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Lula visita 1ª fábrica de remédios contra Aids em Moçambique 

A construção, com financiamento brasileiro, da primeira fábrica de medicamentos genéricos para combater a Aids, em Moçambique, "pode ser anunciada como uma revolução", defendeu nesta quarta (10) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo e último dia de sua visita à África. Esta é a última passagem de Lula pelo continente, antes de passar o cargo para sua sucessora, Dilma Rousseff.

Apesar da "tristeza" por não inaugurar nesta quarta, como antes estava previsto, a fábrica de medicamentos que o Brasil está financiando nos arredores de Maputo – com o apoio da Vale e da Fiocruz -, Lula destacou a importância do parque industrial, que vai ter capacidade para produzir, anualmente, 250 milhões de comprimidos, só para o combate à Aids.

"Para terem uma dimensão do que estamos falando, no Brasil, entregamos remédios para 138 mil pessoas. Aqui há 400 mil pessoas que não recebem remédios", exemplificou o presidente brasileiro, no final da visita à unidade. Lula disse que a fábrica vai ajudar a combater pandemias e salvar vidas não só neste país, senão em outros deste continente, ao fortalecer as políticas públicas de combate à Aids.

A expectativa é de que a fábrica esteja em funcionamento no final de 2011. "Eu espero estar aqui como convidado porque nós temos uma presidente (Dilma Roussef) que vai tomar posse no Brasil no dia 1º de janeiro, portanto quero ser convidado para tirar o primeiro comprimido junto com o presidente (Armando Emilio) Guebuza na fábrica de antirretrovirais em Moçambique", completou Lula.

De acordo com o ministério da Saúde do Brasil, 80% dos recursos financeiros para a aquisição de medicamentos em Moçambique procede de países doadores. Com a implementação da fábrica, Moçambique inicia a aquisição do conhecimento da tecnologia na produção publica de medicamentos, de acordo com os atuais padrões de Boas Práticas de Fabricação (BPF), o que deve reduzir a dependência e ampliar a autonomia neste setor, com a possibilidade de converter os atuais doadores em parceiros desta nova iniciativa.

O ministro da Saúde moçambicano, Alexandre Manguele, elogiou a iniciativa. "Significa muito, significa que para enfrentarmos um dos mais graves problemas de saúde pública, podíamos contar apenas com medidas preventivas", disse.

"Com a fábrica instalada aqui vamos produzir os medicamentos que precisamos, então vamos poder multiplicar a vida das pessoas que enfrentam uma doença mortal numa doença crônica que podemos tratar", completou. "No momento posso garantir que estamos tratando quase 210.000 pessoas, mas acreditamos que isso deve ser talvez cerca de 50% dos que necessitam". Moçambique é um dos países do mundo mais afetados pelo vírus da Aids, com 2,5 milhões de portadores, ou seja, 11,5% da população.

Parceria

Desde que assumiu a Presidência, em 2003, Lula realizou 12 viagens à África e visitou, em três ocasiões, Moçambique, que considerou ontem sua própria casa, por ser berço de parte importante da nacionalidade brasileira.

Durante seu mandato, o presidente brasileiro não cessou de lembrar que o Brasil – um dos últimos países do mundo a abolir a escravidão, em 1888 – é a segunda nação em população negra do mundo, atrás da Nigéria, com 76 milhões de afro-brasileiros sobre 190 milhões de habitantes

Neste período o governo brasileiro incrementou de maneira substantiva suas relações e a cooperação com os países africanos. Esta aproximação com a África entra no contexto do reforço da cooperação Sul-Sul que Lula preconiza.

A estratégia resultou frutífera, já que, desde 2003, os intercâmbios comerciais do Brasil com os países africanos quase triplicaram: passaram de 6,15 bilhões de dólares (dos quais 2,68 bilhões em exportações brasileiras) a 17,14 bilhões de dólares no fim de 2009 (dos quais 8,69 bilhões em exportações brasileiras), segundo o ministério de Comércio Exterior.

Em Moçambique, o Brasil está especialmente presente no setor minerador com a gigante Vale, que deve abrir uma mina de carvão em 2011 em Tete (norte), para a construção e a produção de biocombustíveis.

"A implantação de sedes da Universidade Aberta do Brasil em Moçambique é outra iniciativa de grande alcance social, que permitirá aos mais pobres terem acesso à educação superior", assinalou o brasileiro, agregando que isso fomentará a educação de qualidade em todos os níveis, pois sua prioridade é a capacitação de professores.

Lula apontou ainda que outro campo em que já Brasil tem uma aliança exemplar com o continente africano é na agricultura. E exemplificou que, com a colaboração do Japão, "vamos desenvolver, a partir de 2011, um projeto de grande impacto social e econômico Pró-Savana", disse, ontem, no jantar em sua homenagem oferecido pelo presidente moçambicano, Armanado Guebuza.

Essa iniciativa tenta reproduzir, no norte de Moçambique, na região da Savana, o sucesso do Programa de Desenvolvimento do Cerrado (Savana tropical brasileira), que transformou a região central do gigante sul-americano de uma área improdutiva em um dos principais celeiros da agricultura nacional.

Por uma ordem internacional mais justa

Pouco depois do meio dia desta quarta o presidente brasileiro partiria de Maputo com destino a Seul, Coreia do Sul, onde assistirá à Cúpula do G-20. No mesmo jantar, Lula advertiu que a instabilidade cambial e as desvalorizações competitivas das moedas só alimentam o círculo vicioso da ação unilateral e estimulam o protecionismo em todo mundo.

"Essas são as mensagens que Brasil levará à Cúpula do G-20", adiantou Lula, reiterando a necessidade de que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional abandonem, de uma vez por todas, "seus dogmas obsoletos e condicionantes absurdas".

"O desenvolvimento da África, Ásia e América Latina contribui ao crescimento global e à diminuição do desequilíbrio entre ricos e pobres", expressou Lula.

Ele manifestou a necessidade de que as economias das nações ricas retomem também o crescimento, já que a experiência de décadas passadas, incluída a brasileira, demonstra que ajustes recessivos desencadeiam freios, desemprego e mais desigualdade social.

"A reforma das instituições globais não podem ignorar a crescente relevância da África e da América do Sul, cujas economias estão entre as mais dinâmicas do mundo e entre as que primeiro retomaram o crescimento após a crise financeira", colocou Lula, afirmando ainda que Brasil e Moçambique são duas nações convencidas da necessidade de se construir uma ordem internacional mais justa e equilibrada.

O presidente brasileiro goza de uma imensa popularidade em Moçambique, onde o povo está agradecido pela ajuda do país irmão. Nesta terça-feira, estudantes o saudaram cantando e dançando: "Papai Lula, Papai Lula, Bye Bye".

Da Redação, com agências