Jornalista morto na ditadura militar é homenageado
O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, inaugurou nesta segunda-feira (5), na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, um memorial em homenagem ao jornalista Mário Alves, morto durante a ditadura militar.
Publicado 06/07/2010 09:42
Vannuchi lembrou que esse foi o 21º ato do governo Lula em memória a personalidades e lideranças ligadas à esquerda ou à vanguarda política brasileira.
“É importante multiplicar eventos como esse. São atos para reforçar a ideia de que é preciso criar um consenso nacional a favor da reconciliação, que não se dá sufocando o debate, mas sim convencendo as pessoas que participaram do aparelho da repressão a abrir todas as informações, dizendo onde os corpos dos desaparecidos podem ser procurados”, afirmou Vannuchi, adiantando que outros dez memoriais serão inaugurados até o final deste ano.
Mário Alves
Filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) desde 1939, Mário Alves fundou em 1968 o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), ao lado de militantes históricos como Jacob Gorender e Apolônio de Carvalho. Secretário-geral do PCBR, Mário Alves dirigiu os jornais Novos Rumos e Voz Operária.
Foi preso pelos militares em duas oportunidades, em junho de 1964, quando ficou um ano detido, e em 16 de janeiro de 1970. Durante a segunda prisão, foi levado para o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) e morto, um dia depois, no quartel do Exército da Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, zona norte do Rio.
Sua morte, após sessões de tortura, foi testemunhada por outros presos políticos, mas o corpo do jornalista jamais foi encontrado. Um dos companheiros de prisão foi o professor de história Emir Amed, que chegou a ser levado para a mesma cela de Mário Alves.
“É um resgate cultural, espiritual, político e ideológico de um homem que conheci pessoalmente. Eu vi na cela do DOI-Codi seu colchão ensanguentado. Ele era um intelectual, de uma cultura vastíssima. Lutou pela democracia em nossa pátria e foi massacrado até a morte”, lembrou Amed.
Lúcia Caldas, filha de Mário Alves, representou a família e disse que, apesar das evidências de que ele foi morto, ainda tem esperança de um dia encontrá-lo vivo.
“Eu não sepultei o meu pai, o que é muito difícil para os familiares de qualquer desaparecido político. No plano consciente, sei que ele foi trucidado. Mas em sonhos, me lembro de meu pai e penso se ele não estaria vivo, em algum lugar. É uma esperança que continua aqui dentro”, desabafou Lúcia.
O presidente da ABI, Maurício Azedo, ressaltou a importância de Mário Alves para o jornalismo brasileiro. “Ele é merecedor de todas as homenagens, pelo exemplo que deu de militância social contra a ditadura e de grande intelectual. Foi diretor do jornal do Partidão (PCB), Novos Rumos, onde se destacou pela capacidade de refletir sobre a realidade brasileira e de formular propostas”, assinalou Azedo.
Da Redação, Com Agência Brasil