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Restos da ditadura: irmão do presidente do Chile defende Pinochet

Seis dias após a renúncia do embaixador do Chile na Argentina, que defendeu a ditadura de Augusto Pinochet, o assunto voltou a causar polêmica. Desta vez, quem defendeu o regime militar (1973-1990) foi José Piñera, irmão do presidente Sebastián Piñera e ex-ministro do Trabalho de Pinochet. Em entrevista ao jornal argentino Perfil, José comparou o ex-presidente chileno Salvador Allende a Adolf Hitler e disse que o golpe de Estado foi inevitável para “salvar o país do comunismo”.

Perguntado se considerava legítimo o golpe de Estado liderado por Pinochet, em março de 1973, ele respondeu que "infelizmente, a Constituição em vigor em 1973 no Chile tornava impossível a remoção de um violador da Constituição e da lei", em uma referência direta ao socialista Salvador Allende, morto durante a crise política no país.

Segundo o diário, ele responsabilizou Allende pela situação a que o Chile chegou à época e o comparou a Hitler, que, segundo ele, "foi eleito democraticamente e virou um tirano". As declarações do economista José Piñera geraram uma grande polêmica no Chile.

Polêmica

Após a publicação da entrevista, o ministro do Interior do governo de Sebastián Piñera, Rodrigo Hinzpeter, disse que as afirmações do irmão do presidente são "repudiáveis". "Acho inconcebível, realmente não posso aceitar, que alguém compare o governo do ex-presidente Salvador Allende com o que foi o regime criminal de Adolf Hitler", disse Hinzpeter à rádio Cooperativa, de Santiago.

Mais tarde, o irmão do presidente pediu a renúncia de Hinzpeter em uma mensagem publicada em seu perfil no site de microblogs Twitter. "Hinzpeter mente de maneira brutal e irresponsável. Ele deve pedir desculpas ou renunciar", afirmou.

Já a senadora Isabel Allende, filha de Salvador Allende, disse que as declarações de José Piñera sobre seu pai são "grotescas". "Eu só quero falar dos 4 milhões de votos que pensaram que Salvador Allende foi o mais importante personagem da história do Chile no século XX. Ele é hoje uma referência universal. Mas não vale a pena, não vou polemizar, porque [as declarações de José Piñera] são grotescas", disse, citada pelo jornal argentino Página 12.

Precedente

Na noite do último dia 8, o então embaixador do Chile na Argentina, Miguel Otero, deixou o cargo por causa de declarações polêmicas sobre a repressão da ditadura de Pinochet. Em entrevista concedida ao jornal argentino Clarín, ele afirmara que "a maioria" dos chilenos "não sentiu" os efeitos da ditadura em seu país. Disse ainda que o Chile seria hoje "como Cuba se não tivesse existido Pinochet".

Com a declaração de Otero, senadores, deputados e membros de partidos políticos chilenos solicitaram que ele deixasse o cargo. Eles argumentaram que o diplomata desrespeitou aqueles sofreram com a repressão, o que acabou levando Otero a deixar o posto. 

Com agências