Dalwton Moura – Emoção nas lágrimas das crianças

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A imagem do menino de camisa amarela chorando nas arquibancadas do Estádio Sarriá a eliminação da brilhante seleção brasileira de 1982 é até hoje uma das mais lembradas sobre a Copa do Mundo. Sobre derrotas do Brasil na Copa da Mundo, cumpre pontuar, diante de todo o impacto que um "resultado negativo", no dizer dos boleiros, causa ao País que se orgulha de ser o único a chegar por cinco vezes ao topo do futebol mundial.

Como a Itália também disse adeus à África do Sul mais cedo do que se supunha, a primazia verde-amarela na história das Copas será mantida até 2014, quando nosso País tornará a receber o Mundial para tentar se recobrar de outro trauma – a fatídica derrota de 1950. Mas esta já será outra história…

Por ora, o choque tem a cor vistosa das camisas alaranjadas, que impuseram a realidade ao Brasil de Dunga, Felipe Melo, Ricardo Teixeira e João Havelange. E de sete volantes convocados, de discurso de "grupo fechado", de mais "eficiência" e menos "futebol-arte", de sempre-conflito com a imprensa, de total perda do controle emocional de jogadores experientes no segundo tempo da partida de ontem – justo quando o time mais precisava de equilíbrio e convicção, para superar as adversidades daquele momento.

Enquanto milhões de brasileiros assistiam à derrota que se anunciava, irrecorrível, nos campos da África do Sul, deparei com a missão de dar esperança e consolar um pequeno torcedor: meu filho, Levi, de nove anos, para quem esta foi a primeira Copa do Mundo "pra valer". Daquelas de encher as páginas do álbum de mais de 600 figurinhas, com a mobilização entusiasmada da avó ajudando no escambo das repetidas. De arriscar palpites e medir as possibilidades de zebras e favoritos, traçando a "futurologia" a partir da tabela dos grupos. De vestir a camisa amarela desde o despertar, nos dias de seleção em campo. E a recordação não será das melhores.

Esperança?

A mim coube a tarefa – como cumpri-la? – de dizer que nem tudo estava perdido. Claro, havia tempo para buscar ao menos um empate. Mas o fato é que, por mais tempo que houvesse, aquele time, tão enervado quanto perdido em campo, jamais conseguiria escrever a história de forma diferente.

E as lágrimas de meu filho não esperaram o apito final. Caíram assim como as do garoto de 1982: sinceras, pungentes, inconsoláveis. Cortantes ao coração de um pai na tentativa de explicar que, sim, o esporte, como representação da vida, tem dessas coisas. Que quando se perde a cabeça o fracasso fica mais próximo. Mas que nenhuma derrota é definitiva. E que é preciso ter força para seguir adiante. Rumo a outros sonhos, que, nos gramados do cotidiano, não tardam a chegar.

Dalwton Moura é jornalista

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