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Niko Schvarz: Estados Unidos e Israel contra os palestinos

Hillary Clinton e Benjamin Netanyahu engendraram em Washington um acordo às costas dos palestinos e agora submetido à consideração do gabinete israelense, que supostamente estabelece uma moratória por três meses de construções na Cisjordânia (excluindo expressamente Jerusalém Oriental, onde se continua construindo a toda velocidade) em troca de uma série de concessões militares, econômicas e políticas dos Estados Unidos a Israel.

Por Niko Schvarz, no jornal La República (Uruguai)

O acordo é uma manobra infame contra os palestinos e uma burla à comunidade internacional, que reiteradamente se pronunciou contra as colônias em território palestino e contra o muro da vergonha. Diga-se de passagem que será construído mais um muro, chamado barreira fronteiriça, para isolar Israel do Egito, segundo anunciou Netanyahu no domingo (14).

Os Estados Unidos entregarão à aviação militar de Israel 20 caças F-35, seu aparato militar mais moderno, pelo valor de US$ 30 bilhões. Para seguir mantendo seu pleno domínio militar na região, como foi expresso no recente massacre da Faixa de Gaza, os ataques ao sul do Líbano e o atentado à flotilha da liberdade.

As medidas políticas consistem em assegurar o veto dos Estados Unidos a toda medida contra Israel na ONU e organismos internacionais (o que tem como contrapartida que Israel é o único que acompanha os EUA na ONU no bloqueio contra Cuba, contra a opinião de todos os demais países do mundo).

Além disso, os Estados Unidos asseguraram a adoção de medidas para conter o Irã. José Levy, da CNN, fez esta afirmação. Netanyahu expressou, ao pedir a aprovação do gabinete à proposta, que busca um acordo que resolva "as ameaças que enfrentaremos na próxima década".

Em 26 de setembro, encerrou-se o prazo da moratória de construções no território palestino que Israel havia se comprometido a cumprir em um prazo de 10 meses, e nesse dia foram encerradas sem dó nem piedade as conversações diretas entre palestinos e israelenses, iniciadas no dia 2 do mesmo mês, com resultado nulo.

No entanto, o fato real é que as construções tiveram continuidade, assim como as expulsões de cidadãos palestinos de suas residências. Na segunda-feira (8), Israel anunciou oficialmente a construção de 1.300 novas moradias em Jerusalém Oriental.

Nesta segunda-feira (15), a ONG israelense Paz Agora informou que os colonos judeus haviam dado início a obras para erguer 1.649 casas, depois do fim da moratória, informando também que neste período foram feitas as fundações para outras 1.126 novas casas.

Esses trabalhos de construção foram realizados em 63 colônias, 46 das quais estão situadas a leste da "barreira de segurança", que Israel constrói na Cisjordânia. Para ser mais claro: roubando terrritórios palestinos. A ONG diz também que "ao longo do ano de 2009 foi lançada a construção de 1.888 novas casas", o que confirma nossa afirmação anterior.

Sua conclusão é que, nas seis semanas transcorridas desde o dia 26 de setembro o ritmo das construções ilegais se acelerou com muita rapidez.

Mas as agressões aos palestinos não terminam por aqui. Camponeses palestinos do norte da Cisjordânia acusaram no domingo (14) colonos judeus de terem queimado 200 oliveiras de sua propriedade e incendiado as terras ao seu redor.

A colheita das oliveiras começou no mês passado e é um símbolo da sociedade palestina e de sua conexão com a terra. Estas medidas suscitam reprovação, e não só entre os palestinos. Dias passados jovens judeus interromperam um discurso de Netanyahu com cartazes e gritos de "As colônias ilegalizam Israel", o mesmo que o assédio a Gaza.

Segue aqui o resumo de um experiente analista: "A história da moratória não tem pé nem cabeça. A moratória de 10 meses que terminou em setembro não serviu de nada. Israel continuou a construir nos territórios ocupados. As colônias judaicas florescem por todas as partes e as obras públicas não ficam para trás. As escavadeiras não param de construir estradas para os colonos na Cisjordânia. E, desde setembro, quando terminou a moratória, teve início a construção de mais casas nas colônias que durante todo o ano de 2009. Enquanto isso acontece, os Estados Unidos prometem a Israel todo tipo de benefícios".

Ainda assim, no gabinete israelense, tanto o chanceler ultradireitista Avgdor Lieberman, do partido Israel Beiteinu, como o ministro do Interior Elie Yishai, do ultrareligioso Shass, se opõem a toda moratória, assim como o conselho representativo dos 300 mil colonos israelenses da Cisjordânia.

Os palestinos (que, reiteramos, não foram consultados nem sequer informados) exigem uma moratória total, incluindo, logicamente, Jerusalém Oriental.

Reunimos a esses fatos o anúncio do presidente do Uruguai, Mujica, no 16° Congresso Panamericano Árabe que acaba de ser realizado em Montevidéu, de que o Uruguai estabelecerá relações com a Palestina, que poderá constituir sua embaixada na nossa capital no primeiro semestre de 2011.