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Parlamento esnoba povo francês e aprova reforma da aposentadoria

A Assembleia Nacional francesa votou na manhã desta quarta-feira a lei imposta pelo governo de Nicolás Sarkozy aos trabalhadores do país, aumentando a idade da aposentadoria de 60 para 62 anos, apesar das intensas e enormes manifestações populares contra a medida. Na quinta-feira (28), novos protestos tomarão as ruas das principais cidades do país.

A Assembléia Nacional aprovou a lei por 336 votos a favor contra 233 da oposição. O texto finalizado na segunda-feira (25) por uma comissão mista composta por sete deputados e sete senadores modifica a idade para a aposentadoria de 60 para 62 anos. O projeto também modifica de 65 a 67 anos de idade para a pensão completa, independentemente do número de trimestres avaliados.

Os oposicionistas anunciaram que vão recorrer ao Conselho Constitucional, invocando o preâmbulo da Constituição, que afirma que a França é uma república baseada no princípio da igualdade. "Nós dissemos que iriamos conduzir a batalha até o fim e isso é parte da batalha" declarou Jean-Marc Ayrault, representante do Partido Socialista na Assembléia Nacional.

A CGT, uma das centrais sindicais que organizam a luta contra a reforma acusou o governo Sarkozy de infiltrar agentes nas manifestações e nos piquetes de greve, para criar conflitos que muitas vezes levam à violência.

Nas manifestações de Paris foram identificados agentes do governo que se faziam passar por sindicalistas, denunciou o líder da CGT, Bernard Thibault.

Há várias semanas que a reforma é contestada com manifestações de protesto e violência nas ruas. Esta tarde, frente ao edifício do parlamento, em Paris, se reuniram alguns milhares de jovens.

Os sindicatos convocaram mais duas jornadas de protestos: para esta quinta-feira, 28 de outubro e no sábado, dia 6 de novembro. Várias refinarias mantêm o bloqueio e os trabalhadores das docas dos dois portos mais importantes – Marselha e Le Havre – continuam em greve.

Dividir para vencer

Um dos assuntos mais comentados na França nesta quarta-feira foi a atitude conciliadora e colaboracionista de François Chéréque, dirigente da Confédération Française Démocratique du Travail (Confederação Francesa Democrática do Trabalho – CFDT), que em um debate transmitido pela televisão "fez as pazes" com a presidente do sindicato patronal (Medef), Laurence Parisot.

A CFDT é uma central sindical que reúne mais de 800 mil trabalhadores franceses. Antiga Central Francesa dos Trabalhadores Cristãos, se laicizou nos anos 1960 e passou a colaborar com o Partido Socialista Unido francês. Mais tarde, reuniu-se ao Partido Socialista, de Miterrand. A central tem caráter social-democrata.

Para muitos analistas, Chéréque deu um passo atrás em relação às greves e manifestações que paralisaram a França nas últimas semana e se disse "disposto" a negociar, sobre outras bases.

Tampouco Thibault, da CGT, assumiu uma postura consequente, embora tenha prometido novas formas de rebelião e repúdio à lei que deverá entrar em vigor em novembro.

Fontes consultadas pela agência Prensa Latina afirmam que se estuda uma "desmobilização" das marchas e dos protestos, e as assembleias dos estudantes realizadas na terça-feira foram bastante reduzidas.

Também é previsível que a convocatória para a greve de quinta e, muito menos, a de 6 de novembro, não funcionem como antes, em razão de os trabalhadores estarem decepcionados com a atuação dos seus dirigentes sindicais.

Segundo a Prensa Latina, a estratégia de comunicação do governo rendeu frutos. A televisão dirigida por Sarkozy obedeceu seus ditames perfeitamente e preparou o terreno para diluir as ondas de protestos e manifestações.

Da redação, com agências