serra, mas os parlamentares, que são quem realmente têm base eleitoral, ficarão livres para apoiar quem quiser nos Estados. “Vai ter Estado que podemos ficar até com a Marina Silva [PV]”, disse o líder do PTB na Câmara dos Deputados, Jovair Arantes, que, em Goiás, apoiará Marconi Perillo (PSDB) para governador, mas na disputa presidencial apoiará Dilma.
Segundo o senador Gim Argello contou ao portal iG, Jefferson mostrou que a maioria (75%) dos diretórios do PTB é a favor da coligação com Serra, por isso não adiantava ter disputa. "O PTB é maior que esta eleição. Temos de fazer uma boa bancada de deputados e senadores", disse.
O "racha pacífico" do PTB poderá ganhar contornos mais ríspidos nos próximos dias, pois o governo tem conversado com as lideranças petebistas numa última tentativa de reverter a decisão anunciada. Mas mesmo que a convenção nacional do partido confirme o apoio a Serra, será um apoio incompleto e o minuto a mais no tempo de televisão não será decisivo para dar um salto de qualidade na campanha tucana.
Com perfil direitista e extremamente fisiológico, o PTB liderado por Roberto Jefferson é um partido que tem pouco a contribuir com a campanha presidencial deste ano.
Da redação, Cláudio Gonzalez, com agências