Cultura e democratização da mídia em debate 

Gargalos nos meios de comunicação e cultura é um dos temas debatidos no Seminário: Como Crescer e distribuir renda para melhorar a vida do Povo, promovido pelo candidato a  deputado federal pelo PCdoB, professor Fábio Tokarski. O evento aconteceu na manhã de sábado, 11 de setembro no Centro de Convenções de Goiânia.

Democratização dos meios de comunicação, financiamento de cultura e qualidade de produção no estado foram temas debatidos pela mesa de cultura e comunicação. De forma crítica e bem fundamentada, os debatedores apontaram os gargalos existentes hoje no que concerne ao tema e discutiram possíveis caminhos para o desenvolvimento de Goiás e Brasil no que diz respeito à cultura e comunicação. Professores, educadores culturais, jornalistas, estudantes e artistas participaram do processo numa roda, em forma de bate-papo.

A vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENARJ) e professora Maria José (Zequinha), abriu sua fala elogiando o tema da mesa. “A organização do seminário foi muito feliz em fazer a ligação entre cultura e comunicação. Pois antes de direito, ela é algo inerente ao homem. Ele cria linguagens através dela e produz cultura”, justifica a professora.

Zequinha logo foi ao cerne do problema da comunicação em Goiás. “Hoje há um déficit de comunicação. Temos apenas três impressos diários e sete emissoras de TV”, disse a professora se referindo à grande concentração da propriedade de comunicação no estado. No entanto, a vice-presidente também destaca como essa concentração, depois de tantos anos, começa a ser quebrada com o advento da internet e redes sociais.

Legislativo

Essa concentração também passa a ser quebrada com a existência de um projeto de lei que tramita no congresso nacional que propõe a realização de audiências públicas para decisão de renovação de concessão. E justifica ainda. “O debate se concentra nos meios eletrônicos: rádio e TV porque dependem de concessões”.

A professora ainda reforça a necessidade de haver leis, que de fato, regulamentem os meios de comunicação, que têm obrigações legais a cumprir. “Não foram regulamentados princípios da constituição, como difusão da cultura local”, denuncia Zequinha.

CONFECOM

A professora ainda elogiou a iniciativa do governo Lula em realizar a 1ª Conferência da Comunicação ano passado. “Apesar do amplo boicote dos meios de comunicação, a conferência foi realizada com sucesso absoluto e apontou diversos caminhos para democratização”. Dentre 700 propostas, Zequinha reforçou as três que apontou como mais importantes. Criação de Conselho Nacional de Comunicação deliberativo para discutir e deliberar políticas públicas; criação de código de ética dos meios de comunicação e necessidade de criação de nova lei de imprensa.

Produção cultural

A produção cultural de baixo nível divulgada pelos meios de comunicação foi alvo de muita preocupação e crítica no debate. O pró-reitor de extensão e cultura da Universidade Federal de Goiás, Anselmo Pessoa, que compunha a mesa, criticou a postura dos meios de comunicação. “Eles estão produzindo porcaria e criando um gosto por baixo. É muito mais fácil alguém gostar de uma música chiclete do que de algo que lhe faz pensar, porque isso deve ser culturalmente inserido”, denunciou o professor.

Anselmo ainda reforçou a necessidade de ousadia do governo para que os meios de comunicação mudem de postura. “Se eles não mudarem, vamos continuar com essa produção. Há necessidade de intervenção estatal. Precisamos de um governo que tenha essa coragem”, disse Anselmo que afirma que a grande batalha ainda não foi comprada.

Professor Anselmo também criticou a produção cultural em Goiás, afirmando que ela se esquiva de qualificação. O produtor cultural, Marcelo Carneiro, concorda com o professor. Ele discorreu no debate sobre o financiamento da cultura e diz que, há uma grande demanda, mas que falta estrutura e profissionalização dos atores culturais quando os recursos chegam às organizações. “É necessário saber o que fazer, qualidade do serviço, quem são os envolvidos, qual estrutura para realizar o trabalho, inclusive porque esse serviço será revertido para sociedade”, declara Carneiro.

O produtor enfatiza que o gestor público não consegue atender a toda demanda, pois não está devidamente preparado. Nesse sentido, a sociedade não se sente contemplada e satisfeita. Ele ainda fala no Plano Nacional de Cultura, uma política pública que repassará verba fundo a fundo e o gestor tem que estar a parte do processo, para que a cidade/estado sejam beneficiados.

Transversalidade

Uma das principais bandeiras do candidato a deputado federal, Fábio Tokarski, é a redução da carga horária do trabalhador de 48 horas para 40, sem redução salarial. O professor Anselmo reforça a necessidade de se reduzir essa carga horária, e mais, de elevar a qualidade de vida para que o cidadão possa usufruir das atividades culturais e elevar produção. “O sujeito trabalha 12 horas por dia, enfrenta um trânsito massacrante. Chegando em casa, é claro que não vai querer ver um filme ou espetáculo que exige pensar muito”, afirma o pró-reitor.

O dramaturgo Léo Pereira, que também compôs a mesa, reforçou a fala de Anselmo e concordou que é preciso boas condições de vida para desenvolver cultura. Ele ainda discorreu sobre o mosaico de preconceitos que envolvem a cultura. “Arte não é vista como trabalho. O artista é visto como vagabundo, pois não sabemos valorizar aquilo que nos dá só prazer”. Léo reforçou que, além de prazer, cultura oferece conhecimento, pensamento político e cultural.

Texto: Nádia Junqueira