Publicado 05/07/2010 10:29 | Editado 04/03/2020 16:33

Claro que eu desejaria o Brasil vencedor na Copa Mundial de Futebol mas penso que não se pode transformar um campeonato esportivo numa questão nacional. Não se pode e nem se deve paralisar um país no deslumbramento de uma pirotecnia midiática. O torneio se transformou ao longo do tempo numa consumologia que o mercado capitalista explora de forma brutal.
Nesse processo contratos milionários do sistema midiático são transacionados para que grandes empresas transnacionais lucrem milhões e até bilhões de dólares enquanto reduzem o esporte a uma tecno-engenharia cada vez menos humana. Os atletas são transformados em mercenários milionários cujo único fito é o aumento do patrimônio.
A jabulani é o modelo dessa tecnicalidade que brevemente incluirá sofisticados sistemas de computação enquanto o juiz da partida será resumido a um apito que do alto do estádio soprará com diferentes tons conforme o tipo de penalidade. Se no antigo Egito o olho do deus Ra via tudo e determinava o comportamento dos homens agora são as câmeras de televisão e os grandes telões que substituirão a força mágica de Aton-Ra.
O telespectador petrificado diante da grande tela esquece que na verdade os bilionários estão fazendo a festa maior ao passo que a pobreza, a violência e a miséria crescem em progressão geométrica. Não é possível que um espetáculo tão bonito se transforme paulatinamente no embrutecimento da capacidade de examinar os fatos com inteligência.
O Brasil sediará a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 mas não pode esquecer que o mercado consumológico tentará fazer destes eventos fonte de gigantescos lucros enquanto a maior parte da população pouco lucrará quando o espetáculo acabar. É preciso, portanto, que o povo tome consciência de que parte dessa movimentação bilionária de dinheiro deve reverter em seu benefício.
Valton Miranda Leitão é médico psicanalista
Fonte:Blog do Valton Miranda
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