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Cúpula de Lisboa tornará Otan ainda mais agressiva

A Cúpula de Lisboa, que a Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan), também chamada de Aliança Atlântica, realizará nesta sexta-feira e no sábado (19 e 20), na capital portuguesa, aprovará um novo conceito estratégico, com validade de 10 anos. A reunião pretende ser uma das mais ambiciosas, com decisões sobre o Afeganistão, a criação de um sistema de defesa antimísseis e uma ampla reestruturação interna para adaptar a Aliança agressiva à nova realidade mundial.

A Otan foi criada em 1949 pelos Estados Unidos, no contexto da Guerra Fria. Foi o principal instrumento do imperialismo estadunidense e seus aliados europeus no enfrentamento aos países socialistas e nas ações para impor o sistema neocolonialista em todo o mundo no período após a Segunda Grande Guerra.

Embora tenha surgido antes do Pacto de Varsóvia, os EUA tentaram justificar a sua existência como uma contraposição ao Pacto. Após o fim da União Soviética e, consequentemente, do Pacto de Varsóvia, a Otan busca a cada 10 anos renovar o seu conceito estratégico, em uma tentativa de justificar a sua própria existência, que agride a concepção de um mundo de paz, já que se trata de um bloco essencialmente militar.

Participarão da Cúpula de Lisboa também o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o presidente afegão, Hamid Karzai, e outras instituições internacionais presentes no país.
No acordo consta a criação de um escudo de defesa antimísseis. O sistema usaria como base o novo projeto lançado pelo governo americano.

A presidente do Conselho Mundial da Paz (CMP), a brasileira Socorro Gomes, acredita que há em todo o mundo um sentimento latente dos povos de repulsa aos tenebrosos planos de guerra do imperialismo, e que os movimentos de luta pela paz consideram que a Otan é o principal instrumento de militarização e guerra do imperialismo estadunidense e seus aliados europeus. Por este motivo, estão marcados, para esta sexta e sábado (19 e 20), protestos em Lisboa da campanha “Paz sim! Otan não!”, reunindo organizações de luta pela paz de diversos países, encabeçados pelo Conselho Português pela Paz e pela Cooperação, entidade-membro do CMP. Também participa do movimento, entre outras entidades, a maior central sindical portuguesa, a Confederação Geral de Trabalhadores de Portugal (CGTP).

Para a presidente do CMP, do ponto de vista dos povos e das nações independentes, da defesa da liberdade e da paz, anseios supremos da humanidade, não há razão que justifique a existência da Otan, motivo pelo qual os protestos em Lisboa têm como pauta a luta pela extinção do órgão.

Novo começo com a Rússia

O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, afirmou ainda que a Cúpula de Lisboa, constituirá "um novo começo" nas relações com Moscou, após o impasse devido ao conflito russo-georgiano de agosto de 2008. Rasmussen espera que o presidente russo, Dmitri Medvedev, e a Aliança acordem lançar uma análise conjunta sobre como podem cooperar no projeto de defesa anti-míssil. Além disso, a Otan e a Rússia devem aprovar uma declaração conjunta sobre temas como o terrorismo ou a pirataria.

No entanto, o Kremlin não deverá efetuar concessões que ponham em risco sua segurança. Segundo Medvedev, o ideal seria "a criação de um fundo comum antimísseis com a participação de Rússia, Estados Unidos e os países europeus", ou seja, que incluiria também o novo escudo americano e seus radares e mísseis na Romênia e na Bulgária.

Moscou propôs à Otan, ainda, a assinatura de um acordo vinculativo que limite a presença futura de tropas e armamento pesado no território dos novos países-membros da Aliança. Quando os russos falam de novos países-membros, referem-se justamente aos Estados que ingressaram na Aliança após a queda da União Soviética em 1991, ou seja, os antigos membros do Pacto de Varsóvia (Polônia, Romênia, Bulgária, República Tcheca e Eslováquia) e as três repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia).

As autoridades russas consideram "sem sentido" a Otan afirmar que o país já não representa uma ameaça para a Aliança, ao tempo em que instala bases militares na Europa Oriental. A nova doutrina militar, cunhada pelo Kremlin em fevereiro deste ano, segue mencionando a expansão da Otan em direção às fronteiras russas como um dos principais perigos militares para este país.

O "conceito estratégico" deve apostar ainda em um reforço das associações já existentes com Rússia, Austrália, Coreia do Sul, Japão e nações do Oriente Médio. A Otan pode ainda explorar uma aproximação política e militar com potências emergentes como Brasil, China e Índia. No caso do Brasil, recentemente, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, rejeitou a proposta de considerar o Atlântico Sul como área estratégica no quadro da Otan. (LINK)

Austeridade chega à Otan

Na cimeira deverá ainda ser aprovado o plano para diminuir despesas administrativas, sem, contudo, afetar pontos prioritários, como transporte estratégico, helicópteros de transporte ou combate a artefatos explosivos.

Socorro Gomes denuncia que exatamente nos momentos de crise profunda do capitalismo, como o atual, os países imperialistas apostam na militarização e no prosseguimento das guerras de agressão no Oriente Médio e na Ásia Central.

Afeganistão

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, aproveitará a cúpula da Otan para obter de seus aliados opiniões referentes a uma possível revisão da estratégia no Afeganistão, que está pendente na Casa Branca para dezembro. Na reunião especial sobre o Afeganistão, será anunciado formalmente o início, durante os primeiros meses de 2011, da transferência da responsabilidade da segurança em alguns distritos ao comando afegão.

A Casa Branca deixou claro que a saída será muito gradual, e ainda haverá tropas da Otan no Afeganistão durante pelo menos dois ou três anos. O Reino Unido anunciou que se retirará completamente até 2014, data parecida com a estipulada por Washington.

O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, considera que a intervenção no Afeganistão foi um erro, na medida em que a Aliança Atlântica subestimou o desafio e não disponibilizou os recursos necessários: “em retrospectiva, penso que subestimamos o desafio e a nossa operação no Afeganistão não dispunha de recursos suficientes, nesse sentido a minha resposta é que sim, que foi um erro”, admite o responsável, em entrevista.

Protestos

A Campanha “Paz sim! Otan não!” organiza uma manifestação no sábado (20), às 15h. As ações previstas acontecerão no centro de Lisboa, longe do recinto do Parque das Nações, onde se reunirão os chefes de Estado dos países membros da Otan. As autoridades lusas reforçaram as medidas de segurança e aumentaram o esquema de segurança com a compra de 45 veículos militares, entre eles, vários blindados.

Entre os oradores previstos, há figuras políticas e culturais de vários países, entre eles França, Alemanha, Suécia, Afeganistão, Brasil e Espanha, assim como políticos portugueses de esquerda e representantes de movimentos sociais e sindicais.

Na opinião da presidente do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes, que será uma das oradoras do ato, o protesto que se realizará no centro de Lisboa terá grande significado, pois constitui uma retomada da luta de massas pela paz e também um resgate da própria história gloriosa do movimento mundial pela paz, de que é parte o CMP. O Conselho Português pela Paz e a Cooperação organiza, ainda, uma Conferência Internacional Contra a Otan, que ocorrerá nesta sexta-feira (19), também em Lisboa.

“A Otan era [durante a Guerra Fria], como ainda é, o braço armado de uma política imperialista. Ela correspondeu, desde a sua fundação, à decisão norte-americana de usar a força, num momento em que os Estados Unidos despontavam como a superpotência líder dos países capitalistas e estavam constituindo a ordem mundial de acordo com os seus interesses”, denuncia Socorro.

As entidades que compõem o Conselho Mundial da Paz identificam que “os chamados ‘novos perigos’, tais como ‘a conexão entre tecnologia e terror’; ‘o stress a que é crescentemente submetido o regime de não proliferação nuclear’; ‘a existência de históricas tensões, incidentes e instabilidade na periferia da Europa’; ‘a pirataria’; ‘os riscos ao fornecimento de energia’; ‘as negligências ambientais’ e os ‘ataques informáticos’, são uma reedição, adaptada à conjuntura atual, de conceitos como ‘combate ao terrorismo’ e ‘evitar o desastre humanitário’, usados para justificar agressões anteriores”, constata Socorro. “O objetivo desse agigantamento da máquina de guerra é o mesmo que move o imperialismo, hoje como ontem: saquear os recursos naturais das nações e povos, controlar os mercados e exercer a dominação política”, completa a presidente do CMP.

De acordo com a página eletrônica da campanha “Paz sim, Otan não!”, os protestos têm por objetivo de exigir a retirada de tropas portuguesas de missões da Otan, assim como pautar o fim das bases militares estrangeiras no país, além dos objetivos centrais, de exigir a dissolução da Otan, o desarmamento e o fim das armas nucleares e de destruição em massa. O documento também pauta o respeito ao direito internacional, e à soberania e igualdade dos povos.

A partir dessas avaliações, Socorro Gomes afirma que as forças “amantes da paz” seguirão lutando contra a guerra imperialista e a militarização do mundo, e apresenta as pautas do movimento de luta pela paz: “pela retirada de todas as tropas de ocupação e agressão, nomeadamente do Iraque e do Afeganistão; contra as bases militares; pelo desmantelamento e a extinção da Otan; pelo desarmamento e pela eliminação das armas de destruição em massa”.

Da redação, Luana Bonone, com agências