Paul Krugman: O Fed e o seu ponto de interesse
A Comissão Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) se manifestou. Qual é minha reação? É que a atual política do Federal Reserve é extremamente inadequada, logicamente bizarra e ligeiramente – mas só ligeiramente – encorajadora.
Paul Krugman*
Publicado 11/08/2010 18:25
O que o Fomc anunciou foi uma ligeira mudança de estratégia: em vez de permitir que seu balanço encolha à medida que vencerem os títulos respaldados em hipotecas que a instituição detém, manterá o tamanho do balanço reinvestindo os retornos em títulos do governo de longo prazo. Isto significa, mais ou menos, que deixou uma política completamente insana de aperto monetário motivada por um enorme desemprego e uma incipiente deflação, e preferiu adotar uma postura firme diante desse mesmo quadro. Viva!
É uma decisão muito estranha, se a gente pensar bem. Supostamente, existiria um tamanho ótimo do balanço do Fed, em razão do estado e das perspectivas da economia. Quais são as probabilidades de que seu tamanho ótimo seja exatamente aquele em que se encontra neste momento? Lembremos que o atual balanço do Fed reflete a herança de medidas adotadas num momento em que o medo de um derretimento total e o ritmo esperado da recuperação quando o medo acabasse eram muito diferentes do que são agora.
Portanto, por que congelar o volume do balanço no tamanho em que se encontra agora? A resposta é que isso é, literalmente, o mínimo que o Fed podia fazer. Se continuasse permitindo que o balanço encolhesse, a reação dos críticos do Fed e dos mercados seria terrível. De fato, reinvestir os retornos proporcionados pelos títulos que estão maturando tornou-se ponto focal porque se trata de uma transferência essencialmente arbitrária, em vez de adotar medidas que, entretanto, acabaram ganhando destaque porque as atenções de todos se concentram nelas.
Então, por que eu me sinto ligeiramente encorajado? Porque os críticos, pelo menos, conseguiram deslocar o centro do interesse. Não faz muito tempo, o aperto gradual do Fed era uma estratégia destinada a evitar o calote; mas como eu disse, naquela altura, o Fed se deu conta de que, se continuasse por esse caminho, desencadearia uma tempestade de críticas e uma profunda reação negativa dos mercados.
O que precisamos fazer agora é manter a pressão, de forma que, na próxima reunião do Fomc, seus membros mais uma vez enfrentem a realidade, ou seja, que a falta de uma mudança de rumo seria considerada a omissão de um dever. E assim por diante, de reunião em reunião, até que o Fed faça de fato o que deve fazer.
Eu sei que esta é uma maneira muito estranha de fazer política. Em um mundo melhor, o Fed analisaria o estado da economia e faria o que é certo, e não o mínimo necessário. Mas almejar este tipo de mundo é como desejar que Ben Bernanke esteja no controle.
*Economista estadunidense, articulista do New York Times