Ranking do IDH desconsidera avanços recentes na área de educação
O ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado esta semana pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), não reflete os avanços obtidos pelo Brasil nos últimos anos no campo da educação. A opinião é de três especialistas da área ouvidos pela Agência Brasil.
Publicado 06/11/2010 14:57
Apesar de apontarem problemas e defenderem a necessidade de mais investimentos no setor, os três acreditam que o país será mais bem avaliado nos próximos levantamentos, graças às políticas públicas colocadas em prática nos últimos quatro anos. No último levantamento, o país foi o que mais avançou, saltando da 77ª posição para a 73ª.
O desempenho, contudo, teria sido melhor se não fosse a revisão, pelo Pnud, dos critérios para avaliar a qualidade da educação, setor no qual o Brasil teve sua pontuação reduzida de 0,813 para 0,699, numa escala que varia de 0 a 1. O índice varia de 0 a 1 e, quanto mais próximo de 1, maior o nível de desenvolvimento humano.
Segundo o conselheiro do Movimento Todos pela Educação e professor da Universidade Federal de Pernambuco, (Ufpe), Mozart Neves Ramos, observando a evolução do índice é possível constatar “uma melhora acentuada” da educação brasileira, ainda que persistam problemas históricos como as altas taxas de repetência e a evasão escolar.
“Os investimentos aumentaram nos últimos três anos e os reflexos disso ainda não foram capturados pelo IDH. Mas a situação brasileira, de fato, ainda é delicada e temos muito o que fazer, principalmente se nos compararmos aos países vizinhos”, disse Ramos, elencando como prioridades para o próximo governo garantir que todas as crianças até 8 anos de idade saibam ler e escrever; criar um indicador nacional de alfabetização nessa faixa etária e valorizar os professores, procurando atrair jovens qualificados para o magistério.
O membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) Cesar Callegari também acredita que o ranking global não reflete a atual realidade do ensino brasileiro, embora a nova metodologia empregada seja melhor, na avaliação dele. Em vez de levar em consideração a taxa de analfabetismo e o número de matrículas nos três níveis de ensino, o Pnud passou a apurar a média de anos de estudo e a expectativa de escolaridade.
“A nova metodologia é mais fidedigna porque mede alguns valores que não vinham sendo levados em consideração, mas há algumas políticas recentes que ainda não foram avaliadas nesse índice, principalmente no tocante ao financiamento do sistema”, disse Callegari. “Por outro lado, os indicadores não revelam um problema de nossa educação, que são as desigualdades regionais”. Para ele, o próximo governo também deve dar especial atenção à melhoria da carreira do magistério.
O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, considera que, mesmo que os novos critérios adotados pelo Pnud tenham prejudicado países em desenvolvimento (que intensificaram seus investimentos no setor nos últimos anos) como o Brasil, o índice não deixa de refletir o fato de que a educação no país é ruim e precisa melhorar urgentemente.
“A mudança, de fato, é menos sensível às políticas que o Brasil vem adotando nos últimos quatro anos. Isso é fato, mas não desabona o levantamento. A educação brasileira ainda não está bem encaminhada. Ela ainda é de uma qualidade sofrível e precisamos tomar medidas urgentes, com ações conjuntas de estados, municípios e União”, declarou Cara.
Informações Agência Brasil