Greve dos bancários paralisa 7.437 agências, mais que em 2009
A greve nacional dos bancários de 2010 já superou o número de agências fechadas no movimento do ano passado. Conforme dados enviados pelos sindicatos e federações até as 18h para a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), nesta terça-feira (5), sétimo dia da paralisação, 7.437 agências de bancos públicos e privados não abriram suas portas nos 26 Estados e no Distrito Federal. Em 2009, os bancários paralisaram 7.222 unidades no dia de maior mobilização da greve.
Publicado 06/10/2010 10:25
São 910 agências fechadas a mais do que nesta segunda-feira, um aumento de 14%. Em relação ao primeiro dia da greve, iniciada na última quarta-feira (29/9), o crescimento é de 92,5%. Ainda foram paralisados centros administrativos e outras dependências dos bancos em todo país.
"O fechamento de agências cresceu todos os dias desde o início da greve, mostrando o aumento da adesão dos bancários e a força do movimento, apesar das práticas antissindicais adotadas pelos bancos", afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários.
Embora as atenções da categoria tenham se desviado para o primeiro turno das eleições, no último fim de semana, a festa cívica não esfriou a mobilização, segundo Cordeiro. Ao contrário, os bancários demonstram cada dia mais a “capacidade de resistência e enfrentamento à intransigência dos bancos”.
Banqueiros empurraram trabalhadores para a greve
"Os bancos empurraram os bancários para a greve, com uma postura intransigente e uma proposta rebaixada de reajuste. Agora, eles não aguentam a pressão da categoria e apelam para práticas antissindicais, em vez de retomar as negociações e apresentar uma proposta decente para a categoria", destaca o dirigente sindical. "Com lucros bilionários, os bancos não têm motivos para não atender a pauta de reivindicações dos bancários", justifica.
Ele denuncia a utilização de medidas autoritárias pelos bancos em todo país, como o interdito proibitório para impedir o convencimento dos trabalhadores, o uso da polícia para tentar abrir agências, a convocação de funcionários para entrar na madrugada nos locais de trabalho e a utilização de helicópteros para transporte de empregados, dentre outras. "O exercício da greve é um direito constitucional do trabalhador e não pode ser cerceado pelos bancos", aponta o dirigente sindical.
"Mas a greve está crescendo cada vez mais, demonstrando a insatisfação dos bancários. A Fenaban deveria ouvir esse recado, acabar com o silêncio, aproveitar a disposição de negociar do Comando Nacional e apresentar uma proposta decente que atenda às reivindicações da categoria", sustenta Cordeiro.
Os bancários reivindicam 11% de reajuste, valorização dos pisos salariais, maior Participação nos Lucros e Resultados (PLR), medidas de proteção da saúde que inclua o combate ao assédio moral e às metas abusivas, garantia de emprego, mais contratações, igualdade de oportunidades, mais segurança, previdência complementar para todos e fim da precarização via correspondentes bancários. Os bancos propuseram apenas reajuste de 4,29% (inflação do período) e rejeitaram as demais reivindicações.
Disposição de negociar
O Comando Nacional enviou nesta segunda-feira (4) uma carta ao presidente da Fenaban, Fábio Barbosa, reafirmando a disposição de negociar para buscar um acordo "que atenda à expectativa" da categoria e repudiando a postura das instituições financeiras, que apostam no confronto ao adotar práticas antissindicais para tentar enfraquecer o movimento dos trabalhadores. O documento foi remetido após a reunião do Comando Nacional, ocorrida em São Paulo. A Fenaban permanece irredutível, sem nenhuma sinalização de reabrir negociações.
"Lembramos que a greve é instrumento legal e que a lei nº 7.783/89 prevê em seu artigo 6º a realização de piquetes como meio de convencimento dos trabalhadores frente à intransigência das instituições financeiras, que se recusam em apreciar com seriedade as reivindicações levadas pela categoria", destaca o ofício.
Em apoio ao movimento, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) lançou nota oficial nesta terça-feira. Leia a nota da CUT:
"Nota oficial em apoio à greve nacional dos bancários
A Central Única dos Trabalhadores, à qual são filiados a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Sistema Financeiro (Contraf), sindicatos e federações de bancários por todo o Brasil, apoia integralmente a greve nacional dos bancários, e dela participa.
Trata-se de uma greve inevitável, forjada pela insensibilidade e inflexibilidade dos bancos, que a despeito de todo o lucro que vêm amealhando ao longo dos últimos anos e do ambiente estável e de crescimento econômico, construído pelos brasileiros e brasileiras, respondem à justa demanda dos bancários com uma proposta de reajuste que seria risível, não fosse ofensiva.
O lucro que os bancos registraram apenas no primeiro semestre deste ano foi de mais de R$ 25 bilhões. Nada seria mais justo que distribuir parte desse lucro para os trabalhadores, os maiores responsáveis pelos resultados, garantindo também aumento real de salários e valorização dos pisos, bem como melhores condições de trabalho, com o fim do assédio moral e das metas abusivas, que tem adoecido milhares de bancários em todo país.
Justo seria também investir de fato em serviços de qualidade para a população que utiliza os bancos, e a eles pagam altas tarifas de serviço e juros exorbitantes, além de enfrentar dificuldades para obter crédito. Sem falar nas filas intermináveis, na precariedade do autoatendimento, na insegurança que expõe a vida de bancários, vigilantes e clientes.
Enquanto isso, em outros setores econômicos, nossos sindicatos têm feito campanhas salariais que chegam a bom termo, com negociações sérias e acordos coletivos com avanços econômicos e sociais para os trabalhadores.
Desta forma, a greve dos bancários vai além da questão do aumento real e da melhoria das condições de trabalho. É uma greve por toda a população.
Assim, a CUT reivindica uma mudança de postura por parte dos bancos e o início de negociações em patamar diferente do atual, buscando garantir dignidade para os bancários.
Por fim, a CUT reforça a mídia da Campanha Nacional dos Bancários 2010: "Outro banco é preciso com as pessoas em primeiro lugar". O sistema financeiro não pode continuar se apropriando das riquezas da nação, mas precisa garantir contrapartidas para os trabalhadores e a sociedade brasileira.
São Paulo, 4 de outubro de 2010.
Artur Henrique, presidente nacional da CUT"
Da redação, Luana Bonone, com Contraf, Agência Brasil e CUT