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Manobra suja da direita contra PC do Chile lembra campanha tucana

A direita chilena desencadeou uma ofensiva reacionária contra dirigentes do Partido Comunista do Chile sob o pretexto de que mantêm vínculos com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. O artigo do dirigente do partido que o Vermelho reproduz abaixo denuncia e desmascara a manobra estimulada pelo ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. O caso lembra as falsas acusações que a campanha tucana vem fazendo contra o PT e Dilma Rousseff.

Por Jorge Insunza Becker*

O pior da direita, com o pinochetista Melero na cabeça, foi ter posto em marcha uma manobra contra o Partido Comunista. A partir de um despacho da Corregedoria Colombiana foram identificados 7 dirigentes comunistas como colaboradores das Farc. Em particular, o ataque foi dirigido contra dois dos deputados do nosso partido, Guillermo Teillier e Lautaro Carmona, respectivamente presidente e secretario geral da nossa organização. A lista inclui ainda outros dois integrantes da Comissão Política (Andrés Lagos e o autor dessas notas).

A investida foi ratificada pelo Ministro do Interior, Hinzpeter, que com argumentos primitivos utilizou-se do pior arsenal ideológico da oligarquia colombiana. Juntou-se a esta montagem um ex-chanceler de Pinochet, Hernán Felipe Errázuriz e o próprio senhor Piñera. Todos nós fomos qualificados como cúmplices do terrorismo.

É o ex-presidente Uribe quem estimula setores da direita a levar em frente estas insídias. As primeiras intrigas desta campanha foram impulsionadas quando da visita de Sebastián Piñera e Andrés Allamand ao seu país durante a eleição presidencial. Naquele momento ele disponibilizou documentos da “inteligência colombiana” sobre as relações das Farc com os dirigentes políticos e sociais chilenos.

Com essa informação manobraram até forçar a saída de um jornalista do Palácio Presidencial La Moneda que constava no tal documento, uma lista que usam para denunciar os nomes que agora reaparecem.

Primeiramente, utilizaram os tais “antecedentes” disponibilizados pelo narcotraficante e terrorista Uribe para ganhar votos nas eleições presidenciais. Hoje usam como arma contra a presença de parlamentares comunistas na Câmara e contra nossa política de convergência para enfrentar a direita.

Para eles é intolerável que os esforços da ditadura da qual fazem parte tenha fracassado em fazer desaparecer a expressão política das forças revolucionárias. Que a cega defesa dos seus interesses de classe sejam dificultados pela nossa participação nos debates que os desconstroem.

Esta fase da operação incluiu o ex-ministro de Pinochet, Hernán Felipe Errazuriz, este que O Mercúrio dá amplo espaço para propor que a “Procuradoria Nacional investigue laços, financiamentos do PC e a cumplicidade com a violência desencadeada na Araucanía”.
O desejo de retomar a agressão repressiva contra o Partido e outras forças democráticas, como fizeram durante a ditadura torna-se evidente e tem a clara pretensão de obstaculizar as convergências das forças opositoras que enfrentam as políticas das empresas que ditam o seu governo.

A qualificação das Farc como organização terrorista não corresponde nem à verdade histórica nem à qualificação que a ONU lhe assegurou, onde é reconhecida como “força beligerante”, tendo em conta a sua dramática origem e suas formas de luta. As Farc nasceram há 40 anos como consequência dos massacres brutais da oligarquia colombiana nas zonas agrárias do pais. Constituíram-se como organizações de autodefesa da população agredida e hoje dispõem de uma posição dominante em pelo menos um terço do território colombiano. Enfrentam não só as forças armadas do Estado repressor como também os aparatos paramilitares dos narcotraficantes vinculados a personalidades do poder estatal.

O governo dos EUA tem, em seus arquivos, provas da participação do ex – presidente Uribe nas operações de narcotráfico e na formação de seus aparatos paramilitares. As revelações dos arquivos secretos da CIA e do DIA (Defense Intelligence Agency) colocam-no à beira de um julgamento no Tribunal Penal Internacional.

Reproduzimos abaixo trecho de um dos documentos que demonstra esta conivência criminal de Uribe, disponível no site Wikileaks, onde milhares de documentos das agências de inteligência dos EUA estão abertas ao público.

Informe classificado de Confidencial, do Departamento de Defesa de EE.UU.
(DIA. Defense intelligence Agency, 1991).

Álvaro Uribe Vélez. Político colombiano e senador dedicado a colaborar com o Cartel de Medellín aos altos níveis governamentais. Uribe foi vinculado a negócios relacionados com drogas nos Estados Unidos. Seu pai foi assassinado na Colômbia devido às suas conexões com os traficantes de drogas. Uribe trabalhou para o Cartel de Medellín e é amigo muito próximo de Pablo Escobar Gaviria. Ele (Uribe) participou da campanha política de Escobar para ganhar um posto de parlamentar suplente de Jorge Ortega. Uribe é um dos políticos que desde o Senado atacou de todas as formas o Tratado de Extradição (de Colômbia com os Estados Unidos).

Estes crimes de Uribe continuaram quando chegou à Presidência da Republica (na qual se fez reeleger mudando a norma constitucional colombiana) levando em frente práticas terroristas com o manto de uma política de segurança democrática numa vã tentativa em derrotar e fazer desaparecer as Farc.

Há uns meses foi descoberto em Macarena uma fossa comum com mais de 2000 cadáveres e nos seguintes meses foram detectados mais de 100 fossas de menor magnitude. Isso é o terrorismo real que existe na Colômbia, o terrorismo de Estado, que se agravou decisivamente por iniciativa do governo. Uribe ofereceu uma recompensa extra aos integrantes das Forças Armadas por cada morte de guerrilheiros que estes julgassem como tal. Essa política deu origem aos chamados “falsos positivos”, que quer dizer assassinatos cometidos pelos militares ou paramilitares narcotraficantes declarando baixas das Farc para receber as recompensas correspondentes. É uma das acusações que Uribe enfrenta na Corte Internacional.

Ante esta verdade, é indiscutível quem deve explicar os vínculos com o terrorismo: São precisamente os que tratam de nos desacreditar. As Farc, forçadas a guerra, reiteradamente demandam negociações para seu fim.

A primeira proposta foi feita por seu comandante histórico, Manuel Marulanda, e aceito pelo presidente Betancourt. Em março de 1984 as Farc assumiram a proposta de Bitancourt para levar adiante sua luta no quadro institucional, suspendendo a luta armada. Com outras forças, incluindo o PC colombiano, fundou uma Aliança Progressista, a União Patriótica, que foi mais além de comunista e de Farc. A UP participou de eleições, elegeu senadores, deputados, prefeitos constituindo-se em uma força relevante que ameaçava o poder oligárquico. A resposta foi uma repressão terrorista bárbara. Em 3 anos foram assassinados mais de 3000 parlamentares, juizes, prefeitos, dirigentes sindicais, em um genocídio político sem precedentes da qual Uribe foi ator. Para sobreviver as Farc retomaram sua luta armada.

Na década de 1990, outro presidente, o Sr. Pastrana, assumiu novamente o caminho do dialogo, de forma neutra e sem pré – condições. As negociações uma vez mais fracassaram.
Alem disso, as Farc mantiveram uma política de liberações de presos feitos em combates, na qual, personalidades, como a senadora Piedad Córdoba, fizeram um esforço relevante pela paz, enfrentando os obstáculos postos pelo governo e a persistência negativa de liberar presos das FARC.

Faz poucos dias Alfonso Cano, sucessor de Marulanda, fez uma oferta de paz ao novo mandatário da Colômbia e o presidente Juan Manuel Santos, apesar do seu obscuro passado (foi gestor do ataque em território equatoriano, onde foi assassinado Raul Reyes), em seu discurso de posse, não descartou a via de dialogo pela paz.

“Estranhamente” após essa fala, ocorre um atentado terrorista na quinta-feira 12 nos edifícios da rádio Caracol e outros meios de imprensa. Todas as forças de esquerda condenaram esse fato e nós estamos alinhados com elas. Dirigentes do Partido Comunista Colombiano têm razões suficientes para afirmar que se trata de uma nova expressão dos “falsos positivos”, isto é um crime cometido para que continue a guerra, que é cenário ideal para justificar as negociatas dos narcotraficantes e permanência das bases norte-americanas instaladas em território colombiano, que por sua vez se constitui em ameaça latente para os outros países latino-americanos.

Por convicção somos solidários com as demandas dos povos originários e do povo Mapuche em particular. Estamos convencidos de que só a solução do despojo de guerra do qual tem sido objeto é a via da solução dos conflitos. Aplicar a lei antiterrorista da ditadura é um caminho cego e compreedemos a legitimidade da greve de fome que levam a cabo. Temos exigido que sejam escutados e sejam abertas vias de dialogo para resolução do impasse. Do mesmo modo fomos e seguimos sendo solidários com a procura de uma saída negociada da guerra que se prolonga hà mais de 40 anos na Colômbia como propõe as Farc.

Esse processo deve abrir-se sem demora e sem exigências prévias, inaceitáveis para as Farc, menos ainda depois dos intentos fracassados realizados pelos poderes ligados ao narcotráfico que operam na Colômbia.

A senadora Piedad Córdoba encabeça uma organização de colombianos e colombianas pela Paz, que é integrado por defensores dos direitos humanos como o Padre Jesuíta Javier Giraldo, Carlos A Ruiz, Danilo Rueda, Hernando Gómez, psicólogo e professor universitário, o cineasta Lisandro Duque e muitos outros. Essa agrupação faz gestões para um plano de Paz e a insurgência demonstra, através da autoridade máxima, disponibilidade para negociar.

Esta perspectiva deve materializar-se com urgência no sentido de cercear o campo do terrorismo. Como no atentado à Radio Caracol, os falcões da guerra no governo e nas forças militares, sem esperar a mínima investigação das autoridades judiciais, atribuem o atentado à guerrilha, mesmo que os fatos apontem com evidências concretas para responsabilizar a direita narcoparamilitar e militarista interessada na continuidade da guerra que não tem propósito nenhum em criar um ambiente favorável à Paz, ao diálogo e à solução política e pacifica do conflito colombiano.
A desatinada e extemporânea manobra de alguns personagens da mais primitiva direita tem a mesma motivação que o atentado terrorista: obstaculizar o caminho do dialogo para pôr fim à tragédia que vive por muitos anos uma nação irmã.

Temos direito em pensar que o seu informante original instruiu aos seus amigos para resgatar e reafirmar sua “contribuição” na campanha presidencial, inclusive formalizando seu ato antes de deixar o governo, segundo as confusas versões que estão circulando.

* Membro da Comissão Política do PC do Chile