Capistrano: Fifa: mercantilização e corrupção

Em 2014 a Copa do Mundo vai ser aqui no Brasil e Natal vai ser uma das subsedes dos jogos. Isto é bom ou é ruim? É positivo ou negativo para o futebol, para o nosso estado e para o nosso país? Só o tempo dirá!

Veja vinheta com logo oficial da Fifa para a Copa 2014 no Brasil
Tem um poema, do poeta José Bezerra Gomes, intitulado – “Com a melancolia na minha rua”, poema que eu gosto muito, transcrevo, aqui, a primeira estrofe desse poema: “Senhor, cotidianizaram a vida, / com escassez geral da alegria. / Senhor, mercantilizaram a vida, / com a integral renúncia da poesia”.

A Fifa conseguiu mercantilizar o futebol mundial com total falta do futebol/arte e a CBF seguiu o mesmo padrão. Estamos sentindo saudades de Garrincha, Pelé, Didi, Zico, Jairzinho, Marinho, Maradona, de Saquinho, de Jorginho e de Dequinha, são milhares de exemplos espalhados por o nosso imenso país. Esses jogadores jogavam por amor ao futebol e ao seu time, até hoje Pelé é torcedor do Santos, Jairzinho do Botafogo, Zico do Flamengo. Sentimos saudades do futebol alegria do povo. O futebol perdeu o brilho, a espontaneidade, virou um cifrão, um grande negócio. A Nike e a Adidas que os diga. Negócio mafioso, cheio de interesses, na maioria das vezes negócios escabrosos, escusos, parecido com as artimanhas da Máfia.

Conversando, recentemente, com um ex-craque do futebol brasileiro ele me falava do submundo do futebol, dos interesses existente nesse comércio que rende milhões de dólares para os cartolas, tanto a nível nacional como a nível internacional. Ele conhece bem o mundo do futebol, passou pelos grandes times do Brasil, foi da seleção brasileira e jogou no exterior, uma pessoa inteligente, viva, que viveu de perto os bastidores do futebol, as tramas cheias de interesses que derrubam técnicos, isolam jogadores e rebaixa times, tudo dentro dessa visão mercantilista que hoje impera no futebol, não só no futebol, mas no esporte de um modo geral.
Eu sou do tempo em que o jogador torcia pelo time em que ele jogava e o beijo na camisa não era uma farsa, era verdadeiro. Tudo bem, os tempos são outros, mercantilizaram o mundo, mas não é preciso tanta malandragem, a ética vale também para a prática esportiva – do boxe ao futebol de campo, para qualquer esporte.

A profissionalização do atleta, acompanhado pela mercantilização do futebol, trouxe à picaretagem, a desfaçatez para o esporte mais popular do nosso país e um dos mais populares do mundo. Jogadores, geralmente sem nem uma vinculação afetivo com o time, já chegam bichados, vai direto para o departamento médico e durante a temporada passa mais tempo no estaleiro do que jogando.

Hoje as escolinhas de futebol servem muito mais para preparar jogadores para o futebol europeu do que para os nossos times. Não temos mais os campeonatos suburbanos. Sinto saudade dos campeonatos de bairro, centro revelador de craques para os times da primeira divisão e muitas vezes para os grandes times do Brasil.

Na seleção brasileira de hoje não têm nem um jogador que pertença a um time brasileiro, todos estão vinculados a times europeus, com isso tirando dos jogadores que joga no Brasil o incentivo de ir para a seleção. Até parece que o critério de convocação é jogar no exterior. As seleções de 1958, 1962 e 1970 tinham como base os jogadores do Santos e Botafogo, havia um grande entrosamento e um belo futebol.

Quem andou denunciando a máfia da Fifa foi o jornalista inglês Andrew Jennings, que trabalhou e colaborou em diversos jornais da Inglaterra. Andrew publicou, em 2006, um o trabalho investigativo sobre a Fifa com o titulo “Falta! O Mundo Secreto da Fifa: subornos, compra de votos e escândalos com ingressos”. Andrew, em entrevista publicada na revista CartaCapital, disse que a Fifa hoje se parece com a Máfia, ela controla o futebol em todo o mundo, as confederações estão sujeitas as suas normas. O campeonato mundial se transformou em um grande negócio, os países sedes da Copa do Mundo não apita em nada na montagem do espetáculo que é o Campeonato Mundial de Futebol. Qualquer tentativa de ingerência dos governos nas Confederações de Futebol é logo rechaçada pela Fifa com ameaça de suspensão dos times daquele país em qualquer torneio internacional. É um mundo a parte.

A Fifa é senhora mundial do futebol, ela é quem manda e pronto. Existem denúncias graves de corrupção contra os seus dirigentes.

Aqui no Brasil a dinastia iniciada pelo senhor João Havelange e herdada pelo seu ex-genro, Ricardo Teixeira, estão sob suspeita, pairam sobre eles nuvens carregadas de denúncias. A CBF é uma caixa preta, ninguém sabe o que acontece com as suas receitas e contas, não existe controle e o pior eles controlam com mão de ferro o mundo futebolístico brasileiro e tem uma grande influência na Fifa.

O Brasil vai sediar a próxima Copa do Mundo (2014), o ministério público, sem paranóia, sem criar problemas, tem que fiscalizar atentamente os gastos públicos, coibir a corrupção e o desperdício, não permitindo desvios de recursos e bens públicos, fazer com que essa Copa seja realmente positiva para o nosso povo e o nosso país. Seria interessante que o senado ou a câmara instalasse a CPI da CBF ou criasse uma comissão especial de acompanhamento dos preparativos da Copa do Mundo de 2014.
 

Antonio Capistrano foi reitor da Uern, é filiado ao PCdoB