Angola lamenta morte do patriota Paulo Jorge
O Birô Político do Movimento Popular pela Libertação de Angola divulgou no último domingo (27) uma nota de consternação pela morte do Secretário das Relações Internacionais do partido, o patriota Paulo Teixeira Jorge, falecido no último sábado (26) em Luanda.
Publicado 29/06/2010 17:49
Na nota, o MPLA diz que Paulo Jorge "fazia parte do restrito grupo de patriotas que de forma organizada se batiam por uma Angola liberta e pela dignidade do povo angolano".
O patriota Paulo Jorge, continua o documento, "é detentor de uma trajetória política irrepreensível e invejável na luta pela liberdade e pela democracia em Angola e no mundo".
Destacou-se como simpatizante, militante e dirigente do MPLA, sobretudo na luta de libertação, quer como representante do partido no Egipto, Congo Brazzaville e na Argélia, bem como Responsável do Departamento de Informação e Propaganda, na Frente Leste.
Na sua longa caminhada, assinala-se também, de modo marcante, o mandato que a direção do MPLA lhe conferiu para integrar a delegação do partido para as negociações com a potência colonial, que culminaram com os acordos de Alvor, em janeiro de 1975.
Luta pela independência
Com a proclamação da independência nacional, em 11 de novembro de 1975, Paulo Jorge desempenhou as funções de Secretário do Presidente da República para as Relações Exteriores, assumindo ainda o cargo de ministro das Relações Exteriores, período durante o qual se podem destacar as suas qualidades como diplomata, humanista e defensor de causas justas.
O Birô Político regista, sobretudo, o papel de Paulo Jorge na luta pela independência da Namíbia, a admissão da República Sahraui Democrática como membro da OUA e a diplomacia de atenuação dos efeitos da Guerra Fria.
No plano interno, destaque para os cargos e funções executivas partidárias e governamentais que desempenhou nas províncias do Kwanza Norte e Benguela, e ainda na Assembleia do Povo, de que foi primeiro-secretário.
Na diplomacia partidária, lê-se no documento, assinala-se o papel de Paulo Jorge na luta que culminou com a admissão do MPLA na Internacional Socialista, assumindo hoje o Partido uma das suas vice-presidências.
Militante carismático
Paulo Jorge nasceu em Benguela no ano de 1934 e foi para Portugal fazer estudos superiores no início dos anos 50. Na Casa dos Estudantes do Império destacou-se como um dos mais carismáticos militantes da luta anti-colonial. Foi nessa fase que lutou, entre outros, ao lado de Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos pela independência das então colônias portuguesas.
Quem com ele conviveu nessa época recorda a sua persistente militância anti-colonialista mas também o mais afamado bailarino nas festas da Casa dos Estudantes do Império, onde benguelenses ilustres como Ernesto Lara Filho e Urbano Frestas faziam a diferença.
Paulo Jorge foi dos primeiros jovens estudantes universitários a abandonar Portugal para fugir à repressão da Pide, a polícia política do regime colonial fascista. Desde então dedicou a sua vida a fazer amigos e aliados para a luta armada de libertação nacional.
Quando Agostinho Neto assumiu a liderança do MPLA, figuras como Paulo Jorge e Câmara Pires assumiram com galhardia a diplomacia do movimento.
Após o 25 de abril de 1974, Paulo Jorge iniciou um trabalho discreto mas eficaz junto do Movimento das Forças Armadas (MFA) que derrubou em Portugal o regime colonial fascista.
Apoiado por Arménio Ferreira, ele conseguiu estabelecer canais diretos com as figuras mais influentes do movimento dos “Capitães de Abril” e depois com o próprio Conselho da Revolução.
Conferência de Mombaça
Foi o diplomata de que o MPLA precisou quando tudo parecia perdido e o movimento estava dilacerado pelas chamadas Revolta Ativa e Revolta do Leste.
Paulo Jorge desenvolveu nos bastidores um trabalho profícuo que levou ao acordo de cessar-fogo entre o MPLA e o Governo Português, no leste de Angola. Na linha da frente do interior estava Manuel Pedro Pacavira, que estabeleceu laços muito fortes com os dirigentes do MFA em Angola (Majores José Emílio da Silva e Pezarath Correia) e com o próprio Alto-Comissário, almirante Rosa Coutinho.
Este trabalho, de importância excepcional, levou à conferência de Mombaça, entre os três movimentos de libertação reconhecidos pela OUA e pela potência colonial: MPLA, FNA e UNITA.
No Quênia, Lúcio Lara e Paulo Jorge desempenharam um papel fundamental e paralelamente ao acordo entre os três movimentos, foi possível reconciliar o MPLA com a FNLA.
Esse sucesso político culminou com um abraço público entre Agostinho Neto e Holden Roberto na State House de Mombaça, quando perante a imprensa internacional o MPLA, a UNITA e a FNLA revelaram ao mundo que tinham uma posição comum para defender no Alvor (Algarve) em Janeiro de 1975, com a potência colonial, com vista à imediata independência de Angola.
Operação Carlota
O Acordo do Alvor esteve várias vezes em perigo e só a sensibilidade diplomática dos dirigentes do MPLA permitiu que ele fosse assinado por todas as partes. Paulo Jorge foi um dos obreiros desse importante documento que conduziu Angola à independência.
Até 11 de novembro de 1975 Paulo Jorge desdobrou-se em ações diplomáticas, sobretudo quando em abril de 1975 a fronteira Norte de Angola foi invadida por mercenários e forças de Mobutu Sese Seko e em maio Jonas Savimbi entrou em Angola pela fronteira Sul, protegido pelo Exército de Libertação de Portugal (ELP) de caráter nazi-fascista e pelas forças armadas e de segurança do regime de Pretória.
Aos microfones do Rádio Clube da Huíla, os oficiais do ELP e Savimbi anunciaram que haviam iniciado a marcha sobre Luanda.
Agostinho Neto enviou o seu homem de confiança a Havana. Era ele Paulo Jorge. E do seu trabalho diplomático resultou a “Operação Carlota”. Em breve os invasores tinham uma resistência armada firme e organizada.
No primeiro governo da Angola independente Paulo Jorge foi ministro das Relações Exteriores, cargo que desempenhou para além da morte do primeiro Presidente da República.
Na sequência das primeiras eleições multipartidárias, Paulo Jorge, então governador da sua Benguela, à qual chamava a “república socialista”, ainda teve oportunidade de organizar a resistência contra o exército ilegal de Savimbi, conseguindo manter sob controlo do governo o importante porto do Lobito e a testa do estrada de ferro de Benguela.
Depois foi o repouso do guerreiro, mas sempre na linha da frente da ação política como deputado na Assembleia Nacional e como secretário do Birô Político do MPLA para as Relações Internacionais.
Da redação, com agências