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Comportamento: O que leva os jovens a pichar?

Quais os motivos que levam jovens para a prática de pichação? Em busca de resposta, a psicóloga e especialista em gestão social Flávia Soares entrevistou jovens com idade entre 13 e 20 anos, moradores do Conjunto Taquaril A e B, localizado no extremo leste de Belo Horizonte, divisa com o município de Sabará.

Por Cecília Oliveira, no Observatório das Favelas

"Pesquisei esse tema porque em reuniões com os moradores no local com a finalidade de construir estratégias para controlar homicídios entre os jovens do Conjunto Taquaril, eles expressavam um incômodo em relação à prática da pichação. Até que um dia apareceu uma tentativa de homicídio em função desta atuação", explica a psicóloga, que já foi técnica do programa Fica Vivo! e hoje atua no programa Liberdade Assistida.

Através da pesquisa "A pichação dos jovens no Conjunto Taquaril" foram identificadas situações de violência ocasionadas pelos jovens que praticam a pichação; possibilidades de intervenção na dinâmica criminal local e intervenções que colaboram para a preservação da vida dos jovens envolvidos com esta prática.

"Eu comecei pichando. A minha intenção era de ficar famoso, mostrar que eu existo, [que] tem uma pessoa, um moleque que picha. Então, eu queria reconhecimento", relatou um morador do Taquaril, num sentimento comum a de outro entrevistado para a pesquisa:

"Eu queria que o pessoal me respeitasse, num sei se de forma boa ou ruim". O trabalho revela que este comportamento reflete a necessidade de visibilidade e reconhecimento social que o pichador busca.

"O envolvimento com a criminalidade é a busca de uma construção de identidade, assim como aqueles que se destacam pela cultura. O criminoso fica temido pelos moradores e as pessoas dão um lugar pra ele, é a busca de um nome. Já que as oportunidades de ascensão profissional num país em desenvolvimento são poucas, eles buscam esse nome como criminosos ou pela pichação em que os nomes são estampados pela cidade", explica Flávia.

Os pichadores se reconhecem entre si, legitimando grupos através da região, número de pichos, letra mais estilizada, dificuldade e risco para pichar determinados locais, como patrimônios públicos no centro da cidade, por exemplo. Um exemplo claro desta legitimação e do reconhecimento social são os casos da pichação na Bienal em São Paulo e do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.

"Quando isso ganha espaço na mídia, passa na TV, é ótimo pra eles, que veem nas veiculações a fama, o poder e o reconhecimento que ele conseguiu através da pichação", explica a pesquisadora.

Para além destas características, os pichos são também uma forma de demarcação de território. A pesquisa aponta que é preciso compreender o significado deles como uma forma de expressão dos jovens nos espaços públicos da cidade, uma vez que as tipografias demonstram a manifestação de um código que faz parte de uma cultura.

Com base nisso a psicóloga afirma que atualmente os pichadores se apresentam de uma forma particular, com a finalidade de garantir o direito ao espaço e ao discurso na cidade. Assim, o envolvimento destes jovens em práticas de atos ilegais provoca a percepção dos moradores e instituições a ofertar um novo lugar a estes jovens.

Flávia conta que "a divisão territorial imposta pelos jovens provoca na comunidade uma separação que impossibilita a mobilização social, dificultando a implantação de políticas sociais e a participação dos moradores nas intervenções propostas para o local".

Através da análise das entrevistas com os jovens e moradores, a psicóloga concluiu que o formato de programas sociais pode introduzir outros modos de atuação, que busquem a constituição do sujeito e também sua relação com a cidade.

"A política de base territorial sugere uma aproximação com a juventude para que sejam desenvolvidas estratégias de participação, tanto dos jovens quanto da comunidade, na construção de projetos locais", finaliza.

Fonte: Observatório das Favelas