Trabalhadores da Inco podem encerrar greve histórica no Canadá
A ValeInco e o United Steel Workers (USW), sindicato dos mineiros de Sudbury e Port Colborne, no Canadá, assinaram nesta segunda-feira (5) um Memorando de Acordo para pôr fim a paralisação que já dura quase um ano. Os termos acordados seguem para votação dos trabalhadores nesta quarta-feira e também na quinta.
Publicado 06/07/2010 16:18
Já na sexta-feira (9), o Ontario Labor Relations Board (OLRB) — órgão regional do governo canadense que arbitra sobre a lei laboral na província de Ontário — vai ouvir as partes sobre a recontratação de nove mineiros demitidos durante a paralisação. A questão da reintegração dos grevistas é a única que ainda esta pendente de solução — uma vez que os pontos econômicos envolvendo pagamento de bônus e plano de previdência já foram alvo de acertos.
Nem a ValeInco nem o USW estão abrindo ou comentando qualquer detalhe sobre a tentativa de acordo, incluindo os empregados dispensados durante a greve. Segundo Cory McPhee, diretor de comunicação da ValeInco, não está sendo disponibilizado nenhum detalhe do memorando, incluindo aí as demissões dos empregados durante a greve. "Os detalhes serão apreciados primeiro pelos grevistas".
Uma greve histórica e paradigmática
A paralisação dos mineiros da Vale Inco, em Sudbury, se tornou um paradigma para o movimento sindical de várias partes do mundo. Os grevistas da empresa estão até recebendo a ajuda financeira de sindicatos de outros países, como Estados Unidos e Alemanha — que veem na paralisação uma disputa decisiva para definir o futuro de negociações com empresas multinacionais em outras partes de mundo em meio a uma grave crise econômica.
Cerca de 2.600 trabalhadores de Sudbury recebem um auxílio greve de US$ 200 por semana do sindicato. Do ponto de vista dos grevistas, é relativamente pouco dinheiro para fazer frente ao custo de vida relativamente alto dessa região canadense. Mas, para o sindicato, a despesa acumulada com o pagamento dos benefícios é respeitável — e se aproxima de US$ 30 milhões desde o início da paralisação.
O sindicato gasta cerca de US$ 70 mil por mês para ajudar os grevistas a comprar remédios, depois que o benefício previsto pelo contrato com a empresa foi suspenso, em virtude da paralisação. Também opera um depósito de comida para distribuir aos mais necessitados e atende a casos individuais de pessoas que enfrentam dificuldades para pagar contas, como o aluguel e eletricidade.
Há dinheiro também para transportar representantes dos grevistas que defendem o ponto de vista dos trabalhadores em eventos em lugares como Brasil, Estados Unidos, Inglaterra e África do Sul. Protestos dos trabalhadores em Nova York, diz o sindicato, levaram ao cancelamento de homenagens programadas pelas Bolsa de Valores local à Vale.
História
A cidade de Sudbury foi fundada no início do século passado pelas mineradoras que se instalaram na região. No início, não passava de conjuntos de pequenas casinhas em volta das minas, onde moravam sobretudo imigrantes vindo de países como Itália e Irlanda.
A paisagem urbana começou a mudar a partir da década de 1960, quando a renda média dos trabalhadores das minas começou a subir — e eles se mudaram para casas maiores, rodeadas de gramados e carros novos nas garagens. Os ativistas sindicais gostam de vincular a ascensão econômica da categoria à filiação dos trabalhadores aos Metalúrgicos Unidos na década de 1960.
Essa organização segue a linha sindicalista americana do pós-guerra, focada principalmente nas reivindicações econômicas, ao contrário da tradição sindical socialista da região de Sudbury, que tinha forte bandeira política. Hoje, com um salário básico de cerca de US$ 60 mil por ano, a categoria é vista como "rica" na cidade.
Acordo pode ajudar a empresa
Comunicados sobre o Memorando de Acordo foram divulgados pela Vale e pelo USW. Na opinião de analistas do setor de mineração, se a greve dos mineiros canadenses acabar, pode ser bom negócio para a Vale. Dependendo do ritmo de retomada, a companhia poderá produzir neste ano 90% da capacidade nominal da ValeInco.
Os negócios com o metal podem atingir uma participação de 6% a 7% no lajida (lucro após juros, impostos, depreciação e amortização) da Vale em 2010, dependendo de outras variáveis como o preço do metal e do minério de ferro. O mercado prevê um lajida de US$ 35,5 bilhões para a Vale este ano. Já o preço do níquel despencou para US$ 10 mil a tonelada na crise, mas a cotação do metal vem se recuperando e está em US$ 8,5 por libra peso na London Metal Exchange (LME) ou US$ 18.700 a tonelada.
Há dúvidas, porém, entre os especialistas, se a retomada de produção da ValeInco junto com a entrada em operação de novos projetos de níquel em 2011 não atuem para derrubar os preços do não ferroso metal nos próximos meses. Isto, num ambiente de desaquecimento da economia chinesa.
Da Redação, com informações do Valor Econômico