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Fidel se reúne com pacifistas e alerta para perigo nuclear

O líder da revolução cubana, Fidel Castro, se reuniu, nesta terça-feira, com os 620 tripulantes e passageiros do Cruzeiro pela Paz, oriundo do Japão. No encontro, ele afirmou que "nunca na história da humanidade houve um momento tão perigoso como este", advertindo sobre as consequências "horríveis" de uma eventual guerra nuclear.

Fidel

Os pacifistas foram recebidos por Fidel no Palácio de Convenções, em Havana, que chegou saudando a diretriz do cruzeiro e Junko Watanabe, residente no Brasil, uma das sobreviventes do ataque atômico norte-americano contra a cidade japonesa de Hiroshima.

"Quero agradecer pela honra desse encontro. Me alegro em interagir com vocês, pela importância do momento que estamos vivendo e, além disso, por um sentimento de gratidão, pois conheço a solidariedade de vocês, as dificuldades que enfrentaram, a luta contra o bloqueio, os portos onde podem ir e os que não podem", disse Fidel.

Ele recordou as 14 vezes em que o cruzeiro foi a Cuba e evocou a frase que acompanha esta aventura marítima, por seu especial valor: "Aprender com as guerras passadas para construir um futuro de paz". Segundo Fidel, esta é uma frase que terá sempre significado, mas, "neste momento, terá mais que nunca".

O cubano repassou os acontecimentos, há 65 anos, nas cidades de Hiroshima e Nagasaki. E, depois, afirmou que mais de seis bilhões de pessoas ficariam sem ter o que comer em consequência do impacto ambiental causado por um ataque dos Estados Unidos e de Israel contra o Irã. "Este encontro tem uma importância muito grande, justamente pela experiência que vocês acumularam sobre este tema", disse Fidel.

O "Peace Boat" é uma organização japonesa, que desde 1983 organiza os cruzeiros pela paz duas vezes por ano, com o objetivo de obter soluções pacíficas para os conflitos do mundo. O barco que está em Havana zarpou em agosto com cerca de mil pessoas a bordo do porto de Harumi, em Tóquio, e chegou a Cuba na madrugada de terça-feira. A ilha faz parte do trajeto de 19 países do cruzeiro, que inclui Jamaica, Panamá, Nicarágua, Guatemala e México.

Dirigente do cruzeiro, Nao Inoue disse que, em todo esses anos de visita a Cuba, o país que mais tem recebido o projeto, seus integrantes têm "se esforçado para ser ponte entre o povo cubano e o japonês e também têm se colocado sempre contra o bloqueio injusto dos Estados Unidos. (…) Temos a missão de transmitir a mensagem de um mundo sem armas nucleares", disse.

Junko Watanabe contou sua história. Ela era uma criança e brincava com o irmão no pátio de casa, quando a bomba foi lançada sobre Hiroshima. "Minha mãe viu o incêndio, os papéis se quimando e caindo em frente à casa. Minha mãe ficou impressionada e nos abraçou. Recebemos a chuva negra e pegajosa que sucedeu a explosão. Antes da chuva, fazia um bom tempo. A chuva negra machucou nossos corpos. Meus pais achavam que seus filhos iam morrer", relatou.

Lembrou ainda que seu irmão, depois da explosão, passou a sofrer sempre de problemas nos ossos e morreu cedo de câncer de fígado. "Sinto grande responsabilidade em transmitir o que é a bomba atômica, os problemas físicos e mentais que atingem os sobreviventes, disse.

Fidel escutou comovido à história e contou sobre a conferência de um professor de New Jersey, Dr. Alan Robock, sobre o que poderia acontecer após um enfrentamento nuclear entre potências. "Os acordos firmados entre as potências não se traduzem em real redução das armas", disse, convocando os tripulantes a ajudarem a "criar consciência e lutar pela sobrevivência".

Reflexão

O mesmo assunto foi tratado por Fidel em mais uma de suas reflexões, publicada nesta terça, após a reunião com os tripulantes do cruzeiro. Segundo ele, a teoria do "inverno nuclear", desenvolvida pelo professor Robock, demonstrou sua veracidade. Citando o estudioso, ele afirma que "se tais armas não existissem, não poderiam ser utilizadas. E, neste momento, não há argumento racional para usá-las. Se não podem ser usadas, é necessário destruí-las e, assim, nos protegeríamos dos acidentes e dos erros de cálculo".

Fidel narra conversa que teve com o pesquisador, sobre a necessidade de fazer com que o mundo conheça os perigos a que está submetido, por causa das bombas atômicas. "O uso de armas nucleares, no caso de um ataque total contra um inimigo, seria uma ação suicida devido ao frio e à escuridão anômalos provocados pela fumaça proveniente das labaredas geradas pela bomba. De fato, se tem evidenciado que, quanto mais armas nucleares possua um país, menos seguro ele será", disse Robock.

O professor avaliou ainda que o tema é algo tão horrível, que as pessoas não querem pensar sobre ele. Fidel se comprometeu, então, a divulgar o assunto com linguagem acessível, para que todos possam compreendê-lo. E narrou seu encontro com os tripulantes do Cruzeiro da Paz.

"A ocasião foi propícia para expor nossos pontos de vista e contar a nossos amigáveis visitantes japoneses, lutadores da abolição das armas nucleares, das bases militares e da guerra, o esforço que nossa pátria tem feito para evitar um conflito nuclear que pode pôr fim à existência de nossa espécie", encerrou.

Com Cuba Debate