Sibutramina não será prescrita na rede pública de São Paulo

O remédio é prescrito em casos de sobrepeso e obesidade, problema que atinge mais de 50% da população paulistana. Especialistas questionam medida da Secretaria Municipal de Saúde.

Pacientes que utilizam a rede pública do município de São Paulo não podem mais ser tratados com sibutramina, medicamentos que atuam como inibidores de apetite e teve prescrição restringida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em março deste ano.

Desde março, a droga faz parte de uma categoria de medicamentos chamada B2, da qual fazem parte os anorexígenos derivados da anfetamina, como afepramona e fenproporex. Esses remédios só podem ser vendidos mediante apresentação de uma receita azul com numeração específica, fornecida aos médicos pela Vigilância Sanitária de cada região.

Em um documento, a Área Técnica de Assistência Farmacêutica, subordinada à Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, informa que, diante de estudos que mostram os riscos desses medicamentos, não autoriza a confecção de talonários de notificação de receita B2 para prescrição de sibutramina.

O texto também diz que os fármacos utilizados no tratamento da obesidade e do sobrepeso “não têm lugar na terapêutica” e que “a Administração não pode e não deve propiciar o acesso a produtos farmacêuticos que não trazem benefícios aos pacientes, como é o caso dos supressores de apetite de ação central”.

Embora a sibutramina não tenha sido proibida pela Anvisa, a política para obtenção da receita B2 é definida por Estados e municípios.

Discordância

Endocrinologistas ligados à Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade) temem que a medida seja estendida para outras regiões, o que pode prejudicar um número ainda maior de pacientes da rede pública que sofrem de sobrepeso ou obesidade, condições que comprovadamente aumentam o risco de diversas doenças. “A sibutramina não é uma panaceia, mas funciona para certos pacientes que não conseguem perder peso só com dieta e exercícios”, diz a médica Rosana Radominski, presidente da Abeso.

Médicos concordam que o abuso na prescrição de medicamentos deve ser contido. Mas acreditam que a medida, estimulada por alguns médicos pouco criteriosos, acabe prejudicando os pacientes que realmente precisam desse tipo de droga.

A presidente da Abeso afirma que mesmo os anorexígenos, conhecidos por provocar tolerância e até distúrbios psiquiátricos, às vezes são a única opção para tratar certos casos – por exemplo, quando o paciente precisa emagrecer rápido porque vai ser submetido a uma cirurgia e a obesidade aumenta o risco de complicações. Ela lembra que o orlistat, outra droga disponível para reduzir a absorção de gordura pelo organismo, ainda é muito caro.

O médico Márcio Mancini, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, questiona as reações das autoridades à sibutramina. "O estudo Scout foi feito em pessoas com mais de 55 anos e histórico de doença cardiovascular e diabetes, um tipo de paciente que para o qual dificilmente receitávamos a substância, já que ela pode elevar um pouco os batimentos cardíacos", comenta. A sibutramina também pode provocar efeitos colaterais como boca seca, insônia e prisão de ventre.

Mancini conta que o fim da patente da sibutramina fez com que os preços de genéricos e similares da droga caíssem muito nos últimos dois anos, o que gerou aumento no consumo. Segundo ele, muitos médicos até deixaram de prescrever anorexígenos passíveis de provocar dependência, que são baratos, porque o tratamento com sibutramina passou a ser acessível.

O endocrinologista acredita que o total de 2 toneladas divulgado pela Anvisa não deveria causar tanto impacto, porque o problema para o qual é usado tem alta prevalência no país. Para se ter uma ideia, quase metade dos paulistanos apresentam sobrepeso. Já a incidência de obesidade varia de 13% a 15% em todo o país. "Se um terço dos obesos tomasse 10 mg de sibutramina diariamente, que é a menor dose, após três meses o total seria de aproximadamente 7 toneladas do medicamento", calcula.

Da redação, com UOL