PCdoB de 500 mil membros demanda militância estruturada

Terminadas as eleições de 2010, os partidos já começam a planejar a disputa de 2012. Para o PCdoB, a preocupação também vale, mas o foco é casar o êxito eleitoral e o crescimento de suas fileiras com uma militância estável e estruturada desde a base, fator fundamental para fortalecer um partido ideológico. “O PCdoB é um partido transformador que precisa ter força militante”, defende Walter Sorrentino, secretário de Organização. Para ele, ter vida militante “é um problema político incontornável”.

Partido Vivo: Como foi 2010 para a Organização do PCdoB?
Walter Sorrentino: O balanço deste ano é bastante positivo dentro do que havíamos nos proposto a fazer. Procuramos manter o partido unido e bem articulado com o nosso projeto político para 2010, essencialmente eleitoral, e também ligado ao movimento social e à construção partidária. E o projeto organizativo acompanhou esse movimento. A principal vitória foi contribuir para assegurar o terceiro mandato popular na Presidência da República, que mantém abertos os caminhos estratégicos da nossa luta por um programa avançado para o Brasil, de caráter nacional, democrático e popular. O que ficou atrasado, em boa medida, foi a luta por uma nova vida militante mais organizada e estável desde a base. Isso foi difícil ao longo deste ano. Não se trata de uma luta meramente organizativa, mas de uma luta do partido, de toda direção nacional. Além disso, também faltou a implantação a contento de medidas integrais do Departamento de Quadros. Mas, o balanço é positivo e estamos adotando medidas que já estão em curso para o ano de 2011. Estamos muito animados.

Partido Vivo: Você falou sobre o Departamento de Quadros. Que avaliação faz da aplicação da política de quadros aprovada no 12º Congresso do PCdoB (2009)?
WS: O mais positivo é que a questão de quadros levou a um incremento da cultura política que vai se formando no PCdoB. Acho que o partido todo assimilou o significado da política de quadros. Acontece que isso envolve um conjunto de medidas a serem tomadas e que levam certo tempo para surtirem o efeito que queremos. Uma das metas era implantar o Departamento Nacional de Quadros – e acho que ele está bem estruturado. Outro ponto era lançar o Portal da Organização, um instrumento de ligação entre a direção nacional e a política de quadros com todo o partido. O portal é, de certo modo, um instrumento revolucionário na vida do partido porque pela primeira vez permite um contato direto da militância com a direção nacional e um debate direto da militância entre si com relação aos temas da construção partidária.

Também implantamos a Rede Quadros, na qual estamos fazendo um esforço de cadastrar os nossos quadros. E estamos ainda instituindo departamentos estaduais de quadros, que é a questão mais atrasada porque os comitês estaduais, neste ano, tiveram que arcar com as campanhas eleitorais, de maneira que o nacional caminha na frente e os estaduais vêm depois. É como a lei de do desenvolvimento desigual, de Lênin: o desenvolvimento do partido é combinado, mas é muito desigual. Em 2011, o centro de gravidade vai ser justamente a construção dos departamentos estaduais. Do ponto de vista nacional, o que mais atrasou foi a implantação dos estudos estratégicos, um boletim voltado para a formação estratégica dos quadros nacionais com base no Programa Socialista.

Partido Vivo: A direção nacional tem defendido a meta de que o PCdoB atinja 400 mil membros até 2012 e 500 mil até 2013, quando deve acontecer o 13º Congresso. Como conseguir chegar a este nível e garantir uma militância de fato ligada ao partido?
WS: Essa meta foi apreciada na reunião nacional da Organização e levada à Comissão Política com muito entusiasmo. De fato, consideramos que estão abertos os caminhos para termos um partido de 500 mil membros até 2013, mas claro, isso envolve uma série de fatores que não são apenas organizativos. Em primeiro lugar, é preciso se empenhar pelo êxito desse programa de aprofundamento do desenvolvimento brasileiro, participar da luta nacional, popular e democrática em nosso país e isso exige o êxito do governo de Dilma Rousseff. É uma luta política que deve envolver a sociedade, em particular os movimentos sociais; acho que é uma nova fase, não é mera continuidade. Os movimentos sociais precisarão se reposicionar para entender essa nova realidade – e o partido tem papel muito destacado nisso. Envolve também a necessidade de o partido se firmar mais para falar mais amplamente para toda a sociedade, em particular com os trabalhadores, as mulheres e a juventude. Isso envolve a luta de ideias e neste sentido ganha importância a distribuição de um milhão de exemplares do Programa Socialista e, sobretudo, a necessidade de apresentarmos uma perspectiva para a sociedade.

Partido Vivo: E já está em curso a preparação do projeto de 2012…
WS: Sim, estamos preparando desde já um projeto generoso, amplo, que nos permita abrir as portas do partido para novas lideranças e disputar importantes prefeituras. O planejamento ainda está sendo feito, mas acho que devemos priorizar um conjunto de capitais e cidades médias e grandes, totalizando cerca de 300 municípios. Em função de todas essas questões, entra a parte organizativa, um suporte para esse projeto. O problema de um partido para 500 mil membros ou mais é a gente assegurar vida militante, vida associativa dos militantes entre si. Este é o problema essencial porque não somos um mero ajuntamento como o são muitos partidos no Brasil, com correligionários, filiados cartoriais etc. O PCdoB é um partido transformador, revolucionário, que precisa ter força militante e isso exige, essencialmente, a associação dos militantes entre si para que eles atuem na sociedade, se liguem ao povo e representem as ideias do partido. Então, o rumo de um partido de 500 mil membros, do ponto de vista organizativo, é ter mais vida militante desde a base, com uma base estruturada, estável, mais perene. Agora, o caminho para esse rumo é fortalecer as direções intermediárias, sobretudo nos grandes municípios onde vamos disputar as eleições de 2012.

Partido Vivo: E o que deverá ser feito para melhorar a vida militante?
WS: Muitas medidas precisam ser tomadas. Temos que renovar o Curso Básico em Vídeo porque a base precisa se familiarizar com as ideias do Programa Socialista. Devemos, também, intensificar a implantação do Departamento de Quadros para lidar com os quadros intermediários porque o centro de gravidade agora é implantar os departamentos estaduais de quadros a fim de garantir a governança do partido. Em terceiro lugar, pretendemos tomar uma medida inovadora: fazer um encontro com comunistas dos 300 maiores municípios do país onde o partido está implantado visando o projeto eleitoral e social de 2012 e discutir tudo isso diretamente com eles. É inovador porque a direção nacional irá direto à fonte.

Minha ideia é transformar a questão do crescimento do partido e fortalecimento da vida militante de base num problema essencialmente político; claro que é também uma questão ideológica, de convicções e concepções, a consciência do que significa um partido comunista, revolucionário, transformador. Mas além desta dimensão, minha preocupação é mostrar o seguinte: um partido com 500 mil membros e vida militante desde a base é um fator da realidade política, da correlação de força política. É inviável, por exemplo, imaginar que se pode disputar a prefeitura de Porto Alegre sem militância forte. Então, se diz que é preciso reunir condições políticas, ter aliados, força de apoio e condições materiais para a sustentação da candidatura. Mas, porque não se diz que é preciso reunir condições de força militante? Um partido que poderá será hegemônico na condução da batalha por ter um candidato a prefeito com chance de vitória precisa dessa base, se não, vai ser um gigante com pés de barro. Ainda estamos muito longe dessa compreensão. Fazer um encontro nacional desse tipo servirá exatamente para mostrar que ter vida militante desde a base é um problema político incontornável. Se o discurso de vida militante de base for meramente organizativo, não vamos ganhar essa batalha. E repito: este é o nosso objetivo, nosso rumo; o caminho é fortalecer as direções intermediárias. E como secretário nacional, tenho sustentado perante os secretários de todo país que eles devem ser mais críticos e autocríticos com relação à realidade do partido. Mas, tenho muitas perspectivas e acho que, mais uma vez, em termos de orientação, o partido está bem servido. O que temos é que travar uma luta prática, concreta, para fazer o partido compreender isso e se estruturar.

Partido Vivo: As convicções ideológicas têm peso nisso…
WS: Tenho ido para outros países e percebo que este mesmo debate está acontecendo. É um tempo em que a perspectiva ideológica está esmaecida e isso rebate nas convicções militantes. A forma partido hoje é muito imperfeita para refletir os anseios e as preocupações da sociedade e ainda há uma desmoralização muito grande da política; tudo isso rebate no espírito militante. Organizar um partido com as características de um partido comunista é muito difícil. Acho que no caso do Brasil, há certa façanha: conseguimos organizar um partido comunista que está se afirmando e crescendo com independência numa realidade em que existe o PT, um dos maiores partidos do mundo; e nem por isso o PCdoB deixa de crescer. O PCdoB é um partido de militância porque a luta pelo socialismo envolve militância, convicção, projeto político, disciplina, organização, estruturação, sem isso, não vamos adiante. Acho que este rumo político, ideológico e organizativo vai ter que persistir por muitos anos, com ajustes que venham a ser necessários, para produzir efeito e este efeito é ser um partido grande e influente. Se não tivermos pelo menos um milhão de membros, que corresponde a 0,5% do eleitorado, não será possível lutarmos por um programa avançado como o nosso. E para termos um milhão de membros, é preciso persistir por muitos anos. E formar a militância é o jeito de formar os quadros; e por meio de uma política de quadros, governamos o partido. O PCdoB é conduzido por gente que tem um grande espírito militante, gente que lutou nos anos 60,70 e que deu a vida pelo partido. Eu pergunto: daqui a 20 anos, a geração dirigente do partido vai vir de que experiência se não houver vida militante hoje? Por isso, temos que colocar a usina para funcionar; esta é uma batalha importante para o nosso futuro.

De São Paulo,
Priscila Lobregatte