Jóis Alberto: Edgar Morin em Natal, antropologia e marxismo

O pensador francês Edgar Morin estará em Natal em 17 de setembro de 2010, quando a partir das 19h fará a conferência “O destino da Humanidade”, na Praça Cívica do Campus da UFRN, sendo em seguida realizada apresentação da Orquestra Sinfônica daquela Universidade. Ex-militante do PCF – Partido Comunista Francês nos anos 40, Morin, todavia, permaneceu dentro do campo democrático, sendo hoje considerado um dos grandes renovadores não só das Ciências Sociais, mas da Ciência como um todo.

edgar morin
Como parte das atividades da Cátedra Itinerante Unesco Edgar Morin para o Pensamento Complexo (CIUEM), que tem no Grupo de Estudos da Complexidade / Grecom – vinculado aos programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais e em Educação da UFRN – o seu primeiro ponto instalado no Brasil, o evento remete a algumas reflexões. A primeira delas relacionada à Educação. Mas, dada a amplitude dos temas que Edgar Morin trabalha em seus cerca de 50 livros publicados, e mesmo diante do tema da conferência, “O destino da Humanidade”, a conferência não se limitará a questões pedagógicas.

Embora conte com a parceria da Secretaria Estadual de Educação, da UFRN, da Adurn – Associação dos Docentes da UFRN, dentre outros órgãos, o evento não se destina apenas a acadêmicos, educadores, estudantes das redes pública e privada, mas também ao público em geral. Afinal, como afirma Morin, “a ciência deve ir além dos cientistas; a ciência e a educação tornaram-se também questões cívicas, de cidadãos”. Morin aborda a questão educacional para os tempos atuais no texto “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro”, considerado uma das fontes para elaboração, no Brasil, dos PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais. O livro foi editado pela Ed. Cortez, que publicou outro título relacionado ao assunto: “A Cabeça Bem-Feita”.

Aos 90 anos de idade – ele nasceu em 1921, em Paris – , Morin vem pela quarta vez Natal. Numa de suas vindas anteriores, em 1999, Edgar Morin recebeu o título de Doutor Honoris Causa da UFRN. Um título merecido não só pelo prestígio que esse intercâmbio internacional com Morin dá à UFRN, mas principalmente pelas contribuições desse pensador para a renovação do pensamento científico, com base na religação dos saberes, da transdisciplinaridade. De acordo com os objetivos gerais da Cátedra da Unesco, as atividades da CIUEM em Natal, por meio do Grecom-UFRN, estão voltadas para a formação transdisciplinar, sempre baseada nos princípios do pensamento complexo, no que se refere aos domínios do ensino, pesquisa e extensão.

Antropologia e marxismo

Edgar Morin figura ao lado de Claude Lévi-Strauss e Maurice Godelier como três dos mais importantes pensadores das Ciências Sociais na atualidade, como mostra o professor Edgar de Assis Carvalho no livro Enigmas da cultura (São Paulo: Cortez, 2003). São pensadores que tem mais pontos em comum do que divergências teóricas, o que tornou a tarefa do professor Assis Carvalho, titular de Antropologia da PUC/SP, mais prazerosa, porém não menos difícil, dada a complexidade teórica dos autores. A palavra complexidade, para esses pensadores, notadamente Morin, assume a acepção de ser um modo transdisciplinar de estudos, baseado na religação de todos os saberes.

No livro, Assis Carvalho critica certo relativismo ainda hoje presente na Antropologia, contestando o fato de que, para o relativismo, as culturas são unidades auto-suficientes, fechadas e coerentes em si mesmas. Analisa a atualidade das contribuições de Claude Lévi-Strauss, autor igualmente de uma vasta obra na qual se desfazem as dualidades entre arte e ciência, ciência e mito, razão e desrazão. Nessa direção, analisa a importância da lingüística para a criação do estruturalismo de Lévi-Strauss, que dialoga bem com a geologia, a psicanálise e o marxismo.

O autor faz referências ainda a polêmicas em torno das relações entre estruturalismo e marxismo, para, nesse sentido, criticar a posição contrária de alguns antropólogos acerca dessa relação, como ocorre em Eunice Durham. Carvalho defende a posição de Maurice Godelier, que, a partir de 1968, capitaneou uma geração de pensadores que “debruçou-se sobre uma arqueologia dos textos de Marx, principalmente os que versavam sobre as formas pré-capitalistas, para ali identificar um método de análise que fosse factível para sociedades sem classes”. Assis Carvalho conclui abordando os livros de Edgar Morin, reunidos numa ampla produção intelectual que podem ser divididos em sete macrotemas: Método, Complexus, Reforma, Antropologia Fundamental, Século XX, Política, Vivido , Transcrições Orais.

 

Jóis Alberto é Jornalista, poeta e mestrando em Ciências Sociais na UFRN