Seleção Brasileira de 1994: Ele não era o culpado

Na Copa dos Estados Unidos, em 94, o Brasil foi pioneiro na conquista de um título mundial na disputa por penalidades máximas. Com um 0 a 0 chatíssimo contra a Itália, decidida na cobrança lunar de Roberto Baggio, onde ambas as equipes se preocuparam em não perder, Parreira foi acusado de armar a seleção brasileira de futebol mais feio entre todas as outras. Mas a culpa não era, necessariamente, dele.

Por Bruno Padron

A seleção canarinho era a seleção de Romário, um gênio. Um baixinho que marcou de cabeça na semifinal contra os gigantescos zagueiros da Suécia. Mas também era de Dunga, um cabeça de área que pouco se arriscava ao ataque. Compunha um meio-campo que somente nas duas primeiras partidas possuía um jogador com características mais ofensivas, o meia são-paulino Raí. Com a entrada de Mazinho, eram três volantes e Zinho ajudando na marcação, dando voltas em torno de si enquanto era chamado de “enceradeira” pelos torcedores.

Era também a seleção de Bebeto, um craque que, segundo Chico Anísio, fez “o gol mais milimétrico” que ele havia visto, contra a seleção estadunidense, nas oitavas-de-final. Mas também era a seleção de Parreira, um treinador que considerava o gol um detalhe mínimo. Se o gol é apenas um detalhe, então porque não jogar um futebol bem detalhado?

O time jogava para Romário resolver. E ele resolvia! Mas Parreira relutou em convocar Romário até a última partida das Eliminatórias, contra o Uruguai no Maracanã. Na iminência de, pela primeira vez, o Brasil ficar de fora de uma Copa do Mundo, o Pé de Uva se viu obrigado a chamar o Baixinho. E foi o gênio da grande área que, com dois gols e jogadas maravilhosas, levou o Brasil à Copa.

Claro que a opção de jogar feio, contando com a presença do Rei Romário e do Príncipe Bebeto à frente, foi feita pelo treinador. Quanto a isso, não nos resta dúvida alguma. Mas a emblemática disputa de pênaltis não é o resumo das opções de Parreira, e sim uma tendência descendente do nível técnico do futebol mundial.

Na Copa anterior, na Itália-90, o nível do futebol jogado já se tornava sofrível. A final, mesmo com a presença de Maradona, foi um jogo chato decidido em um pênalti mal marcado em Klinsmann, mas bem cobrado por Brehme. Para completar as estatísticas negativas de uma Copa triste, aconteceu a primeira expulsão em uma final. E a segunda também. Monzon e Dezotti da Argentina foram para o chuveiro mais cedo e a Alemanha sagrou-se campeã.

Isso nos ajuda a compreender que, nas últimas Copas, o futebol ficou meio largado em um canto escondido e passaram a reinar as botinadas, as estratégias covardes e a escassez de gols. Portanto, a seleção campeã em 94 não é invenção de Parreira, mas um triste sinal dos tempos. Maus tempos…