Para Galeano, "Kirchner será um fogo difícil de apagar"
O escritor uruguaio Eduardo Galeano teceu elogios e afirmou que o falecido ex-presidente "Néstor Kirchner será um fogo difícil de apagar", durante uma palestra que ministrou em San Miguel de Tucumán, na província argentina de Tucumán.
Publicado 30/10/2010 02:19
"Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam nem queimam, mas outros fogos ardem a vida com tanta vontade que não se pode olhar nem pestanejar, e quem se aproxima se queima. E Néstor Kirchner era um destes fogos", comentou o escritor, segundo divulgou nesta sexta-feira (29/10) a agência estatal de notícias Télam.
Ele contou que, "segundo me disseram, na costa colombiana, um homem velho, pobre, pescador negro conseguiu subir ao alto no céu, e do alto do céu viu a terra". "Na volta, contou e disse que os humanos são um mar de fogos, há fogos grandes, fogos pequenos e fogos de todas as cores", continuou o escritor, parafraseando o conto "O Mundo", inserido em sua obra "O Livro dos Abraços".
Devido à morte do ex-mandatário argentino, ele disse que havia pensado em suspender a palestra, mas preferiu dar prosseguimento, limitando-se apenas a autografar os exemplares levados por seus leitores.
Autor de "As Veias Abertas da América Latina" (1986), Galeano é conhecido por suas críticas aos Estados Unidos e recentemente defendeu ao jornal espanhol El País o presidente venezuelano Hugo Chávez.
Quadro sucessório
Kirchner era secretário-geral da União das Nações Sul-americanas (Unasul) e líder do Partido Justicialista (PJ, peronista) na Argentina, além de um dos nomes mais cotados para concorrer à presidência do país nas próximas eleições, que ocorrerão em 2011.
O ministro de Relações Exteriores da Argentina, Héctor Timerman, afirmou na noite de quinta-feira (28), que a presidente Cristina Kirchner será candidata para as eleições presidenciais. A declaração foi dada para a rede de televisão CNN durante o velório de Néstor Kirchner.
“Cristina vai ser candidata dos argentinos e a ganhadora das eleições, não tenho nenhuma dúvida”, anunciou o chanceler, segundo a agência de notícias Télam. “Nós dizíamos que poderia ser ele ou ela, agora com certeza será ela”, afirmou. Quando questionado, no entanto, sobre a confirmação da afirmação, o diplomata recuou: “Não está decidido, porque é uma coisa que ela é quem tem que decidir, mas sabe que tem o meu apoio”, disse.
As declarações do chanceler retratam as incertezas sobre o futuro panorama político argentino após a morte de Néstor Kirchner, assim como as expectativas em relação a como se organizará o cenário para as eleições presidenciais de 2011. Se há alguns meses a conjuntura política do país gerava dúvidas sobre qual cônjuge do casal presidencial tentaria se eleger como próximo presidente e como os partidos opositores se articulariam para combatê-lo, o recente acontecimento traz novos questionamentos.
Os principais deles remetem aos desafios que a presidente enfrentará para dar continuidade ao seu mandato sem o apoio do marido e às incertezas em relação à organização da coalizão Frente para a Vitória para a campanha eleitoral do ano que vem. “Ainda é muito cedo para fazer avaliações, pois não sabemos como Cristina pode reagir na ausência de seu marido e principal sustento político”, afirmou ao Opera Mundi o analista Marcelo Leiras, diretor das licenciaturas em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de San Andrés.
Há pouco mais de um mês, Leiras considerava que Kirchner emitia sinais de que queria voltar à Casa Rosada e que provavelmente seria o candidato pelo kirchnerismo em 2011. Para ele, hoje é precoce tentar prever como se comporá o cenário eleitoral a partir de agora. “A formação dos quadros políticos dependerá de como a reação popular diante da morte de Kirchner vai afetar a imagem do governo e o ânimo de Cristina”, explicou.
O pesquisador de sociologia histórica da política argentina pelo Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet), Nicolás Damin, acredita que a morte do ex-presidente terá um papel importante no futuro desenho da opinião pública: “Os argentinos têm uma forma muito particular de lidar com seus líderes mortos, como aconteceu com o general Juan Domingo Perón e com Raúl Alfonsín. A figura de Néstor vai somar muito neste aspecto e os níveis de aceitação do governo vão crescer fortemente”, disse.
Segundo o sociólogo, a massiva presença de pessoas na Casa Rosada para se despedir do ex-presidente no dia de sua morte e no velório pode ser avaliada, no interior do peronismo, “como uma clara opção dos cidadãos argentinos pelo kirchnerismo”.
Fonte: Opera Mundi