A quem serve uma candidatura do PMDB ao GDF

Em 10 de junho último, PT e PMDB do Distrito Federal anunciaram uma aliança histórica na cidade. Pela primeira vez, desde que a cidade conquistou sua autonomia política, os dois partidos marcharão juntos. A chapa acertada tem o PT com Agnelo Queiroz para governador e o deputado Tadeu Filippelli como vice. Para o Senado os nomes são Cristovam Buarque e Rodrigo Rollemberg. 

Dois movimentos tensos foram feitos. O primeiro foi a direção do PT acalmar os grupos mais radicais da legenda e digerir a presença do PMDB. Foi um trabalho de meses e assim o PT, que costumava marcar posição nas eleições, aprendeu com Lula de que para vencer é preciso fazer alianças e concessões. Da parte do PMDB a dificuldade também não foi pequena. Filippelli fez ginástica para retirar a legenda das mãos de Roriz. Usou sua força junto às lideranças nacionais do partido e assim impôs uma derrota fragorosa à Roriz na Executiva Nacional do PMDB por 10×1.
 
Com a legenda na mão, Filippelli passou a costurar um acordo que reproduzisse no cenário local a dobradinha PT/PMDB, Dilma/Temmer, do plano nacional. Dialogou com o PDT, PSB, PRB e com o PCdoB que viram com naturalidade essa reivindicação do PMDB. Se há legitimidade para ser vice de Dilma porque não pode ser vice de Agnelo?
O acordo PMDB/PT na eleição indireta ao GDF
 
O início do acordo PT/PMDB foi a eleição indireta de Rogério Rosso para governador do DF. No acerto, pacientemente costurado, disputariam Rosso pelo PMDB e Antonio Ibañez pelo PT. Quem fosse ao segundo turno teria o apoio do outro para derrotar Wilson Lima da aliança rorizista. O vencedor não seria candidato ao GDF em 2010. Rosso venceu por um voto (13 dos 24), no primeiro turno.
 
Rosso tomou posse e procurou fazer um governo de coalizão, enfrentando a máquina governamental emperrada e desacreditada. Suas primeiras medidas surtiram efeito e assim seu nome cresceu e entrou nas especulações para a reeleição. Lideranças próximas ao governador passaram a insuflar seu nome. Rosso não freou as iniciativas e passou a olhar com esperança a chance de disputar a reeleição.
 
Filippelli, que foi o pai do acordo e o principal padrinho da candidatura de Rosso, se antecipou à disputa e aprovou na executiva do PMDB local a aliança com o PT. Em seguida, num ato puxado em conjunto com o PT, anunciou publicamente a dobradinha. Mas a essa altura Rosso já suspirava emocionado com a possibilidade de ser candidato em outubro. Abriu-se a disputa.
 
Na convenção nacional do PMDB, neste último final de semana, o conflito interno tornou-se público com a explicitação das duas posições. Filippelli é o vice de Agnelo e quer manter o acordo. Rosso, que aparece com 11 % nas pesquisas, quer ser o candidato do partido. Por trás dessa disputa estão segmentos do PMDB liderado por Rosso, peemedebistas que estão na máquina do governo e não querem perder parte de seus espaços num eventual governo PT/PMDB. Mas a principal força subterrânea que move a candidatura própria do PMDB é a terceira via. Subterfúgio usado para reagrupar a herança do governo Arruda e que uniria o PMDB ao PSDB, DEM e salvar a fraca candidatura de Gim Argelo, que virou Senador após a renúncia de Roriz.
 
A mão que balança o berço
 
Gim se apresentou recentemente como porta-voz de um suposto interesse de Dilma Rousseff por um segundo palanque no DF. Dilma não confirma e o PT/DF age para desmentir essa história. Na verdade Gim arrasta uma candidatura ao governo estagnada há mais de um ano. Não sai dos 2% ou 3% nas pesquisas. Sua chapa de deputado federal e distrital também tem dificuldades de ir adiante sem um puxador majoritário. Assim, procura artificializar um protagonismo na construção de uma segunda via no DF que deve ser definitivamente enterrada na convenção do PMDB local no sábado próximo.
 
Outro aspecto, e esse é verdadeiro, é o trânsito de Gim com o DEM e PSDB, daí sua falsa missão de arranjar o segundo palanque. Isolado nesse objetivo terá que optar na prática entre o palanque de Dilma no DF ou servir de palanque para o grupo de Roriz. Sua última saída seria prosseguir em seu projeto próprio ao governo, nesse caso ele mesmo seria o segundo palanque, só que de José Serra, pois teria o DEM e o PSDB com o apoio e o PTB nacional já está o tucanato.
 
O argumento para esse palanque esquisito seria o combate a polarização que vai tomar conta da cidade. Mas a polarização veio pelos fatos da história e não pela maquinação das lideranças políticas. O campo arrudista ruiu num mar de corrupção que escandalizou Brasília, o Brasil e teve repercussão internacional. A base de Arruda virou pó. Seus herdeiros procuram uma sombra para se abrigar da tempestade e devem retornar ao colo de Joaquim Roriz de onde saíram.
 
Uma terceira via, ou segundo palanque, eleitoralmente fortalece Roriz, mas política e eticamente será uma agonia, pois a turma da Caixa de Pandora, da bezerra de ouro e de outros escândalos volta se juntar. PSDB e DEM querem fugir de Roriz e viabilizar outro palanque para Serra no DF. Devem, no final, ficar juntos com todas as sinistras histórias que protagonizaram.
 
Nas mãos de GIM, DEM e PSDB está o germe da candidatura própria do PMDB. O jogo é pensado e estrategicamente montado. O PMDB, com a candidatura de Rosso, enfraqueceria Dilma, reduziria as chances de Agnelo, poderia derrotar as candidaturas de Cristovam e Rollemberg ao senado, ou um deles, e viabilizaria o palanque de Serra. Seria a solução da crise que afeta o PSDB e o DEM que se sentem constrangidos em voltar aos braços de Roriz. É essa turma que buzina na cabeça de Rosso para ser candidato. O falso segundo palanque de Dilma seria um espaço de Serra e não de Dilma. Tentam levar Rosso para esse caminho.
 
Quem vai prevalecer Rosso ou Filippelli? Rosso tem pouca força interna no PMDB e os interessados em sua candidatura, PSDB e DEM não têm condições políticas de explicitar esse projeto. É por isso que, no final das contas, deve prevalecer a aliança Agnelo-Filippelli. Rosso é jovem e pode esperar uma chance futura. Está com um pepino gigantesco nas mãos: tirar o GDF da crise, reconquistar a credibilidade do povo e fazer uma gestão transparente e eficiente. Se conseguir será um nome extremamente forte nas eleições futuras. Se desviar de suas funções e dividir a base de Lula e Dilma, poderá ajudar Roriz a voltar ao GDF. Há grandes interesses por trás disso tudo. Ninguém subestime ou duvide. A guerra já começou. Mas nós podemos vencer.
 
 
 

Apolinário Rebelo é jornalista, escritor e vice-presidente do PCdoB/DF.