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Seul reforça tropas e EUA mandam porta-aviões nuclear à Coreia

A Coreia do Sul anunciou, nesta quinta (25), que vai adotar as “medidas necessárias” para “reforçar a segurança nacional” e reagir com mais firmeza no conflito com a Coreia do Norte, após o episódio da troca de tiros entre os dois países. Nessa linha – que descarta o diálogo direto -, os Estados Unidos mandaram um de seus mais poderosos porta-aviões para manobras conjuntas com os sul-coreanos, levando a China a externar preocupação.

O porta-aviões USS George Washington – movido a energia nuclear e preparado para o uso de armas nucleares – partiu de uma base naval ao sul de Tóquio, levando 75 aviões de guerra e 6 mil tripulantes, para unir-se às manobras militares sul-coreanas, de domingo até a quarta-feira seguinte, informaram funcionários americanos em Seul. Eles alegam tratar-se de "exercício de natureza defensiva".

"Embora já tivesse sido planejado bem antes do ataque de artilharia de ontem, que não foi provocado, demonstra a força da aliança dos EUA com a República da Coreia (do Sul) e nosso compromisso com a estabilidade regional por meio da dissuasão" (leia-se da força), diz um comunicado militar.

A Coreia do Sul já comunicou que vai deslocar novas baterias de artilharia na ilha que foi palco da troca de tiros, na terça-feira. O ministro da Defesa, Kim Tae-Young ameaçou: "Temos baterias de artilharia K9 instaladas na ilha de Yeonpyeong e prevemos instalar outras. Também vamos substituir a artilharia de 105 mm por baterias de maior alcance".

“Nunca baixaremos a guarda e estamos nos preparando para a possibilidade de qualquer provocação”, afirmou o presidente sul-coreano, Lee Myung-Bak, numa reunião de emergência sobre segurança. “As regras de empenhamento (que definem como devem atuar as forças militares), que são consideradas como relativamente passivas, vão ser completamente revistas”, indicou a presidência num comunicado.

As tropas no terreno serão reforçadas “de maneira drástica”, incluindo as estacionadas nas cinco ilhas do Mar Amarelo a noroeste da Coreia do Sul, segundo Seul. A presidência vai também anular um plano de redução do contingente de fuzileiros adotado em 2006.

Tudo isso demonstra que, na Coreia do Sul, sempre instigada pelos Estados Unidos, a orientação vai no sentido oposto do diálogo direto na Península Coreana. A imprensa informa hoje que o presidente foi muito criticado pela resposta militar, considerada "tímida", nesse último confronto.

O parlamento local solicitou ao governo medidas contundentes para prevenir "futuras provocações". E o ministro da Defesa da Coreia do Sul, Kim Tae-young, renunciou ao cargo, em consequência das fortes queixas em relação à atuação do país no enfrentamento da terça, que causou a morte de dois civis e dois militares.

Diante do acirramento das tensões, a China está preocupada com as manobras militares conjuntas dos Estados Unidos e Coreia do Sul, afirmou nesta quinta-feira em Pequim um porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores. "A China se opõe a qualquer ação que mine a paz e a estabilidade na península coreana e expressa sua preocupação com estas manobras", declarou o porta-voz, Hong Lei.

Meses atrás, a China já havia manifestado preocupação com atividades navais norte-americanas e sul-coreanas, alertando que elas poderiam afetar a segurança e a estabilidade regionais. Seul e Washington garantiram que seu objetivo era mandar um "alerta" à Coreia do Norte.

Já o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, disse que a China rejeita "qualquer provocação militar". As manobras conjuntas com os Estados Unidos têm o objetivo de pressionar a China a condenar o ataque, responsabilizando apenas a Coreia do Norte, o que o governo chinês já deu sinais de que não pretende fazer.

Ontem mesmo, Philip Crowley, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano disse que "a China tem um papel essencial para levar a Coreia do Norte a uma mudança radical". E completou: "Os chineses devem enviar uma mensagem direta ao regime norte-coreano."

Pequim, contudo, já deu várias declarações em direção oposta. O chanceler do país, Yang Jiechi, inclusive adiou a visita que faria a Seul, alegando problemas na agenda. Ele tinha a chegada prevista para sexta-feira na Coreia do Sul, em particular, para reuniões sobre o bloqueio das negociações multilaterais sobre o programa nuclear norte-coreano.

Em comunicado, a Coreia do Norte afirmou que as manobras sul-coreanas já estavam em andamento quando disparou contra a ilha. O porta-voz da chancelaria chinesa, portanto, não condenou o ataque, mas manifestou "pena e pesar" pelas vítimas. O governo sul-coreano admitiu que havia efetuado disparos em direção ao oeste da ilha de Yeonpyeong. O problema é que há uma disputa entre as duas Coreias sobre as fronteiras no Mar Amarelo.

Após a troca de tiros, Pyongyang acusou o Sul de estar conduzindo a península "à beira da guerra" com "inconsequente provocação militar", e também por adiar o envio de ajuda humanitária aos norte-coreanos. As autoridades do país apontaram os norte-americanos como parte responsável pela troca de tiros e artilharia, afirmou a agência oficial Kcna.

"O mar ocidental [mar amarelo] tornou-se um local de tensão, onde persiste o risco de conflitos entre o norte e o sul só porque os Estados Unidos traçaram unilateralmente uma linha ilegal de demarcação" entre os dois países, atestou um funcionário militar de Pyongyang sobre o final da Guerra da Coreia. "Por isso, os Estados Unidos não podem fugir de sua responsabilidade na recente troca de tiros", completou.

Histórico

No fim de setembro passado, a Coreia do Sul e os Estados Unidos iniciaram um período de cinco dias de manobras militares navais conjuntas, como uma demonstração de força contra a Coreia do Norte e uma tentativa de estabelecer o domínio militar sobre o Nordeste Asiático.Tratava-se do segundo exercício militar conjunto após os realizados no litoral oriental da península, em julho, que foi apresentado como uma "resposta" ao afundamento, em março, da embarcação sul-coreana Cheonan, perto da fronteira marítima entre as duas Coreias.

O episódio ajudou a deteriorar ainda mais relações, já que a Coreia do Sul acusou a vizinha do Norte, que rechaçou a denúncia. Pyongyang pediu para enviar especialistas para investigar o acontecido, mas sua solicitação foi negada.

Com agências