Alunos e professores rejeitam avaliação tucana do ensino em SP

Os 200 alunos, 100% dos matriculados no 3º ano do ensino médio da Escola Técnica Estadual de São Paulo, Etesp, considerada a melhor escola estadual paulista, boicotaram ontem (17) a prova do Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar). Segundo nota divulgada pela Apeoesp, o sistema é "utilizado para políticas excludentes e punitivas contra os professores e a escola pública". E alerta que se persistirem essas políticas, "o ano letivo não vai começar".

Os estudantes fizeram uma manifestação em frente à escola, pedindo para ser atendidos pela diretoria –o que não aconteceu até o final do protesto, às 12h.

Estudantes em frente a escola técnica durante protesto contra o Saresp; cerca de 200 alunos boicotaram a prova ontem

O boicote foi organizado pelo grêmio estudantil. Segundo o estudante Daniel, 16, os alunos da Etesp, no Bom Retiro (centro de SP), não são contra às avaliações periódicas. "Mas isso tem de ser acompanhado por melhorias efetivas na educação. Do jeito que está, é só uma prova sem função alguma."

A expectativa do Estado é que, nos dois dias de prova (termina hoje), 2,5 milhões de estudantes de escolas estaduais, municipais, particulares e técnicas participem da avaliação do governo. Desses, 1,7 milhão são da rede estadual de ensino.

Segundo a Secretaria da Educação, é com base nos resultados das provas que são traçadas "políticas públicas de aprimoramento da educação oferecida aos quase cinco milhões de estudantes das escolas públicas paulistas".

Bruno, 16, acredita que o Saresp "visa apenas a dar uma satisfação à opinião pública, descontente com os resultados pífios da educação pública paulista".

"É um "me engana que eu gosto". Eles fazem o Saresp ao mesmo tempo em que entregam livros didáticos que mostram o continente americano com dois Paraguais. Isso é sério?", pergunta o estudante (refere-se ao episódio ocorrido em 2009, quando a Secretaria Estadual da Educação distribuiu livro de geografia com mapa errado da América do Sul).

A Etesp é a mais bem colocada dentre todas as estaduais paulistas, mas ocupa a tímida 116ª posição dentre as melhores escola do país, de acordo com o último ranking do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). O ingresso se dá por vestibulinho pois há poucas vagas para a demanda.

Em texto publicado no site da entidade, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, Apeoesp, condenou o SARESP, que chamou de política punitiva e excludente. Veja a íntegra:

Para que serve a avaliação?

Mais uma vez o governo do Estado de São Paulo realiza as provas do SARESP – Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar, do qual decorre o IDESP – Índice de Desenvolvimento Educacional do Estado de São Paulo, utilizado como parâmetro para o pagamento do Bônus Resultado aos profissionais da educação e para políticas excludentes e punitivas contra os professores e a escola pública.

Para nós, toda atividade humana, sobretudo a atividade educacional, precisa ser avaliada. Entretanto,
para que serve a avaliação? Para punir e excluir? Ou para promover, incluir, equalizar recursos e
valorizar os professores e a educação pública?

O fato é que todos os processos avaliatórios promovidos pelo governo do PSDB têm a marca da
exclusão. Seus resultados são utilizados para desviar o foco das responsabilidades do próprio governo e para culpabilizar os professores – e os próprios alunos – por eventuais maus resultados e deficiências da rede estadual de ensino.

Ao mesmo tempo, para minimizar os aspectos negativos das avaliações, o governo estadual altera
metodologias ano a ano, mascarando as deficiências.

Durante a campanha eleitoral o PSDB propagandeou que os resultados do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica refletiriam uma suposta boa qualidade do ensino no Estado de São Paulo, escondendo o fato de que 50% do IDEB é composto pela aprovação dos alunos em suas respectivas séries e que a aprovação automática distorce esse resultado no caso da rede estadual de ensino.

Outra distorção alarmante está presente no uso que o governo faz dos resultados do SARESP. O
IDESP é utilizado não para fornecer subsídios materiais e pedagógicos às escolas com maiores dificuldades – muitas delas decorrentes do contexto sócio-econômico no qual estão inseridas. É usado para punir escolas e professores que apresentam os déficits mais expressivos, uma inversão de valores que não ajuda a melhorar a educação pública. Ao contrário.

Outras avaliações, sobretudo o provão dos ACTs, são usadas para excluir e punir professores da
rede estadual de ensino. O resultado, como já havíamos alertado, é a falta de professores, o que levou a Secretaria da Educação a contratar docentes que sequer participaram da prova, criando mais uma grave contradição na forma de contratação de professores no Estado de São Paulo.

Utilizar uma avaliação, como a promoção por mérito, para discriminar 80% dos professores, agredindo a isonomia salarial e criando uma situação na qual professores com a mesma carga horária, mesmo local de trabalho e mesmas funções recebam salários diferentes tampouco ajuda a educação pública e melhorar.

Diante desse quadro, a APEOESP reafirma sua posição de que educação é uma atividade coletiva
por excelência e que, portanto, a avaliação do processo educacional não pode ser individualizada apenas na figura do professor ou do aluno. Ela tem que ser diagnóstica, no sentido de aferir a consistência e a eficácia das políticas educacionais, as condições objetivas e subjetivas que condicionam seus resultados, e, assim, ser uma referência para a correção de rumos e aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem.

Queremos mudanças profundas na educação pública no Estado de São Paulo. Queremos ser respeitados e valorizados, assim como nossos alunos. Se persistirem políticas excludentes, arrocho salarial, discriminação aos aposentados, autoritarismo, assédio moral, recusa em abrir canais de negociação, não teremos outra saída: o ano letivo não vai começar.


Com informações Folha de S.Paulo e Apeoesp