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Lideranças feministas e 95% do movimento negro estão com Netinho 

Netinho de Paula (PCdoB) pode se tornar o primeiro senador negro por São Paulo. O ineditismo e o compromisso que o candidato demonstra levam 95% do movimento negro a apoiá-lo, segundo o presidente da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Edson França. Além disso, Netinho recebe apoio também de movimentos feministas, que valorizam a sua atitude de ter enfrentado a polêmica sobre a agressão a sua ex-mulher, declarando que errou e defendendo políticas de combate à violência contra a mulher. 

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Edson França, durante marcha da consciência negra, em novembro de 2009

Edson França afirma que a Unegro está “com gás total” na campanha do candidato Netinho de Paula. Para ele, a questão do pioneirismo, ou seja, a possibilidade concreta de eleger o primeiro senador negro da história de São Paulo, anima o conjunto do movimento negro. Especialmente porque este pioneirismo, nas palavras de Edson França, vem aliado a compromissos públicos com o combate ao racismo expressos na própria atuação do candidato durante sua passagem pelo grupo Negritude Jr., pela condução do Projeto Família Negritude – hoje Instituto Casa da Gente -, pela promoção e participação em concursos de beleza negra, pela iniciativa de criação do canal televisivo “TV da gente”, voltado ao público negro, entre outras ações.

Segundo Edson, não é só a Unegro que está na campanha de Netinho: “o secretário de combate ao racismo do PT de São Paulo, Claudinho [Cláudio Silva] participa da coordenação de campanha, a ex-ministra da Promoção da Igualdade Racial Matilde Ribeiro é uma das suas suplentes, e há um consenso no movimento negro sobre a importância de eleger Netinho, até mesmo entre militantes do combate ao racismo de outros partidos, como PSB, PMDB, e até do PSDB”.

Em 2005, Netinho e Mano Brown gravaram em conjunto e foram parceiros na empreitada "TV da Gente".

Edson destaca a atuação também de outros artistas com histórico de militância no movimento negro e que representam a periferia, como o rapper do grupo Racionais Mano Brwon, o Aliado G, também rapper, do grupo Face da Morte, o Anderson 4P, outro militante do hip-hop, a sambista Leci Brandão, entre outros.

Netinho: “o Senado não é uma aposentadoria honrosa”

O Instituto da Mulher Negra Geledés também apoia o candidato do PCdoB, tendo veiculado entrevista com o candidato em seu portal eletrônico, em que Netinho afirmou que o Negritude Jr. era mais que um grupo musical: “na verdade havia idealismo por trás, realizávamos ações sociais e culturais”.

Netinho defendeu ainda renovação no Senado: “o Senado não é uma aposentadoria honrosa. Deve ser uma casa com espírito de renovação, com energia e vontade de contribuir para que o Brasil cresça ainda mais e para que os brasileiros tenham melhor qualidade de vida. Para tanto, o Senado deve se humanizar um pouco mais, tem que estar mais próximo do povo e não tem sido assim nos últimos anos”, e rebateu críticas a respeito da sua experiência política: “como vereador, trabalhei para a maior cidade da América do Sul. Quem é vereador numa metrópole como São Paulo tem experiência e conhecimento para atuar no Senado”.

Netinho: “o pobre no Brasil já nasce comunista”

Segundo Netinho, uma das razões para ter optado por ser candidato é que "a cada princesa que fazia, ficavam dezenas atrás". "Entendi que a única forma de mudar para todos era por meio da política", afirmou. A respeito de sua filiação ao PCdoB, é categórico: "o pobre no Brasil já nasce comunista e eu espero não mais ser indagado sobre isso".

Sobre a agressão do candidato à sua ex-mulher, Sandra Mendes F Crunfl, em 2005, Netinho trata com muita tranqüilidade: “eu reconheço que foi um erro, eu fui um agressor, mas me arrependi e admiti isso publicamente. Minha ex-esposa me perdoou e somos amigos hoje. Já falei disso várias vezes aos fãs e jornalistas e já pedi desculpas a todas as mulheres. Foi um episódio triste e lamentável, mas já foi superado. Levei a Maria da Penha ao meu programa de TV para me desculpar e ela me disse que, ao admitir meu erro e pedir desculpas, eu havia me tornado um dos maiores feministas”.

Feministas com Netinho

Pelo mérito de ter enfrentado o problema, quando muitos negam ou fogem dele, Netinho conquistou o apoio inclusive de feministas, que afirmam, em nota: “a própria Maria da Penha afirmou que esta sua atitude representava uma grande contribuição ao combate à violência contra a mulher. Além disso, a própria Lei é inovadora por considerar que se deve trabalhar com os homens visando alterar seu comportamento, já que eles não são violentos pela própria natureza. Seu comportamento pode mudar. E o exemplo de Netinho é emblemático da justeza da lei. O que se pede mais?”

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Netinho de Paula no lançamento da sua candidatura e do candidato ao governo de São Paulo, Aloisio Mercadante. (Foto: Alex Silva/AE)

O candidato

De família humilde, teve uma infância difícil. Para ajudar nas despesas de casa, vendia doces na estação de trem de Carapicuíba, na Grande São Paulo. Aos 24 anos, juntou-se ao Negritude Júnior, grupo de pagode que surgiu na Cohab 2 de Carapicuíba e que realizou projetos como o “Família Negritude”, ao qual o própio Netinho deu continuidade após o fim do grupo, denominando-o Instituto “Casa da Gente”. Como vereador, Netinho preside a Comissão Extraordinária de Defesa da Criança e do Adolescente e da Juventude. Entre os 22 projetos de lei apresentados na Câmara, destacam-se iniciativas em defesa deste segmento, por melhorias na educação e contra a discriminação racial.

Suplentes

Por fim, o credenciamento político do candidato Netinho de Paula pode ser confirmado pela composição da sua chapa, cujos suplentes são o militante histórico do PT Ricardo Zarattini e a ex-ministra de Promoção da Igualdade Racial Matilde Ribeiro.

Zarattini: engenheiro de profissão, subversivo por vocação.

Zarattini se autodefine "Engenheiro de profissão, subversivo por vocação". Começou em 1954, aos 16 anos, sua luta contra o "imperialismo" e pelas riquezas nacionais na campanha "O petróleo é nosso", pela criação da Petrobras. Um dos 15 presos políticos trocados pelo embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick – sequestrado em 1969 – e, com uma resistência admirável, passou por diversas prisões, pelo exílio, a clandestinidade, torturas, e só encontrou a liberdade definitiva em 1979, com a anistia. Liderou movimentos trabalhistas do campo, na Zona da Mata canavieira (PE), numa época em que os trabalhadores rurais eram quase escravos, e também na cidade com uma grande mobilização de trabalhadores da Scania, que se espalhou por outras empresas paulistas.

Netinho e Daniela Mercury executaram o Hino Nacional ao lado da ministra Matilde Ribeiro durante Dia Mundial de Luta contra a Aids em 2005

Matilde Ribeiro, militante do movimento negro e do feminismo, formou-se em Serviço Social na PUC de São Paulo. Nascida numa família de baixa renda,é filiada ao Partido dos Trabalhadores(PT). Após participar da equipe da campanha petista vitoriosa nas eleições presidenciais de 2002, ela foi convidada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para integrar o primeiro-escalão do governo em março de 2003. Ocupou até 1 de fevereiro de 2008 a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), que tem status de ministério.

Da redação, Luana Bonone