Renato Rabelo: equipe de transição se compromete a ouvir aliados
Apesar de ser coordenada pelo presidente do PMDB, Michel Temer, e por três lideranças petistas, a equipe de transição para o governo de Dilma Rousseff deverá ouvir todos os partidos aliados — e não apenas PT e PMDB — na hora de tomar as principais decisões. Partiu da própria Dilma a decisão de indicar Temer, seu vice-presidente, como coordenador do grupo, bem como em estabelecer diálogo com todas as forças partidárias que, formal ou informalmente, apoiaram sua candidatura.
Por André Cintra
Publicado 03/11/2010 16:57
“Já fui comunicado de que, nessa equipe de transição, há uma pessoa encarregada de manter contatos com os partidos”, afirma ao Vermelho Renato Rabelo, presidente do PCdoB. “O objetivo é definir um programa de governo que leve em conta os pleitos e as ideias de toda a base aliada. Ao ter esse esboço em mãos, Dilma conversará, posteriormente, com cada um desses partidos, completando essa fase que eles chamam de formação para o novo governo.”
Para Renato, um dos desafios de Dilma, eleita presidente no último domingo (31), é não centrar as negociações em torno de cargos. “O PCdoB fica sempre incomodado se a discussão de formação de um governo não é pautada em cima de um projeto. Creio que Dilma está preocupada em debater quais são as medidas mais imediatas, de médio prazo — para aí, sim, ver a contribuição e o papel que cada partido pode ter nesse governo.”
Renato também propõe que, no seio dessa grande composição pró-Dilma, haja a formação de um núcleo de esquerda, com a participação de PT, PSB, PDT e PCdoB. “Não somos só nós que defendemos isso. O PT já falou a respeito, e os outros partidos de esquerda concordam.”
“Como essa frente de apoio a Dilma é muito heterogênea, propomos a articulação de alguns partidos que tenham mais semelhanças entre eles, mais convergências”, agrega o presidente do PCdoB. Um núcleo desse tipo, segundo ele, é importante para frear “as pressões, sempre muito fortes, das forças que querem manter o status quo e truncar as mudanças”.
O dirigente comunista acrescenta que a esquerda não deve apenas lutar pela mera continuidade do governo Lula. “Como a própria Dilma defendeu, é preciso avançar, das passos adiante. Esses avanços dependem de um projeto bem explícito e definido, com foco nas questões mais urgentes da atualidade. Se, por exemplo, houver reformas como a política e a tributária — sempre tão faladas —, é importante lutarmos para que o caráter dessas mudanças seja democrático.”
Na opinião de Renato, o governo Dilma também deverá enfrentar a chamada “guerra cambial”, para fortalecer a competitividade econômica do Brasil no comércio internacional. “Em virtude da herança dessa grande crise financeira que o mundo enfrentou, há uma luta entre forças hegemônica para disputar uma melhor posição comercial.” O Brasil, a seu ver, pode ser um dos mais prejudicados por esse conflito, a ponto de sofrer um processo de desindustrialização.
De acordo com o presidente do PCdoB, cada país tem de considerar a busca por um acordo multilateral, que é a “solução mais correta”. Dilma participará, em 11 e 12 de novembro, da próxima reunião do G20, na Coreia do Sul — mas Renato diz que é preciso ir além. “O Brasil também deveria tomar medidas de defesa. Até agora, nossas ações foram paliativas, como a elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que não dá conta de todo o problema.”
A votação dos projetos de regulamentação do pré-sal é outra responsabilidade que deve mobilizar a equipe de transição. “Uma questão como esta, da maior importância estratégica para o país, requer medidas efetivas — mas está tudo parado no Congresso. Dizem até que só vai ficar para o ano que vem.”
Renato adverte, porém, que cabe ao PCdoB, antes de tudo, ouvir a presidente eleita. “Dilma ainda vai dizer o que espera de nós em termos de participação no governo. Apesar de o PCdoB não ser um partido grande, temos uma série de quadros que podem contribuir para esta próxima fase de desenvolvimento do nosso país. Vai ser tudo de comum acordo, mas a iniciativa, naturalmente, é dela, de Dilma — não do partido.”