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Pressão por juros altos reforça tendência à valorização do real

Os mercados já dão como favas contadas que o Banco Central deve iniciar já em janeiro uma nova rodada de alta da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 10,75% ao ano. Tal expectativa se reflete no câmbio fortalecendo o real e impedindo uma apreciação mais forte do dólar, que vem subindo no mundo.

A moeda estadunidense recuou 0,58% na terça-feira (30), fechando a R$ 1,714 na venda. Hoje (1), o dólar comercial completa o terceiro pregão seguido de queda e volta a testar preços não registrados desde o começo de setembro.

Aversão ao risco

O agravamento da crise mundial aumentou a chamada “aversão ao risco” dos investidores estrangeiros, reduzindo as aplicações nos países em desenvolvimento e promovendo a alta do dólar. Mas o Brasil, que pratica as maiores taxas reais de juros do mundo, não sentiu plenamente os efeitos disto no câmbio.

No acumulado do mês que acabou terça-feira, o dólar registrava alta de 0,65%, que praticamente desapareceu com a queda verificada neste primeiro dia de dezembro. De todo modo, tal variação é mínima se comparada à do euro, que perdeu 6,9% para o dólar em novembro ou mesmo ao Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, que acumulou alta de 5,2% no mês passado.

Credores favorecidos

O declínio do euro é explicado pelo agravamento da crise da dívida na Europa. Mas a expressiva diferença do comportamento do real diante do dólar em relação a outras moedas, que sofreram maior desvalorização, é causado basicamente pela perspectiva dos juros. Juros mais altos atraem investimentos estrangeiros de curto prazo para a economia nacional, ampliando a oferta de dólar e estimulando a valorização do real.

Economistas ligados ao sistema financeiro julgam que as autoridades econômicas vão elevar novamente a Selic para segurar a inflação, que vem dando sinais de aceleração ao longo dos últimos meses. A alta dos juros favorece os credores da dívida pública e aumenta a transferência de renda do Estado para a oligarquia financeira.

Esoterismo

Os preços servem de pretexto para encobrir os reais interesses que orientam a política monetária do Banco Central (BC). Quem paga o pato é o povo, já que os juros elevados inibem os investimentos e o consumo e agrava o desequilíbrio fiscal, já que o Estado é constrangido a destinar mais recursos ao pagamento dos juros, ampliando o superávit primário e cortando verbas para saúde, educação, funcionalismo e infra-estrutura.

Não há teoria econômica que justifique o fato do Brasil manter as maiores taxas de juros reais do mundo. Todavia, os interesses da oligarquia financeira nos juros altos são indisfarçáveis e ecoam nas declarações de supostos especialistas que atuam no mercado. Os argumentos servidos ao distinto público como verdades absolutas através da mídia empresarial vêm invariavelmente embalados em sutilezas técnicas e esoterismo. Mas não convencem os críticos do monetarismo conservador do BC.

Ciência e interesses

Afinal, não é a ciência que recomenda a alta dos juros e guia as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. É a ganância insaciável da oligarquia financeira. Por esta razão os movimentos sociais, o vice-presidente da República, José Alencar, e os políticos progressistas clamam e lutam pela redução da taxa básica de juros ao nível médio praticado nos países ditos emergentes, que não ultrapassa 2%.

O setor público consolidado (que inclui os governos federal, estaduais e municipais) transfere à oligarquia financeira anualmente mais de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) e é para manter e ampliar esta sangria que o capital financeiro pressiona por ajuste fiscal e cortes nas despesas não financeiras do Estado, dando seguimento à lógica perversa de subtrair recursos da saúde, educação, infraestrutura e outras áreas para honrar o pagamento dos juros. Assim se institucionaliza a agiotagem.

Da redação, Umberto Martins, com agências