Irmandade do Rosário dos Pretos celebra 325 anos em Salvador

Uma celebração à resistência do povo negro na luta por igualdade. Assim foi a Sessão Especial realizada na Câmara de Salvador na noite desta quarta-feira (11/8) para comemorar os 325 anos da Irmandade do Rosário dos Pretos e os 111 anos da Venerável Ordem Terceira do Rosário de Nossa Senhora às Portas do Carmo. Organizado pela vereadora Olívia Santana (PCdoB), o evento lotou o Plenário Cosme de Farias, onde o prior Júlio César, presidente da Irmandade, recebeu placa comemorativa pelas datas.

Já na abertura da sessão, Olívia Santana, que é presidente da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer da Câmara, relembrou a trajetória da Irmandade do Rosário dos Pretos, que foi uma das primeiras confrarias de negros criadas no Brasil. Segundo a vereadora, a elevação da instituição ao mais alto grau dado a uma irmandade leiga religiosa, em 1899, constituindo-se na Venerável Ordem Terceira do Rosário de Nossa Senhora às Portas do Carmo, foi fruto do reconhecimento da Igreja Católica à fé e resistência destes homens e mulheres.

A Irmandade, como frisou Olívia Santana, exerceu grande influência e serviu como base de apoio para todos os negros que lutavam contra o sistema escravocrata brasileiro. “Participar de uma irmandade religiosa católica significava para o negro a possibilidade de ascensão social. Esta participação, no entanto, não o afastava das suas raízes. De forma encoberta, preservavam-se a cultura e as tradições africanas”, declarou a vereadora.

O prior Júlio César Soares da Silva, presidente da Irmandade do Rosário dos Pretos, agradeceu a homenagem à instituição. Segundo ele, celebrar a data é importante por representar a fé e a resistência do povo negro, “que através da religiosidade, e sem se afastar das suas tradições, manteve viva a cultura dos povos africanos. Um povo que, mesmo sendo seqüestrado e escravizado, soube reinventar a sua cultura, semeando a esperança e ensinando ao mundo como vencer as adversidades com obstinação e fé”.

O governador Jaques Wagner foi representado na mesa do evento pela secretária de Promoção e Igualdade, Luíza Bairros, e o cardeal Dom Geraldo Magella, arcebispo primaz do Brasil, pelo capelão da Igreja do Rosário dos Pretos, padre Gabriel Filho. Presentes na mesa, ainda, o presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo; o deputado federal Daniel Almeida; o vice-prefeito Edvaldo Brito; o presidente da Fundação Pedro Calmon, Ubiratan Castro, que fez palestra sobre a importância da instituição; o reverendo Clóvis Cabral, teólogo coordenador da Área de Extensão da Universidade de Pernambuco; e da egbomi Nice, do terreiro da Casa Branca.

A construção da igreja levou quase todo o século XVIII para ser concluída pelos membros da Irmandade de Nossa Senhora dos Homens Pretos do Pelourinho, escravos que só podiam trabalhar na obra em seus momentos de folga. Finalizada em 1796, é um dos marcos do Centro Histórico, com torres de influência indiana e fachada em estilo rococó. As missas do final da tarde de terça-feira apresentam cânticos em ritmos africanos acompanhados por atabaques, tamborins e repiques, sendo uma das maiores expressões do sincretismo baiano.

Da redação local com informações da Ascom da Câmara de Vereadores de Salvador