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Religioso pernambucano diz que Dilma não fugiu à Luta; Serra, sim

Assistir neste domingo (17) a apreensão de panfletos contra Dilma Rousseff em gráfica de tucanos – e nos quais havia a logomarca da CNBB – e ver a adesão do histórico petista Hélio Bicudo à candidatura de José Serra foi demais para Reginaldo Veloso. O religioso, assistente do Movimento de Trabalhadores Cristãos em Pernambuco, emitiu nota dirigida ao arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns e ao jurista em que expõe sua posição a respeito da disputa presidencial.

Logo após a apreensão pela Polícia Federal dos mais de um milhão de impressos, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se pronunciou negando o envolvimento com o material. Hélio Bicudo, por sua vez, havia declarado no mesmo dia que votaria em Serra no segundo turno porque com Dilma “teremos um sistema mexicano de continuísmo”. Além disso, ele e Dom Paulo Evaristo Arns assinaram manifesto de juristas, que reuniu meia dúzia de “ativistas” no Largo São Francisco, em São paulo, no mês de setembro, pela “democracia” que eles entendem estar ameaçada sob o governo Lula.

Por tudo isso, ao ex-deputado federal e ao cardeal, Veloso diz: “os senhores, em nome da democracia, optam pela ‘alternância do poder’. Não aguentam mais oito anos de permanência e continuidade de um rumo que o país tomou, depois de 500 anos ao longo dos quais, praticamente, não houve verdadeira alternância de poder”.

Mais adiante, ele enfatiza: “a Dilma que vocês, provavelmente, visitaram e defenderam quando presa e torturada nos porões da ditadura militar por ter abraçado generosamente a luta pelas causas do povo, merece (a Presidência) bem mais que o Serra, o qual, na condição de auto-exilado no Chile, desfrutou de todas as honras, vantagens e oportunidades”. E completa: “o Hino Nacional, como alguém, antes mim, muito bem já lembrou, assim reza: ‘Verás que um filho teu não foge à luta’. Foi o que ela fez. Ele, não”.

Acompanhe a íntegra da carta.

Carta a D. Paulo e Hélio Bicudo – os panfletos da CNBB
Eminentíssimo Sr. Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns

É uma pena que tenhamos de assistir a estas recentes e surpreendentes manifestações vindas da parte dos Senhores. Os senhores, em nome da democracia, optam pela "alternância do poder". Não aguentam mais oito anos de permanência e continuidade de um rumo que o país tomou, depois de 500 anos, ao longo dos quais, praticamente, não houve verdadeira alternância de poder, pois só grupos oligárquicos, das elites político-econômicas rurais ou urbanas se revezaram na dominação, com exclusividade, do povo deste país. Toda a corrupção desses 500 anos de dominação dessas elites político-econômicas parecem merecer um olhar de compreensão e perdão da parte dos Senhores. Mas para o que houve de corrupção ao longo dos oito anos do Governo Lula, toda condenação e imperdoabilidade é pouca.
Eu até acho bom, por uma parte, que sejam tão exigentes com o Governo Lula, só que precisam agradecer-lhe pela abertura democrática e pela eficiência e pleno funcionamento dos órgãos de controle e fiscalização do próprio Governo que permitiram todos esses erros virem às claras e já terem sido, em boa parte, punidos.

Prezado Hélio e prezado Cardeal, pela história que vocês até pouco construíram, eu lhes peço que, pelo menos, se calem até o dia 31 de outubro. Que não contribuam com sua palavra, até pouco tão carregada de autoridade, para contrariar a expectativa dos empobrecidos e excluídos deste país, que pela primeira vez viram um Governo, realmente, inverter prioridades e governar na direção deles, e desejam muito que esse novo rumo tomado pelo país, há apenas oito anos, não seja tão logo mudado. E levem em conta, também, que, em matéria de credibilidade pessoal, a Dilma que vocês, provavelmente, visitaram e defenderam quando presa e torturada nos porões da ditadura militar por ter abraçado generosamente a luta pelas causas do povo, merece bem mais que o Serra, o qual, na condição de auto-exilado no Chile, desfrutou de todas as honras, vantagens e oportunidades. O Hino Nacional, como alguém, antes mim, muito bem já lembrou, assim reza: "Verás que um filho teu não foge à luta". Foi o que ela fez. Ele, não.

Muito agradecido por sua atenção,

Reginaldo Veloso,
presbítero das CEBs, Assistente do Movimento de Trabalhadores
Cristãos MTC, Recife – PE