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Estudantes conquistam aprovação de cotas na UFRJ

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) aprovou na última semana a utilização de ações afirmativas para ampliar o acesso da população de baixa renda em seu vestibular. A medida irá valer já para o ano que vem e prevê também a manutenção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como uma das formas de acesso e a adesão da universidade ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

O Conselho Universitário (Consuni) se reuniu novamente nessa quinta-feira (19) para definir o percentual de vagas destinadas ao novo regime de acesso e a política de assistência estudantil. A proposta inicial da reitoria da universidade previa que 50% das vagas da UFRJ seriam distribuídas de acordo com o Sisu e as notas do Enem, equivalendo a 10% do total de vagas. O Consuni pede reserva de 50%. Segundo a nova resolução, a UFRJ irá reservar 20% das vagas para alunos das esculas municipais e estaduais, utilizando o Sisu. Ficam de fora das cotas alunos de outras instituições públicas, como colégios federais, universitários, militares e de aplicação, além da utilização de critérios étnico-raciais ou de renda, Os debates, porém, não cessam de imediato, e outras propostas serão avaliadas e discutidas até o fim do ano.

A presidente da União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro (UEE-RJ), Flávia Calé, conta detalhes e implicações dessa conquista do movimento estudantil na entrevista a seguir, concedida ao portal da União da Juventude Socialista (UJS):

Portal UJS: Quais as melhorias reais oriundas da decisão da UFRJ de aplicar as cotas e aceitar o ingresso via Enem para os estudantes de baixa renda?

Flávia Calé: A restrição ao conhecimento e à educação de qualidade é um dos principais mecanismos de perpetuação da pobreza no Brasil. Ingressar na universidade federal é a possibilidade de milhares de jovens romperem com essa lógica, ter acesso a uma educação de muita qualidade e vislumbrar uma ascensão social.

A reitoria previu um caráter experimental da medida. Que iniciativas os estudantes precisam tomar para que essa decisão não só permaneça, como também seja ampliada futuramente?

O caráter experimental se dá porque a universidade precisa quebrar alguns mitos, e o mais conhecido deles é o que diz que a qualidade da UFRJ vai diminuir com o ingresso de estudantes com baixa formação. Porém, acredito que uma vez decidido, não tem volta. A tendência é que a pressão do movimento social, junto dos setores progressistas da universidade e os dados objetivos da experiência do próximo vestibular possibilitem a aplicação do Enem como única forma de acesso e a ampliação para 50% das vagas para estudantes de escola pública. Essa decisão será tomada até o fim de 2010 e acompanharemos de perto a discussão, pressionando a reitoria e promovendo debates na universidade.

Portal UJS: Quais as propostas consideradas ideais para a UEE?

Flávia: A proposta ideal é que 100% das vagas sejam preenchidas através da prova do Enen/Sisu e que 50% dessas vagas sejam destinadas a estudantes de escolas públicas e para etnias, de acordo com a proporção encontrada na sociedade fluminense. Para nós, esse debate deve vir acompanhado de um forte plano de assistência estudantil. Todos os alunos devem ter direito a bolsa de estudos, ao bandejão, às aulas de equalização de conhecimento etc. Para isso, estamos propondo a criação de uma Pró-reitoria de assistência estudantil, para cuidar das novas demandas.

Portal UJS: Essa decisão da UFRJ pode ecoar por outras instituições públicas do ensino superior?

Flávia: Sem dúvida. A UFRJ é uma da principais e mais respeitadas instituições universitárias do pais. A decisão de ingressar no Sisu/Enem pode estimular outras universidades a aderir e fortalecer a idéia de se consolidar no Brasil o sistema de educação. Essa é nossa expectativa e esperamos dar essa contribuição.

Fonte: UJS