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Para Galeano, "Kirchner será um fogo difícil de apagar"

O escritor uruguaio Eduardo Galeano teceu elogios e afirmou que o falecido ex-presidente "Néstor Kirchner será um fogo difícil de apagar", durante uma palestra que ministrou em San Miguel de Tucumán, na província argentina de Tucumán.

"Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam nem queimam, mas outros fogos ardem a vida com tanta vontade que não se pode olhar nem pestanejar, e quem se aproxima se queima. E Néstor Kirchner era um destes fogos", comentou o escritor, segundo divulgou nesta sexta-feira (29/10) a agência estatal de notícias Télam.

Ele contou que, "segundo me disseram, na costa colombiana, um homem velho, pobre, pescador negro conseguiu subir ao alto no céu, e do alto do céu viu a terra". "Na volta, contou e disse que os humanos são um mar de fogos, há fogos grandes, fogos pequenos e fogos de todas as cores", continuou o escritor, parafraseando o conto "O Mundo", inserido em sua obra "O Livro dos Abraços".

Devido à morte do ex-mandatário argentino, ele disse que havia pensado em suspender a palestra, mas preferiu dar prosseguimento, limitando-se apenas a autografar os exemplares levados por seus leitores.

Autor de "As Veias Abertas da América Latina" (1986), Galeano é conhecido por suas críticas aos Estados Unidos e recentemente defendeu ao jornal espanhol El País o presidente venezuelano Hugo Chávez.

Quadro sucessório

Kirchner era secretário-geral da União das Nações Sul-americanas (Unasul) e líder do Partido Justicialista (PJ, peronista) na Argentina, além de um dos nomes mais cotados para concorrer à presidência do país nas próximas eleições, que ocorrerão em 2011.

O ministro de Relações Exteriores da Argentina, Héctor Timerman, afirmou na noite de quinta-feira (28), que a presidente Cristina Kirchner será candidata para as eleições presidenciais. A declaração foi dada para a rede de televisão CNN durante o velório de Néstor Kirchner.

“Cristina vai ser candidata dos argentinos e a ganhadora das eleições, não tenho nenhuma dúvida”, anunciou o chanceler, segundo a agência de notícias Télam. “Nós dizíamos que poderia ser ele ou ela, agora com certeza será ela”, afirmou. Quando questionado, no entanto, sobre a confirmação da afirmação, o diplomata recuou: “Não está decidido, porque é uma coisa que ela é quem tem que decidir, mas sabe que tem o meu apoio”, disse.

As declarações do chanceler retratam as incertezas sobre o futuro panorama político argentino após a morte de Néstor Kirchner, assim como as expectativas em relação a como se organizará o cenário para as eleições presidenciais de 2011. Se há alguns meses a conjuntura política do país gerava dúvidas sobre qual cônjuge do casal presidencial tentaria se eleger como próximo presidente e como os partidos opositores se articulariam para combatê-lo, o recente acontecimento traz novos questionamentos.

Os principais deles remetem aos desafios que a presidente enfrentará para dar continuidade ao seu mandato sem o apoio do marido e às incertezas em relação à organização da coalizão Frente para a Vitória para a campanha eleitoral do ano que vem. “Ainda é muito cedo para fazer avaliações, pois não sabemos como Cristina pode reagir na ausência de seu marido e principal sustento político”, afirmou ao Opera Mundi o analista Marcelo Leiras, diretor das licenciaturas em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de San Andrés.

Há pouco mais de um mês, Leiras considerava que Kirchner emitia sinais de que queria voltar à Casa Rosada e que provavelmente seria o candidato pelo kirchnerismo em 2011. Para ele, hoje é precoce tentar prever como se comporá o cenário eleitoral a partir de agora. “A formação dos quadros políticos dependerá de como a reação popular diante da morte de Kirchner vai afetar a imagem do governo e o ânimo de Cristina”, explicou.

O pesquisador de sociologia histórica da política argentina pelo Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet), Nicolás Damin, acredita que a morte do ex-presidente terá um papel importante no futuro desenho da opinião pública: “Os argentinos têm uma forma muito particular de lidar com seus líderes mortos, como aconteceu com o general Juan Domingo Perón e com Raúl Alfonsín. A figura de Néstor vai somar muito neste aspecto e os níveis de aceitação do governo vão crescer fortemente”, disse.

Segundo o sociólogo, a massiva presença de pessoas na Casa Rosada para se despedir do ex-presidente no dia de sua morte e no velório pode ser avaliada, no interior do peronismo, “como uma clara opção dos cidadãos argentinos pelo kirchnerismo”.

Fonte: Opera Mundi