RJ: população aprova Dedic, polícia que vai aonde a vítima está
Uma pesquisa encomendada pela polícia a Ana Beatriz Leal, mestra em administração pública pela Fundação Getúlio Vargas, para avaliar o atendimento das Dedics, revelou que 94% dos entrevistados ficaram satisfeitos.
Publicado 05/09/2010 12:58
Cenas de policiais jovens, com curso superior, laptop embaixo do braço e apertando a campainha de um condomínio vêm se tornando cada vez mais comuns nas ruas de sete bairros, principalmente na Zona Sul do Rio.
Desde que foram criadas há seis meses, as sete Delegacias de Dedicação Integral ao Cidadão (Dedics) — que prestam atendimento com hora marcada tanto na casa da vítima como nas suas próprias instalações — registraram um aumento de 144% no número de prisões, de março a junho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2009. Também houve um crescimento, de 13,48%, no número de registros de ocorrência, reduzindo a subnotificação.
A conveniência do atendimento em casa faz até com que pessoas que moram em frente a uma delegacia escolham ser atendidas em domicílio.
Uma pesquisa encomendada pela polícia a Ana Beatriz Leal, mestra em administração pública pela Fundação Getúlio Vargas, para avaliar o atendimento das Dedics, revelou que 94% dos entrevistados ficaram satisfeitos.
Os pesquisadores ouviram 234 pessoas, que registraram queixa, entre 1° de março e 31 de maio, na 12° DP (Copacabana), na 14° DP (Leblon), na 15° DP (Gávea), na 16° DP (Barra), na 19° DP (Tijuca), na 35° DP (Campo Grande) e na 77° DP (Icaraí).
Para as Dedics funcionarem, o chefe de Polícia Civil, delegado Allan Turnowski, precisou implantar uma escala de oito horas diárias, totalizando 42 semanais. O esquema anterior, vigente nas delegacias onde não há o programa, é de 24 horas de trabalho por 72 de descanso — o que facilita o “bico” do policial e prejudica a elucidação dos crimes, segundo Turnowski: — A Polícia Civil é essencialmente de investigação. O policial não pode começar a trabalhar na segunda e voltar a trabalhar só na sexta para continuar o caso. Essa quebra nas investigações levava a um péssimo desempenho.
Quando você desenvolve um novo programa, no qual o policial trabalha todos os dias, ele começa na segunda e continua a investigação até o fim. Estamos rompendo com um modelo comum no Brasil todo.
A nova escala permitiu uma redução de um terço no número de policiais das sete delegacias, pois eram necessárias quatro turmas atuando em dias diferentes. Enquanto três grupos descansavam por três dias, um trabalhava o dia todo. Com o novo horário, um maior número de inspetores passou a atuar no horário comercial, melhorando a qualidade do atendimento.
O plantão da madrugada foi mantido, mas com menos policiais.
— A alteração na escala comprova a necessidade de se fazer um trabalho de gestão nas delegacias. O delegado passa a ser o gestor da sua unidade.
Estamos provando que é possível prestar um serviço de qualidade, sem que haja qualquer tipo de ganho (extra para o policial). O agente da Dedic está impedido, em razão da escala, de buscar o “bico”. Para que seja possível continuar com um atendimento de qualidade, temos que resolver a questão salarial — disse Turnowski.
Vítimas querem delegado presente
Além do grau de satisfação dos entrevistados, a pesquisa encomendada pela Polícia Civil aponta o que precisa ser melhorado. Ela mostra que 82% dos entrevistados não tiveram contato com o delegado. Essa acabou sendo uma das queixas das pessoas ouvidas. A vítima quer um “atendimento VIP”, com a presença do delegado, algo semelhante ao sistema adotado pelos bancos para seus clientes preferenciais, no qual o gerente é essencial. Segundo Turnowski, como o objetivo da Dedic é também se aproximar da população, a fim de criar uma rede de informantes, os delegados já foram orientados a dar mais atenção às vítimas. Outra reclamação é a falta de retorno sobre os resultados das investigações. Turnowski ressalta que as Dedics só não cuidam de dois crimes — homicídio e roubo de carro, investigados por delegacias especializadas.
Em Copacabana, segundo o delegado Antenor Lopes Martins Júnior, da 12° DP, o número de prisões em flagrante cresceu seis vezes de março a julho, em comparação com o mesmo período de 2009. Antenor é um dos que incorporaram a filosofia da Dedic, visitando as vítimas. Nas áreas da 14aDP e 16° DP, policiais também atendem em restaurantes, quando ocorre um crime nesses estabelecimentos: dessa forma, não é preciso que empregados interrompam o serviço para prestar depoimento nas delegacias.
A maioria dos inspetores que trabalham na Dedic saiu do último concurso da polícia, no início do ano.
Entre eles, está a inspetora Jamile Monteiro Sales, de 28 anos: "Sempre quis ser policial. Acho importante o atendimento em casa. Na delegacia, temos que circular com os presos, é constrangedor".
Crime resolvido em menos de 12 horas
Em menos de 12 horas, policiais da 16° DP (Barra) prenderam nove pessoas responsáveis pelo furto e pela receptação de joias do comerciante Claudino de Oliveira, de 53 anos, morador da região. A vítima agendou a visita dos inspetores pelo site da polícia (www.policiacivil.rj.gov.br) e fez o pré-registro. Segundo ele, três horas depois, policiais estavam em sua casa para ouvir depoimentos, inclusive o de uma empregada, que confessou o crime. O furto ocorreu há dois meses.
— Imediatamente, os policiais foram a Duque de Caxias, prenderam os receptadores, o dono de uma joalheira e ainda recuperaram parte das joias. Hoje, é indiscutível que houve uma melhora no atendimento da polícia — contou Claudino.
Vítima de um furto de automóvel, ele disse que procurou a 16° DP antes de a unidade virar Dedic: — Fiquei mais de três horas lá. Foi traumático.
Moradora de Copacabana, a estudante de direito Lizia Maria Telles, deficiente física, que também foi vítima de furto, elogiou a iniciativa: — Eles resolveram o meu caso de imediato. Para mim, que sou cadeirante, foi ótimo.
Fonte: O Globo