Luciano avalia resultados das eleições em Pernambuco e no Brasil

A campanha presidencial e a eleição de Dilma, o futuro governo e as mulheres, a maioria parlamentar como base de sustentação do novo governo e o desempenho do PCdoB em nível local e nacional foram objeto de uma análise lúcida e objetiva do deputado estadual eleito Luciano Siqueira  durante encontro de trabalho com assessores para avaliar os resultados da recente disputa eleitoral. Leia abaixo os principais trechos da conversa.

Eleição de Dilma
"Mesmo sem ter nos debruçado mais demoradamente sobre os fatos penso que podemos fazer alguns registros. O primeiro diz respeito a uma questão chave das eleições, que nós ressaltamos a todo instante durante a campanha: a absoluta importância de eleger Dilma. Para o PCdoB, mesmo que nós chegássemos a ter um resultado ruim do ponto de vista da eleição dos candidatos do partido, Dilma sendo eleita nós consideraríamos o resultado das eleições uma grande vitória do povo brasileiro. Eu digo isso para enfatizar a importância estratégica dessa vitória. Uma vitória extraordinária, sobretudo porque, embora ela não tenha apresentado seu programa de governo, nós temos certeza de que Dilma está comprometidíssima com a continuidade dos programas do governo do presidente Lula e com os avanços dessas propostas".

Serra e o obscurantismo

"A vitória de Serra, além da onda de obscurantismo que tomaria o País, haja vista aquelas questões do aborto e da religião, seria também um retrocesso do ponto de vista político, econômico e social. Um exemplo é que, embora Serra, acuado por Dilma, negasse a pretensão de privatizar a exploração dos recursos do pré-sal, o genro de FHC, David Zylbersztajn, e outros quadros importantes do PSDB defenderam essa medida. Além disso, Serra se apresentou na campanha sem programa, sem propostas claras, por incapacidade de unir as forças que o apoiaram".

Governo Dilma
"Por várias razões, eu penso que Dilma pode avançar ainda mais do que Lula. Uma é que, diferentemente de Lula, ela se elegeu com o apoio da maioria de senadores e deputados federais, portanto, já inicia o governo com larga maioria no Senado e na Câmara dos Deputados. Além disso, a presidenta eleita discutiu bastante as propostas de governo com os partidos, com o nosso partido. Não tem a experiência, a habilidade política, o carisma, o prestígio popular de Lula, que só o tempo constrói, mas é uma mulher competente, capaz, conhece os problemas do País, sabe do que está falando".

"Por isso, digo que não tem o menor sentido olhar o governo Dilma comparando-o com o de Lula. É outra coisa. Ela é mais competente do que Lula na compreensão e no domínio dos problemas, coisa que a trajetória de vida lhe permitiu e não permitiu para Lula. Não cabe comparar porque são duas pessoas de naturezas distintas. Dilma é uma mulher competente, com experiência de gestão, é durona, e se não tiver grandes embaraços na operação política – e é preciso que ela tenha uma equipe de governo na qual se incluam pessoas hábeis, com experiência e credibilidade para ajudá-la a se relacionar com o Congresso, com os partidos, com a sociedade -, tem tudo para fazer um grande governo".

O efeito Lula
"A eleição de Lula presidente da República teve um grande impacto na sociedade, na formação da consciência política do povo, principalmente entre os trabalhadores e as massas populares do País. Eu escrevi um artigo “O garoto que queria ser presidente”, onde registro o fato ocorrido em uma escola primária de Paulista: a professora perguntou na sala de aula o que cada um gostaria de ser e cada garoto (a) disse alguma coisa, e um deles disse; “eu quero ser presidente da República” e aí o resto da turma começou a rir. Mas, a professora pediu silêncio e perguntou porque o menino queria ser presidente e ele respondeu: “Porque Lula era pobre que nem eu e é presidente da República, então também posso ser”.

"Então, entendo que a ascensão de Lula à Presidência da República e os êxitos do seu governo elevaram a autoconfiança e auto-estima do povo e criaram, talvez, um dos elementos que expliquem a vitória de Dilma, apesar do bombardeio da mídia. Primeiro, o governo de Lula mudou a vida da população, não tem outro fato, e segundo é um candidato com a cara do nosso povo. Nós já tivemos grandes lideranças no Brasil, como Luiz Carlos Prestes e Getúlio Vargas, mas acho que Lula ultrapassa isso com as características de hoje. Então, esse foi um fenômeno, que contribuiu para a formação da consciência política do nosso povo".

Dilma e a questão de gênero
"E agora é Dilma, uma mulher. Eu escrevi um artigo que está no Vermelho onde comento como é difícil a luta pela igualdade de gênero. Primeiro, porque ainda não é uma luta de massas no Brasil. O movimento feminista é formado por seitas, muito estreito, muito voltado para si mesmo, muito principista, teórico, pouco ligado à massa de mulheres. Em segundo lugar, porque o machismo predomina largamente entre as mulheres brasileiras. Lá na prefeitura (do Recife) todas as vezes que nós recebíamos novos concursados, quando me era dada a palavra – principalmente quando eram pessoas da Educação em que mais de 80% são mulheres -, eu introduzia a questão de gênero, da opressão, da igualdade de gênero, e ao olhar para a plateia só uma parcela diminuta compreendia e acenava com a cabeça concordando".

"Eu acho, no entanto, que, com uma mulher no poder, especialmente se ela for tendo êxito no governo, aos poucos a ficha das mulheres brasileiras vai cair. Acho que nós devemos aproveitar esse fato para discutir mais amplamente a questão de gênero e dar a nossa contribuição na luta pela igualdade entre homens e mulheres que é um elemento revolucionário, importantíssimo para a transformação da sociedade brasileira. João Amazona dizia: “Quanto mais avançar essa luta específica maior será o sinal de que a luta revolucionária no Brasil vai avançando”.

Maioria parlamentar
"A maioria parlamentar merece também muita atenção. Primeiro aspecto positivo: é uma maioria que dará sustentação ao governo. Segundo, nessa maioria de senadores e deputados federais não predominam parlamentares de esquerda. É certo que na Câmara dos Deputados a maior bancada é do PT e no Senado é do PMDB, mas, quando você vai rastrear, a maioria não tem uma posição avançada, tem gente de direita, de centro, tem gente conservadora. Então é um desafio lidar com essa bancada, que é um reflexo da complexidade da sociedade brasileira, que é marcada por desigualdades e distorções. Desigualdades sociais, culturais e regionais produtos da sociedade brasileira e da correlação de forças real da sociedade. Por isso, vale a pena levar isso em consideração".

"Prestar atenção também na distribuição de forças entre os partidos que vão governar os Estados. O partido que mais conquistou governos estaduais foi o PSDB, oito Estados, e desses oito governos tem dois que são os maiores colégios eleitorais do País: São Paulo e Minas Gerais. Então, a oposição não morreu, tem força, tem a mídia, tem o poder econômico em larga escala e governadores de Estados importantes. Há um crescimento importante do PSB, que sai com seis governadores, mais do que o PT que tem cinco. E tem dois partidos do lado de lá que estão praticamente aniquilados: o Democratas e o PPS, sobre os quais fala-se que podem se dissolver e se incorporar ao PSDB".

O PCdoB e as eleições

O nosso partido teve uma vitória importante nas circunstâncias em que nós disputamos as eleições porque agora nós temos mais um senador, no caso uma senadora, Vanessa Grazziotin, do Amazonas, que era deputada federal e se elegeu senadora derrotando diretamente um dos principais líderes dos tucanos, Arthur Virgílio, e quase elegemos outros dois senadores no Acre e em São Paulo. També quase elegemos nosso candidato Flávio Dino governador do Maranhão, que por muito pouco não foi para o segundo turno e hoje é um fortíssimo candidato a prefeito de São Luís.

Em Pernambuco, o PCdoB também venceu as eleições. Primeiro, porque nossos aliados venceram, Eduardo e os senadores, e nós demos nossa contribuição. E venceu também porque nós voltamos a ter uma cadeira de deputado federal que será ocupada por Luciana Santos, que não é uma deputada qualquer, é um dos melhores quadros do partido. Nós não elegemos o número de deputados estaduais que nós esperávamos eleger porque com a legislação eleitoral em vigor, com o financiamento privado de campanhas e as regras que estão em curso não é fácil eleger grandes bancadas de um partido como o nosso. Assim sendo, as vitórias do PCdoB são vitórias importantes, não na dimensão que nós gostaríamos, mas são conquistas importantes.

A vitória em Pernambuco
"Em Pernambuco nós temos muitos motivos para comemorar. Em primeiro lugar, a reeleição de Eduardo Campos, o que nas condições de hoje é uma grande vitória. Se ele tivesse ganhado com um voto de diferença, seria uma grande vitória. Só que ele ganhou com 82% dos votos e derrotou por mais de três milhões de votos Jarbas Vasconcelos. Foi uma vitória acachapante, que enfraquece muito a direita, que está dividida, esfacelada, e significa a continuidade de um projeto de governo que está em sintonia com os projetos do governo federal".

"É um programa de governo que está atualizado, é correto e tem o nosso apoio, com linhas centrais corretíssimas e que contribuem para esse novo ciclo de crescimento econômico que Pernambuco está vivendo e que em 20 anos pode triplicar o valor do PIB – Produto Interno Bruto do Estado. E Eduardo ganha as eleições com o apoio dos dois novos senadores eleitos de Pernambuco, de 20 dos 25 novos deputados federais do Estado e da maioria dos 49 deputados estaduais eleitos este ano, o que mostra que a correlação de forças é plenamente favorável ao nosso lado".

Movimentos sociais
"Há um elemento que tanto em plano nacional como local deve-se prestar atenção: a participação do movimento popular organizado nessas eleições. Eu sei que as centrais sindicais, a UNE, a UBES penaram para apoiar Dilma porque formou-se um núcleo de coordenação da campanha que se fechou em alguns momentos até para o presidente Lula e, por isso, os movimentos sociais tiveram dificuldades. Só quando a campanha foi para o segundo turno é que se abriu um pouco para Dilma se reunir com esses grupos".

"Aqui em Pernambuco, se eu não estiver enganado, a participação foi muito pequena o que também reflete o nível de atividade do movimento operário, sindical, estudantil. Isso preocupa porque, se no governo Lula a presença de um ex-sindicalista com o carisma, prestígio e liderança do presidente, de certa maneira pode ter contribuído para o papel pequeno do movimento popular no esforço de viabilizar as propostas de governo, no governo Dilma, não é mais Lula, eu imagino que naturalmente haja mais necessidade do apoio do movimento popular organizado ao governo".

"Se o movimento popular organizado souber explorar essa oportunidade vai ter pelo menos o co-protagonismo no governo de Dilma. Isso é um grande desafio e uma tarefa estratégica para avançar a luta do povo. Nosso partido defende que o movimento social seja independente do governo, mas que não se furte a apoiá-lo quando a causa for justa nem a fazer atrito quando for necessário, agora não pode ter o comportamento de tratar o governo de aliado como inimigo".

Fonte: Site de Luciano Siqueira