Uma vida de suor e dedicação

O dia a dia dos quase sete milhões de trabalhadores da construção civil inclui longas jornadas de trabalho e atividades que exigem muito esforço físico. Aos 63 anos de idade, o encarregado de obras, Manoel dos Santos Lins, conta que acorda todos os dias às quatro horas da manhã. O trajeto para o trabalho inclui dois ônibus e um trem. “É cansativo, mas a gente se acostuma. Quando a gente volta pra casa à noite, não quer saber de outra coisa além de dormir”.

Por Mariana Viel

Veja abaixo a entrevista do encarregado Manoel sobre a rotina na construção civil:

Apesar de todas as dificuldades, o encarregado de obras diz que se considera uma pessoa feliz. “Agradeço a Deus toda hora, porque ele me dá força para trabalhar e lutar contra todos os problemas”.

O eletricista Uilton Nunes Ferreira – que há 14 anos saiu da Bahia em busca de melhores oportunidades de trabalho – comemora a recente compra de uma motocicleta. “Antigamente eu precisava acordar às quatro e meia da manhã. Como agora tenho um transporte próprio posso sair de casa um pouco mais tarde”.

Ele explica que quando chegou à capital paulista não possuía nenhuma qualificação profissional. “No início fui trabalhando e aprendendo o serviço na prática. Depois que comecei a trabalhar em algumas empresas maiores tive que fazer alguns cursos para me especializar. Dentro da construção civil, posso dizer que sei fazer um pouco de tudo”.

O eletricista diz que considera o setor bastante atrativo e com muitas possibilidades de emprego. Uilton revela que em 2011 planeja iniciar a faculdade de engenharia civil. “Em termos de emprego a construção civil é uma área que está muito boa. Quero me formar em engenharia civil e continuar trabalhando com construção”.

Abuso nos canteiros de obra

Mas para alguns trabalhadores a rotina na construção não é feita de apenas boas lembranças. O cansaço do serviço pesado aliado às precárias condições de trabalho em algumas obras provoca problemas de saúde e doenças ocupacionais que podem impedir que o trabalhador exerça sua profissão.

O pedreiro O.S.M – que prefere não se identificar – diz que há mais de dois anos sofre com fortes dores de coluna. Ele atribuí os sintomas ao excesso de peso e às precárias condições em algumas obras em que trabalhou no interior do estado. “Quando você está começando a aprender o trabalho, é obrigado a fazer várias coisas erradas. Muitos lugares abusam mesmo. Às vezes eu carregava tanto peso durante o dia, que quando deitava para dormir não me aguentava de tanta dor”.

O.S.M. fala que muitos empresários também não se importam com os alojamentos e a alimentação dos trabalhadores. “Em muitas obras em que trabalhei pelo interior nós não tínhamos nem um colchão decente pra dormir. Imagina só como é para uma pessoa que carrega peso o dia inteiro sob o sol forte e não tem nem uma cama com um pouco de conforto pra descansar”.

Atualmente, o pedreiro diz que trabalha legalmente em uma empresa que presta serviço em diversas obras públicas. “Não há vantagem melhor do que trabalhar em um lugar que cumpre tudo o que manda a lei”.

Criador e criatura

Mesmo com todas as dificuldades que envolvem a cadeia produtiva da construção civil no Brasil, os trabalhadores entrevistados pelo Vermelho se dizem otimistas com o crescimento do setor. Durante as entrevistas para a série de matérias especiais, os trabalhadores foram unânimes ao reivindicar melhores salários, mas também relataram a satisfação de ver concluída uma obra que custou tanto esforço e dedicação.

O relato do encarregado Manoel mostra que além de tijolo e concreto, as paredes dos prédios construídos por ele também foram feitas com muita dedicação e amor.

Veja aqui o depoimento do encarregado Manoel sobre a satisfação de apreciar um dos prédios construídos por ele: